Questão
Faculdade de Medicina de Catanduva - FAMECA
2020
Fase Única
PROPOSTA-REDACA-Texto823dca01288
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

Texto 1

A tecnologia digital e a internet fazem parte do nosso dia a dia e da rotina das crianças. 

Uma pesquisa da Revista Crescer, com foco no uso da tecnologia pelas crianças, feita com pais e mães brasileiros (com filhos de 0 a 8 anos), mostrou que o tempo que meninos e meninas passam diante de algum tipo de tela aumentou. Hoje, 47% deles gastam mais de três horas com a atividade. Há cinco anos, o volume era de 35%. “Também chama a atenção o grande número de crianças que, com 
menos de 2 anos, já possuem algum dispositivo digital”, diz o neurologista infantojuvenil Marco Antônio Arruda, do Instituto Glia (SP), que analisou alguns dos dados da pesquisa. Segundo o estudo, 38% delas já têm um celular, tablet, computador, videogame ou TV — em 2017, só 6% eram donas de um aparelho.

De acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), para crianças com até 2 anos, o ideal é que não sejam expostas aos aparelhos digitais. A partir dessa idade até os 5 anos, o limite é de uma hora e meia por dia.

(Rodrigo Fortes. “Geração mobile: a maneira como as crianças consomem tecnologia mudou”. https://revistacrescer.globo.com, 08.08.2018. Adaptado.)

Texto 2

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia no qual recomenda que crianças com 2 anos ou mais não devem ficar mais de 1 hora por dia diante de TVs, celulares ou tablets. Além disso, o contato com telas não deve existir durante o primeiro ano de vida. 

Para Maria Isabel de Barros, pesquisadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, o problema não está unicamente na exposição destas crianças aos dispositivos eletrônicos. “Uma análise mais profunda desse cenário mostra que não foi apenas a falta de ação de pais e mães que fez com que o consumo de vídeos no YouTube por crianças, por exemplo, disparasse. As empresas e plataformas digitais lutam pelo bem da atenção dos usuários. E nessa briga de gigantes, as crianças são extremamente vulneráveis, por serem pessoas em estágio inicial de desenvolvimento”, disse.

Para a pesquisadora, as empresas de tecnologia precisam desenvolver produtos pensando em um design humanizado: jogos, aplicativos, plataformas de streaming que não tenham como objetivo principal de negócio capturar a atenção das crianças a qualquer custo e mantê-las por horas em frente a uma tela, mas sim oferecer a elas experiências com proteção de privacidade, livres de publicidade, e que incentivem laços sociais saudáveis.

Do outro lado, pais e educadores são responsáveis por mediar o envolvimento das crianças com os dispositivos e conteúdos. Segundo Maria Isabel, as experiências digitais devem ser experiências compartilhadas. “O problema está quando a criança é deixada sozinha, sem o olhar atento de uma referência. É aí que deixa de ser uma experiência produtiva que vai fazer bem pra ela”, afirmou.

(Fernanda Giacomassi. “O tempo de tela recomendado para crianças, segundo a OMS”. www.nexojornal.com.br, 25.04.2019. Adaptado.)

Texto 3

Os dependentes de tela sofrem de transtornos comportamentais devido à tecnologia. Parte do problema nasce na família. “Com três anos lhes dão o tablet para distraí-los durante as refeições ou para acalmá-los de uma birra. Isso significa ensinar a criança a regular suas emoções através de um aparelho”, diz José Moreno, psicólogo e diretor do Centro de vícios tecnológicos da comunidade de Madri. 

A família deve dar exemplo. “As crianças fazem o que veem, não o que os pais mandam, por isso uma solução é escolher áreas livres de tecnologia dentro de casa e horários. Guardar todos os aparelhos em um armário à noite e evitar que sejam colocados na nossa cama”, adverte Stephen Balkam, fundador do Family Online Safety Institute, uma organização nos Estados Unidos que pesquisa práticas responsáveis no mundo digital.

(Ana Torres Menárguez. “Os dependentes de telas: o ‘vício sem substância’ que começa aos 14 anos”. https://brasil.elpais.com, 12.04.2019. Adaptado.)

Texto 4

Dois importantes acionistas da Apple enviaram uma carta oficial ao comitê executivo do gigante tecnológico em que compartilham sua preocupação com as “consequências negativas involuntárias” que seus produtos podem ter sobre a saúde neurológica dos usuários mais jovens. Os acionistas reconhecem que não é mais segredo que as mídias sociais e os aplicativos nos quais o iPhone “atua como intermediário” para o consumidor foram projetados para ser o mais viciante possível ou para consumir o máximo de tempo possível.

Os acionistas propõem na carta uma aliança entre a Apple e o mundo da pesquisa, encoraja-os a dar informações e orientações educacionais aos pais para que estes tomem melhores decisões e sugerem o lançamento de mais produtos para os pequenos, como smartphones para crianças ou melhores ferramentas de controle para os pais, ajudando-os a recuperar a atenção perdida de seus filhos.

Depois de décadas de pesquisa sobre o efeito da tela, continuam sem efeito as advertências dos especialistas que recomendam retardar a idade de uso. Pedir a uma criança que ainda não tem capacidade de inibição que se autorregule em relação ao consumo de algo que foi programado para viciar não só transforma os pais em policiais como é fonte de frustração, pois é uma tarefa impossível.

(Catherine L’Ecuyer. “A pressão interna na Apple para prevenir o vício de crianças pelo iPhone”. https://brasil.elpais.com, 19.01.2018. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

Crianças dependentes da tela: responsabilidade dos pais ou das empresas tecnológicas?