( PROPOSTA DE REDAÇÃO )

É tendência comum achar que o correto é aquilo que está previsto em lei. A partir disso, as pessoas costumam associar o que é legal ao que é moral. A esse respeito, leia a coletânea a seguir.
Texto 1
Ao introduzir a ética em sua obra filosófica, Kant fez surgir uma nova versão da antiga Regra de Ouro, aquela regra ditada pelos grandes mestres da humanidade: "Faça para os outros o que você gostaria que fizessem a você”. Kant ampliou a regra para algo assim: "Faça para os outros o que gostaria que todos fizessem para todos." Com isso, Kant queria evitar o problema das diferentes ideias que cada pessoa tem sobre o que gostaria que se fizesse a elas. Queria enfrentar o "relativismo moral", essa moralidade circunstancial tão generalizada hoje em dia: a noção de que o que é certo depende da situação ou do contexto. Ele não concordava com a doutrina do utilitarismo, ou seja, a de que "os fins justificam os meios". Como podemos nortear nossas ações com base nos resultados, se até mesmo os planos mais bem traçados podem ser desvirtuados? O resultado do que fazemos, muitas vezes, não é absolutamente o que pretendíamos, portanto é um desvirtuamento moral basear nossos julgamentos nos resultados. Então, como agir com segurança? Segundo Kant, se quisermos ser objetivos, temos que agir, não segundo os fins, mas segundo princípios universais. Princípios universais e não regras circunstanciais.
O IMPERATIVO categórico. Disponível em: <http://www.oocities.org/~esabio/transgenicos/imperativo_categorico.htm>. Acesso em: 10 ago. 2016.
Texto 2
É difícil traduzir a expressão inglesa self-righteousness. Expressa a profunda convicção de uma pessoa de que domina os outros da altura da sua elevada postura ética. Em geral leva a comportamentos estreitamente moralistas e intolerantes. E frequentemente vemos atos violentos justificados com fins altamente morais. Não há barbárie que não se proteja com argumentos de elevada nobreza. Sentimento que permite soltar as rédeas do ódio, aquele sentimento agradável de odiar com boas razões. As invasões de países se dão em geral para proteger as populações indefesas, as ditaduras para salvar a democracia. Há as leis, naturalmente, mas estas definem o que é legal, e frequentemente as leis foram elaboradas por quem as manipula, tornando legal o que é moralmente indefensável. Os paraísos fiscais permitem às corporações pagar poucos impostos, o que não é viável para a pequena empresa. Não é ilegal declarar a sua sede no paraíso fiscal, e evitar assim de pagar impostos no país onde a empresa funciona, enquanto os seus empregados pagam os impostos normalmente, inclusive porque são deduzidos na folha de pagamento. Mas basta ser legal para ser moral?
DOWBOR, Ladislau. Os pensamentos de Haidt sobre ser ético, legal e moral. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/os-pensamentos-dehaidt-sobre-ser-etico-legal-e-moral-por-ladislau-dowbor>. Acesso em: 10 ago. 2016. (Adaptado).
Texto 3
Um catador de recicláveis de Iporã, no noroeste do Paraná, encontrou R$ 50 mil no meio de um caderno jogado na rua. Ao descobrir o dinheiro, a primeira coisa que Antônio Garcia do Prado fez foi ir até uma emissora de rádio local para divulgar o achado e tentar encontrar o dono. Prado conta que só foi ver o dinheiro dentro do caderno quando chegou em casa à noite. “Do jeito que eu achei ele [o caderno], eu só juntei, coloquei dentro do carrinho e fui embora”. Embora receba apenas cerca de R$ 20 por dia, Prado disse que jamais pensou em ficar com o dinheiro que encontrou. O empresário contou que esqueceu o caderno com o dinheiro em cima do carro e quando saiu com o veículo, o perdeu. Mais do que ter de volta o valor perdido, a surpresa do empresário foi mesmo encontrar alguém tão honesto quanto Prado.
CATADOR de recicláveis encontra R$ 50 mil e devolve ao dono no Paraná. Disponível em <http://g1.globo.com/pr/nortenoroeste/noticia/2015/05/catador-de-reciclaveis-encontra-r-50-mil-e-devolve-ao dono-no-parana.html>. Acesso em: 10 ago. 2016. (Adaptado).
Texto 4

Disponível em: <http://karaminholas.zip.net/arch2013-04-01_2013-04-30.html>. Acesso em: 10 ago. 2016.
Texto 5
Um homem que se dizia honrado chega a Rodes, vindo de Alexandria, com um importante carregamento de trigo. O preço do grão está muito alto porque Rodes estava passando por uma situação crítica de fome e falta de alimentos. O vendedor tem informações que muitos navios deixaram Alexandria em direção a Rodes, posto que no referido porto chegaria uma grande quantidade de trigo ao mesmo tempo. O vendedor mantém silêncio quanto a esta informação para os compradores de Rodes, ou seja, omite tal informação para obter um melhor preço de venda. Aqui em primeiro lugar, é necessário avaliar eticamente esta conduta silenciosa. Diógenes de Babilônia considera moralmente justificado, fixando-se na habilidade do vendedor, posto que ele obedece ao instinto de conservação que é nato ao ser humano. Inobstante a isto, seu discípulo, Antipatro de Tarso, sustenta a questão da solidariedade humana, que deve superar este egoísmo para ser solidário com o próximo. Trata-se de cumprir a ação moral e eticamente correta, e, sobretudo, incorpora já uma alteração da justiça material.
RIBEIRO, Josiel. Ética nos negócios - um dever legal ou moral. Disponível em: <http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/entre-textos-legaisque-protegem-a-moral-e-juizos-ou-julgamentos-morais/>. Acesso em: 09 ago. 2016. (Adaptado).
Texto 6
Diante da péssima repercussão do caso do auxílio moradia de R$ 710 reais por mês para promotores e procuradores, com direito a pagamento retroativo que vai custar mais de R$ 13 milhões para os cofres públicos, o Ministério Público Estadual divulgou nota oficial justificando a mordomia. A nota cita elementos legais que justificariam o pagamento. Não dá uma palavra, contudo, sobre a moralidade do benefício e, pior ainda, sobre o pagamento retroativo, que vai render até R$ 40 mil reais em dinheiro aos membros da instituição. A nota também diz que o portal de transparência do MP Estadual “não se presta ao detalhamento de decisões administrativas do órgão”. Em manchete de primeira página, o jornal O Popular denunciou o reajuste do auxílio moradia dos membros do Ministério Público Estadual e o pagamento de verbas retroativas. Segundo a nota do MP, o pagamento é legal.
MP ESTADUAL divulga nota oficial dizendo que o auxílio alimentação é legal. Pode ser, mas que é imoral, é. Disponível em: <http://goias24horas.com.br/25952-mp-estadual-divulga-nota-oficial-dizendo-que-o-auxilio-alimentacao-e-legal-pode-ser-mas-que-e-imoral-e/>. Acesso em: 10 ago. 2016.
Afinal, qual é o melhor caminho: o legal ou o moral?
CARTA ARGUMENTATIVA
A carta de leitor é um gênero textual, comumente argumentativo, que circula em jornais e revistas. Seu objetivo é emitir um parecer de leitor sobre matérias e opiniões diversas publicadas nesses meios de comunicação.
Considerando a definição desse gênero textual, a leitura da coletânea e, ainda, suas experiências pessoais, escreva uma carta de leitor a um jornal ou revista de circulação nacional, emitindo seu ponto de vista − contrário, favorável ou outro que transcenda esses posicionamentos − a respeito da situação exposta no Texto 2 da coletânea.
OBSERVAÇÃO: Ao concluir sua carta, NÃO a assine; subscreva-a com a expressão UM (A) LEITOR (A).