Tema muito discutido na atualidade é a prática constante, entre crianças e adolescentes, de agredir seus pares, de forma verbal e até fisicamente. Por ser um assunto de interesse social, chama a atenção a polêmica sobre a interferência ou não de adultos nessas situações, tal como podemos verificar nos textos a seguir.
COLETÂNEA
TEXTO 1
Era coisa de criança. Colar chiclete na cadeira dos outros, fazer cuecão no nerd da turma, rir do cabelo cortado do colega. Mas agora brincadeiras como essas ganharam um nome sério: bullying. E passaram a ser resolvidas por adultos: pais, mestres e até pela polícia. Uma nova linha de pesquisadores, no entanto, vem defendendo que o bullying não é necessariamente um problema para gente grande. Segundo eles, as picuinhas entre crianças e adolescentes devem ser resolvidas pelos próprios envolvidos, sem adultos como juízes. Esses especialistas afirmam que disputar é como um rito pelo qual passamos no início da vida para saber enfrentar as encrencas maiores do futuro. Afinal, fazemos isso desde os tempos mais remotos. “Em boa parte da história da humanidade a agressão foi um traço adaptativo”, escreveu Mônica J. Harris, professora de psicologia da Universidade de Kentucky. No passado, os homens disputavam comida para garantir a sobrevivência. O conflito definia quem ia perpetuar a espécie e quem ficaria para trás. “Aqueles humanos mais agressivos em termos de buscar as coisas e proteger os seus recursos e parentes tinham mais chances de sobreviver e reproduzir”, afirma Mônica. Enquanto os homens teriam aprendido a usar a força física, as mulheres desenvolveram habilidades mais sutis, como agressões verbais – fofocas e rumores. Se antes essas táticas garantiam a sobrevivência, hoje nos ajudam no convívio social.
ROMANI, Bruno. O problema do mundo sem bullying. SuperInteressante. São Paulo, ago. 2011. p. 72. (Adaptado).
TEXTO 2
Quando pensamos no “bullying”, logo consideramos os atos violentos e agressivos, mas é raro que os consideremos como atos de incivilidade. Outro dia, em uma farmácia repleta de clientes, só dois caixas funcionavam, o que causou uma fila imensa. Em dado momento, um terceiro caixa abriu e o atendente chamou o próximo cliente. Várias pessoas que estavam no fim da fila correram para ser atendidas. Apenas uma jovem mulher reagiu e disse que estavam todos aguardando a sua vez. Ela se tornou alvo de ironias e ainda ouviu um homem dizer que “a vida é dos mais espertos”. Conclusão: ser um cidadão responsável e respeitoso promove desvantagens. É esse clima que, de modo geral, reina entre crianças e jovens: o de que ser um bom garoto ou aluno correto não é um bem em si. Muitos criam estratégias para evitar serem vistos como frágeis e se tornarem alvo de zombarias. Tais estratégias podem se transformar em atos de incivilidade. A convivência promove conflitos variados e é preciso saber negociá-los com estratégias respeitosas e civilizadas. Muitos pais ensinam a negociar conflitos de modo pacífico e polido, mas muitos não o fazem. É preciso estar atento a esse detalhe. Aliás, é nos detalhes que a educação acontece. Esse ensinamento é também trabalho da escola. Não se pode abandonar crianças e jovens à própria sorte: é preciso a presença educativa e reguladora dos adultos.
SAYÃO, Rosely. “Bullying” e incivilidade. Folha de S. Paulo. São Paulo, 6 mar. 2008. p. 12. Equilíbrio. (Adaptado).
TEXTO 3
O fogo queima quem o toca; mas fornece luz e calor, serve a uma infinidades de usos para aqueles que sabem utilizá-lo. Examina igualmente teu inimigo: esta criatura, de um outro lado, nociva e intratável, não dá, de alguma maneira, ensejo de ser apanhada? Não pode prestar-se a algum uso particular? Não é útil? Muitas coisas são igualmente penosas, detestáveis, hostis, quando se encontram no nosso caminho. Entretanto, nota-se que certos homens converteram sua doença numa doce inação física. Muitos outros se fortificaram e se tornaram resistentes sobre o império das provocações que tiveram que sofrer. As partes de nossa vida que são doentias, fracas, afetadas atraem nosso inimigo; de fato, os que nos demonstram aversão investem contra elas a passos largos, tomam-nas de assalto e despedaçam-na. É isso então uma coisa efetivamente útil? Sim, sem dúvida nenhuma. E isso obriga a viver com cautela, a prestar atenção em si, a nada fazer nem a nada dizer estorvada e irrefletidamente, mas a manter sua vida resguardada de uma eventual crítica, como se tratasse de observar um regime maléfico.
PLUTARCO. Como tirar proveito de seus inimigos. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 5. (Adaptado).
TEXTO 4
Quase uma década após sofrer agressões que culminaram numa grave ferida na cabeça, provocada por um lápis afiado, Julia Affonso acaba de se tornar um caso raro no país. Há duas semanas, a Justiça do Rio de Janeiro condenou o colégio católico onde ela cursou as primeiras séries do ensino fundamental a lhe pagar uma indenização no valor de 35 000 reais. A razão: negligência no enfretamento do bullying que ela sofreu durante um ano, sem trégua. Sua mãe, a relações públicas Ellen Alvarenga, implorava às freiras que tomassem providências, mas ouvia: “É tudo brincadeira de criança”. Júlia tinha 7 anos quando isso aconteceu e precisou de ajuda psicológica. Hoje, aos 15 anos, ela diz: “Sempre que vejo alguém praticando bullying, defendo a vítima. Só quem passou por essa situação sabe quanto é difícil conviver com memórias dolorosas”.
BETTI, Renata; LIMA, Roberta de Abreu. Bullying, dor, solidão e medo. Veja. São Paulo, 20 abr. 2011. p. 89. (Adaptado).
TEXTO 5
As provocações no recreio eram frequentes, oriundas do enfado; irritadiços todos como feridas; os inspetores a cada passo precisavam intervir em conflitos; as importunações andavam em busca das suscetibilidades; as suscetibilidades a procurar a sarna das importunações. Viam de joelhos o Franco, puxavam-lhe os cabelos. Viam o Rômulo passar, lançavam-lhe o apelido: mestre cook!
POMPÉIA, Raul. O ateneu. São Paulo: Scipione, 1995. p. 79. (Trecho adaptado).
TEXTO 6
Para compreendermos a natureza dos nossos instintos agressivos, temos de encará-los segundo a nossa origem animal. A nossa espécie está tão preocupada com a violência e com a destruição em massa que somos capazes de perder objetividade ao discutir esse assunto. Os animais lutam entre si por uma das duas seguintes e boas razões: ou para estabelecer domínio numa hierarquia social ou para estabelecer os respectivos direitos territoriais em determinado terreno. Algumas espécies são puramente hierárquicas, sem territórios fixos. Outras são puramente territoriais sem problemas hierárquicos, outras mantêm hierarquias nos seus territórios e têm de encarar ambas as formas de agressão. Nós pertencemos ao último grupo: temos os dois problemas. Como primatas que somos, já tínhamos o sistema hierárquico às costas. Este é, de fato, o modo de vida básico entre os primatas. Podem surgir conflitos entre grupos, mas sempre francamente organizados, esporádicos e relativamente pouco importantes para a vida do macaco comum. Hostilidades frequentes têm, pelo contrário, significado vital no dia a dia – e mesmo no hora a hora – dos macacos. Existe uma rígida hierarquia socialmente estabelecida entre quase todas as espécies de macacos e símios, com um macho dominante encarregado do grupo, e os outros alinhados sob ele, segundo graus de subordinação variados.
MORRIS, Desmond. O macaco nu: um estudo do animal humano. São Paulo: Record, 1996. p. 109-110. (Adaptado).
TEXTO 7
Segundo o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), quando não há intervenções efetivas contra o bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de bullying, quando percebem que o comportamento agressivo não traz nenhuma consequência a quem o pratica, poderão achar por bem adotá-lo. Nesse sentido, faz-se necessária a interferência do professor.
SILVA, Ana Patrícia da; FREITAS, José Guilherme de Oliveira; FONSECA, Michele Pereira de Souza da. Bullying na aulas de Educação Física: a homossexualidade em foco. Trabalho apresentado no Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades: Educação, Saúde, Movimentos Sociais, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Salvador, 20-31 jul. 2009, p. 7.
TEXTO 8
As consequências, a longo prazo, do desentendimento entre crianças e jovens tornam claro que a prevenção antecipada é importante. A difícil tarefa de intervir no momento certo recai sobre professores e pais, que podem não estar preparados para agir de forma apropriada. Por exemplo, estudantes noruegueses reclamam que os adultos nem mesmo reconhecem a situação em sala de aula. Questionados, os professores admitiam se sentir incapazes de entender o complexo relacionamento dos estudantes. Nesse sentido, o assunto “abuso coletivo” certamente cabe no currículo escolar, talvez em combinação com discussões sobre violência ou projetos especiais. Uma outra forma de melhorar como as crianças e adolescentes se comportam socialmente é apontar alunos mediadores, que possam ajudar a resolver conflitos em sala de aula. Iniciativas como essas promovem coesão dentro do grupo e fazem com que os agressores encontrem dificuldade para corroer a comunidade escolar, isolando e acossando seus membros mais fracos.
SCHÄFER, Mechthild. Abaixo os valentões. Viver Mente&Cérebro. São Paulo, set. 2005. p. 83. (Adaptado).
Com base na leitura da coletânea, escolha UMA das três propostas de construção textual (dissertação, narração ou carta argumentativa) dadas a seguir e discuta a seguinte questão-tema:
DISSERTAÇÃO
O artigo de opinião é um gênero textual no qual são apresentados argumentos para convencer os leitores a respeito da validade de um ponto de vista sobre determinado assunto. De posse dessa orientação, amparando-se na leitura dos textos da coletânea e, ainda, em sua visão de mundo, redija um artigo de opinião. Para tanto, imagine-se na função de um articulista, de uma revista ou de um jornal de circulação local, que esteja abordando a questão-tema desta prova.
NARRAÇÃO
O conto é um gênero literário breve, com núcleo dramático único, centrado em um episódio da vida de um ou mais personagens.
Tendo em vista essa definição e a leitura dos textos da coletânea, crie um conto cujo enredo baseie-se na seguinte situação:
Em um determinado colégio, durante o intervalo das aulas, ocorrem com frequência brigas entre alunos. Certo dia, o responsável pela coordenação é chamado para interferir em uma desavença que já estava tomando proporções violentas. Ele hesita: interferir, usando seu poder de autoridade, ou encaminhar a solução do conflito, passando aos próprios alunos a responsabilidade de resolvê-lo?
A partir da situação dada, escreva sua história fazendo opção por um dos modos de interferência do responsável pela coordenação do colégio. Sua narração poderá ser em 1ª ou 3ª pessoa. Não se esqueça de fazer uso do discurso direto.
CARTA ARGUMENTATIVA
A carta de leitor é um gênero textual comumente argumentativo que circula em jornais e revistas e tem como objetivo emitir um parecer de leitor sobre matérias e opiniões diversas publicadas nesses meios de comunicação.
Considerando a definição desse gênero textual, a leitura dos textos da coletânea e, ainda, suas experiências pessoais, imagine-se necessariamente, na condição de um pai ou de um professor e escreva uma carta de leitor a um dos veículos de comunicação (jornal ou revista) citados na coletânea, com a finalidade de emitir seu ponto de vista contrário, favorável ou outro que transcenda esses posicionamentos a respeito da opinião exposta no referido jornal ou revista, acerca da interferência de adultos nos desentendimentos entre crianças e adolescentes.
A prova de Redação do Processo Seletivo 2012/1, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), apresenta um tema muito discutido na atualidade que é a prática constante, entre crianças e adolescentes, de agredir seus pares, de forma verbal e até fisicamente. Nesse sentido, a Banca sugere ao candidato que se posicione diante do seguinte questionamento em forma de
tema:
Seguindo a tendência dos últimos processos seletivos da UEG, a prova apresenta três propostas de construção textual: dissertação, narração e carta argumentativa. Para ajudar o candidato na elaboração de sua redação, a prova traz uma coletânea de textos contendo opiniões diversas sobre o tema, o que visa fornecer elementos para a sua reflexão sobre o assunto abordado. Espera-se do candidato um tratamento crítico das informações e ideias expressas na coletânea, articulado com suas experiências pessoais. Espera-se também que ele demonstre capacidade de seleção e aproveitamento dos fragmentos textuais que lhe servirão de apoio para o desenvolvimento da sua composição discursiva. Não se trata, assim, de uma simples cópia ou de um comentário sobre a coletânea. Além disso, espera-se que a redação do candidato esteja adequada à norma padrão da língua portuguesa e, quando necessário, a outras variantes linguísticas. Por fim, espera-se do candidato habilidade no uso de mecanismos de coesão e coerência textuais, ou seja, domínio na articulação das ideias do texto de forma lógica e clara, a partir do uso de conectores e operadores argumentativos, tais como conjunções, pronomes relativos, tempos e modos verbais, entre outros.
Seguem abaixo expectativas mais específicas para o desenvolvimento do tema em cada uma das propostas apresentadas na prova:
DISSERTAÇÃO
A Banca espera que o candidato imagine-se na posição de um articulista de uma revista ou de um jornal local que esteja abordando a questão-tema da prova e redija um texto argumentativo do gênero artigo de opinião, no qual responda ao questionamento sugerido pelo tema. Especificamente, espera-se que o candidato convença os leitores de seu artigo sobre a sua opinião acerca da interferência ou não de pais e educadores nos desentendimentos entre crianças e adolescentes.