Questão
Centro Universitário São Camilo
2018
Fase Única
PROPOSTA-REDACA-Texto52525938eb3
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

Texto 1



A tortura e a tatuagem forçada de “eu sou ladrão e vacilão” na testa de um rapaz de 17 anos, em São Bernardo do Campo (SP), acusado de roubo de uma bicicleta, é mais um caso de tentativa de fazer justiça com as próprias mãos. Uma atitude que remete ao que acontecia na Idade Média e também na Idade Moderna, quando a população ainda tentava sair do embrutecimento e muitos ignoravam regras básicas de justiça, como a necessidade de aplicar uma pena justa, nem maior nem menor, para determinados crimes.

Já se passaram séculos desde que o poder público deixou de cortar as mãos de uma pessoa que tentou roubar um pedaço de pão, mas a sensibilidade de algumas pessoas parece regredir à barbárie. Nesse caso, o desconhecimento dos torturadores sobre a injustiça que estavam fazendo era tão grande que o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 27 anos, e o vizinho Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, não se contentaram em apenas marcar o rosto do rapaz, mas quiseram ostentar o fato com vídeo compartilhado nas mídias sociais.

Não se sabe se de fato o adolescente roubou ou não a bicicleta, como é acusado. O certo é que, como exige a dignidade de qualquer pessoa no mundo, o rapaz tinha direito a um julgamento justo e, caso confirmado o delito, a receber uma pena proporcional ao crime. A violência cometida por Maycon e Ronildo, com consequências não apenas físicas, mas morais – pode-se apagar os traços vincados na pele, mas não a dor na alma – extrapola em muito o razoável nesse caso. E as imagens veiculadas, com sarcasmo e desrespeito, só vêm piorar o ato.

Agora, Maycon e Ronildo precisam pagar pela consequência dos seus atos; do contrário, continuaremos a ver a sociedade degringolar até voltarmos à selva. 

(Denise Drechsel. “‘Ladrão’ tatuado na testa? Por que não fazer justiça com as próprias mãos”. www.gazetadopovo.com.br, 11.06.2017. Adaptado.)

Texto 2

Não havia me manifestado até agora sobre o ladrão que acabou se dando mal ao roubar o cara errado, um tatuador, que escreveu em sua testa uma mensagem que vai marcá-lo para sempre como “ladrão e vacilão”. Assim que soube do caso, achei errado. Porém, eu consigo compreender o que levou o tatuador a fazer isso e aos aplausos de muita gente, inclusive de amigos meus. É um fenômeno cada vez mais preocupante, de total saturação com a bandidagem, de perda completa de confiança em nossas instituições.

Os brasileiros decentes não aguentam mais, estão cansados, sem esperanças, e não conseguem mais olhar para o guardião da lei como um aliado, menos ainda sentir pena de bandido. Essa sensação de anarquia, de impunidade, é um problema grave, um convite ao crime e aos atos de vingança pessoal, de libertação. Daí o bandido amarrado no poste, o marginal linchado ou o ladrãozinho com a testa tatuada. E os aplausos. 

(Rodrigo Constantino. “Tatuar ‘bandido’ na testa é errado e não pode ser aplaudido”. www.gazetadopovo.com.br, 12.06.2017. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

A justiça com as próprias mãos e a noção de barbárie em um país marcado pela impunidade