Questão
Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - FCM-MG
2017
Fase Única
PROPOSTA-REDACA-Cada8227ce86e93
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

Cada texto deverá conter o mínimo de 05 linhas e o máximo de 10 linhas.

Leia, a seguir, trechos da entrevista com o médico José Raimundo da Silva Lippi, concedida ao Jornal do CRMMG. 

SAÚDE MENTAL DO MÉDICO ENFRENTA GRAVE CRISE

O Curso de Medicina é um dos mais procurados em todos os vestibulares do País? Por que mesmo assim a saúde mental dos médicos está posta em xeque?

É verdade que a Medicina é o curso que continua atraindo mais jovens, e NÃO foi posta em xeque a saúde mental dos médicos, como veremos. Existem muitas razões para a escolha e o adoecer do estudante e do médico. Esta profissão continua proporcionando muitas gratificações psicológicas. [...] Estas gratificações são possíveis quando o médico é vocacionado e suas atividades são exercidas 
com dignidade, pois ele é um ser humano como outro qualquer. De longa data, a busca pela profissão é uma constante. No final do século 19, início do século 20, quando as famílias tinham muitos filhos, uma de suas fantasias era ter um filho médico, outro advogado e um filho que se dedicasse à vida religiosa. A Medicina sempre foi a mais disputada e os melhores alunos, vocacionados, buscavam a nobre missão de salvar vidas. Nos anos 50 do século passado, a profissão do médico era bastante valorizada no Brasil. Era importante ter relações de amizade com estes profissionais, e as famílias tinham como excelente opção de encaminhar bem uma filha na vida, fazê-la casar-se com um deles. O médico era uma opção de casamento bastante valorizada. Casar-se com um deles era uma garantia de saúde, de ter um cônjuge intelectualizado, boas posses financeiras e grande projeção social na comunidade. Essa representação social, e os próprios fatos, foram sofrendo modificações até o final dos anos 90. O início do século 21 nos apresenta uma imagem bem diferente e distante daquela época romântica da medicina.

Como se explicam as mudanças na prática médica e no Imaginário Social?

O desenvolvimento de novos recursos diagnósticos e terapêuticos, a influência da indústria farmacêutica e de equipamentos e a crescente presença das empresas compradoras de serviços médicos são fatores que têm produzido profundas transformações na nossa nobre profissão, modificando a estrutura do exercício profissional. As repercussões são enormes: perda da autonomia, na remuneração, no estilo de vida, na saúde do médico, no comportamento ético do médico e nas relações entre médicos e pacientes.

Mesmo assim, a carreira continua nobre, complexa, e exige um grande esforço para a conquista de uma vaga. [...] Toda esta transformação não é discutida e os médicos usam mecanismos de defesa psíquicos, entre eles, o processo de NEGAÇÃO para conviver com esta realidade. [...] O “PACTO DE SILÊNCIO” existente entre ele e seu paciente, com sua família, com seus amigos e com a instituição 
onde trabalha é um processo negativo nas relações humanas e tem sérias consequências.   

Qual o significado do Pacto de Silêncio?

A nova imagem do médico e da médica os retrata como pessoas com cinco ou seis empregos diferentes, dando plantões semanais, assoberbados (as) de trabalho, sem tempo para a família e para si mesmo (a). Assim, casar-se com um médico (a), ou ser seu filho (a), pode significar viver sem a sua presença, em geral. [...] É significativo o número de divórcios entre casais de médicos. A fantasia de ter um consultório particular em área nobre da cidade ainda é possível para alguns colegas de notório saber. Mas, cada dia, é mais distante e é para poucos profissionais. O mais frequente é o médico trabalhar para convênios e completar o baixo rendimento com plantões extensos. [...] E padecem de estigmas e expectativas sociais. Se, por um lado, podem ser objeto de adoração e reconhecimento por aqueles que gozam imediatamente dos benefícios de suas ações, por outro lado, são cobrados a nunca errar e sempre fazer viver mais, ou ainda, não deixar ninguém morrer, como se estivesse ao alcance deles o próprio dom da vida. A nossa classe reconhece que a maioria dos médicos são péssimos pacientes e que só procuram ajuda no último caso. [...] A sensação de onipotência diante dos pacientes e a vivência de alguns fracassos, muitas vezes, em locais sem nenhuma estrutura para exercer o seu mister, levam médicos a desenvolverem quadros 
psiquiátricos. [...] Muitos aspirantes à carreira médica durante o curso e a vida profissional vivem em crescente TENSÃO pelo temor de falhar. Este fenômeno revela falta de desenvolvimento emocional e pode-se afirmar que, quanto mais imaturos, mais sofrida será a caminhada desses colegas. Para tentar “curar” a tensão que isso provoca, muitos se refugiam também na morfina e nos remédios de 
tarja preta, sem procurar tratamento. Ao mesmo tempo, as Instituições responsáveis nada fazem para minimizar o problema!

(http://www.crmmg.org.br/interna.php?n1=13&n2=28&n3=200&pagina=209&noticia=5707 Acessado em: 15/06/2017. Adaptado.)

Diante da nova realidade deste século e dos problemas que envolvem a carreira e a saúde dos estudantes de medicina e dos médicos, REDIJA um texto argumentativo, posicionando-se em relação à sua escolha dessa profissão, apresentando argumentos e justificativas consistentes que a endossam.