Obra: Cruz e Sousa – Missal.
BÊBADO
Torvo, trêmulo e triste na noite, esse bêbado que eu via constantemente à porta dos cafés e dos teatros, parara em frente do cais deserto, na alta, profunda hora solitária.
Espadaúdo, de grande estatura, ombros fortes como um cossaco, costumava sempre bater a cidade em marchas vertiginosas, na andadura bamba dos ébrios, indo pernoitar depois ali, perto das vagas, amigas eternas de sua nevrose.
Um luar baço, enevoado, de quando em quando brilhava, abria, rasgando as nuvens, num clarão que iluminava amplas fachas do céu de um tom esverdeado, como folhagens tenras e frescas laçadas pela chuva.
O Mar tinha uma estranha solenidade, imóvel nas suas águas, com uma larga refulgência metálica sobre o dorso.
Da paz branca e luminosa da lua caía, na vastidão infinita das ondas, um silêncio impenetrável.
E tudo, em torno, naquela imensidade de céu e mar, era a mudez, a solidão da lua…
SOUZA, Cruz e. Missal. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/y6weu5dp. Acesso em: 24 de abril de 2020.
Esse poema em prosa de Cruz e Sousa adota vários dos padrões da estética simbolista, com EXCEÇÃO de: