(PROPOSTA DE REDAÇÃO)
Texto 1
As religiões de matrizes africanas são parte da diversidade religiosa do Brasil. Entre algumas dessas manifestações, que têm como referência a cultura trazida pelos africanos durante mais de 300 anos de escravidão, estão catimbó, cabula e principalmente umbanda e candomblé, que se propagaram com mais intensidade pelo Brasil.
Apesar da influência africana desde o século XVI, o candomblé e a umbanda se consolidaram na sociedade brasileira nos últimos 200 anos, principalmente no início do século XX, quando o público pôde ter conhecimento das práticas a partir, por exemplo, das pesquisas de Pierre Verger, etnólogo francês e babalawo (sacerdote na religião iorubá), que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da diáspora africana e do comércio de escravos.
(ONUBR. “A intolerância contra as religiões de matrizes africanas no Brasil”. https://nacoesunidas.org, 17.08.2015. Adaptado.)
Texto 2
Em 2016, foram registradas 776 ocorrências de intolerância religiosa em todo país, um aumento de 36,5% em relação ao ano anterior. De 2014 para 2015, a situação foi ainda mais dramática. Os relatos passaram de 149 para 556, um crescimento de 273,1%. Na maioria das vezes (25,9%), os agressores são identificados como brancos e as situações de intolerância ocorrem predominantemente dentro das próprias casas (33,9%) e na rua (14,33%). O perfil das vítimas aponta que os praticantes de umbanda e candomblé, somados aos que se identificam como adeptos de religiões de matriz africana diversas, são os alvos preferenciais dessa intolerância. Juntos, respondem por quase 25% das denúncias.
Isso em um país no qual essas religiões possuem algo em torno de 3,1 milhões de adeptos (1,6% da população), de acordo com o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010. Os cerca de 123 milhões de católicos (64,6% dos brasileiros) relataram 1,8% dos casos de intolerância religiosa. Os protestantes, que somam 42,3 milhões de fiéis (22,2% da população), respondem por aproximadamente 3,8% dos registros de agressão.
Uma correta análise sobre essa alarmante realidade não deve se restringir ao simples avanço das forças conservadoras e obscurantistas em todo o mundo. No caso do Brasil passa, necessariamente, pelo resgate de um passado colonial e escravagista que permeia, até os dias de hoje, a nossa cultura.
(Danilo Molina. “A intolerância religiosa não vai calar os nossos tambores”. https:// cartacapital.com, 09.10.2017. Adaptado.)
Texto 3
Ainda que na Constituição conste que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos”, casos de ataques contra religiões não cristãs seguem crescendo no Brasil. Em 2016, mais de 70% dos 1014 casos documentados pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa eram contra fiéis de religiões de matriz africana como a umbanda e o candomblé. “É importante destacar que essa violência não é de hoje. Ela é parte do sistema racista que estrutura a nossa sociedade. Não se trata apenas de intolerância, trata-se de racismo. É um extermínio de toda a prática negra das religiões de resistência do Brasil”, acredita o fotógrafo e candomblecista Roger Cipó.
A professora Carolina Rocha, candomblecista e autora do livro O sabá do sertão – Feiticeiras, demônios e jesuítas no Piauí colonial (1750-1758), afirma que polêmicas envolvendo a fé cristã costumam ter mais visibilidade, além de provocar maior comoção social. “Ofensas a crenças cristãs logo tomam proporção nacional, levando a uma mobilização midiática e a uma indignação geral, o que não é o caso quando as religiões violentadas são as de origem africana”.
(Helô D’Angelo. “As origens da violência contra religiões afro-brasileiras”. https: revistacult.uol, 21.09.2017. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Religiões de matriz africana: entre a intolerância religiosa e o racismo