PINTURA: “TUDO ERA REVOLUCIONÁRIO, TUDO DIFERENTE.”
Quando Anita Malfatti fez sua conferência na Pinacoteca do Estado sobre “ A chegada da arte moderna ao Brasil”, em 1951, encerrou seu comentário sobre a exposição do Municipal com a frase: “No saguão do Teatro, tudo era revolucionário, tudo diferente”. Naquele momento realmente, para os artistas expositores, “revolucionário sinônimo de “diferente”, pressupondo-se, em rejeitando os velhos padrões aceitos e consagrados da arte acadêmica, que estava implícita uma atitude estética revolucionária. Isso não significa, em absoluto, que as obras presentes na Semana fossem exemplificativas do que se passava em Paris, nos movimentos de vanguarda. Sem qualquer duvida, as indecisões do jovem Di Cavalcanti se opunham obras de plena maturidade de Anita Malfatti e John Graz, aos quais seguia de perto o neoimpressionista Vicente do Rego Monteiro. Quanto a Martins Ribeiro, que, segundo depoimento de Yan de Almeida Prado, veio pessoalmente a São Paulo para a Semana, não nos foi possível acesso a quaisquer trabalhos seus presentes na mostra. No catalogo estão registrados quatro trabalhos de sua autoria. Segundo Di Cavalcanti, “Martins Ribeiro fazia uns retratos, desenhos de cabeça, de imaginação ”.
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A precursora do movimento abre, no catalogo, a seção de pintura, com a maior representação individual da exposição, evidente homenagem e reconhecimento por sua presença catalisadora: “Na pintura, aparece meu nome, Anita Malfatti, com doze telas a óleo e e oito pecas entre gravuras e desenhos, alguns deles ´ coloridos ”. Algumas pinturas eram conhecidas em São Paulo ˜ pois tinham sido exibidas em sua controvertida exposição de 1917 na rua Libero Badaro (como A estudante russa, O homem amarelo, O japonês), ao passo que outros trabalhos já indicavam, pelo seu simples titulo, uma alteração de caminho, que se confirmaria a partir de 1923 com sua viagem a Paris (como Impressão divisionista ˜ ). A falta de firmeza de Anita, já sobejamente comentada, e seu consequente recuo após a crítica de Monteiro Lobato, se refletiria em sua necessidade de apoio e ambiente em fatos aparentemente irrelevantes: por ter frequentado o ateliê de Pedro Alexandrino assim como o de Elpons, após seu retorno dos Estados Unidos, ambos de tendência oposta ao seu vibrante expressionismo (um, acadêmico, especialista em ˆ metais, discípulo de Vollon, e o austríaco, com telas de espessa matéria). Ao mesmo tempo, a escolha do ateliê de Maurice Denis para trabalhar em Paris, quando de seu pensionato em 1923, seria também indicativa de indecisões quanto ao seu próprio trabalho: não ia Anita então desenvolver as suas experiências, mas buscar outras definições... Infelizmente, sua arte voltou bastante ˜ debilitada como expressão dessa longa estada na Europa, tendo perdido todo o vigor que a caracterizara em 1917.
Embora não conheçamos grande parte dos trabalhos que Anita apresentou na Semana, não nos passa desapercebida a temática brasileira (como Baianas e Moemas) que passa a integrar seu envio, indicação evidente da preocupação nacional.
(Texto de Aracy A. Amaral, disponível em Artes plásticas na Semana de 22, Editora 34. — Adaptado.)
Pela leitura do texto, é correta a interpretação que deduz que: