Questão
Fundação Getúlio Vargas - FGV
2024
Fase Única
PIOLHO-RUI140aa72cf61
UM PIOLHO DE RUI BARBOSA

Certo piolho de Rui Barbosa
confiou a um memorialista
que se nascer pernambucano
é nascer ninguém, é sem chispa.

E explicou: a paisagem pouca
de Pernambuco não podia
parir vulcões de Ruibarbosas,
Castroalves (modesto, ele se excluía).

O piolho, decerto, ouviu Rui
(Castroalves não viu, talvez leu-o,
em casa, mas com o dó-de-peito
com que o leria de um coreto);

mas quem ouviu quem não ouviu:
veio de tais piolhos grotescos
o único estilo nacional:
ler como discurso um soneto;

não poder escrever sem fala;
e falar sem encher o peito,
como se o rádio não o levasse
às amazônias de seu berço.

Ora, Rui falava apagado,
nas horizontais que podia:

são os piolhos que em seu piano
põem vulcões na melodia.

João Cabral de Melo Neto, Museu de tudo e depois.


No poema, a crítica dirigida ao dito “piolho de Rui Barbosa” desdobra-se, ainda, na crítica ao que o poeta considera ser “o único estilo nacional”, que se caracterizaria por sua
A
paixão pela forma do soneto.
B
forte propensão para a oratória.
C
amusia, isto é, inaptidão para a música e as demais artes.
D
inclinação a ler e escrever em silêncio.
E
mania pianística.