Questão
Fundação Getúlio Vargas - FGV
2016
Fase Única
Fundação Getúlio Vargas - FGV
2015
Fase Única
PROPOSTA-REDACA-and-34584fb6c6114
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

"O AR DA CIDADE liberta", diz um conhecido provérbio alemão do fim da Idade Média. Depois, no início do século 20, pensadores como Georg Simmel e Walter Benjamin mostraram como a grande cidade, lugar impessoal da massa, é, paradoxalmente, o lugar da individualidade. Pois, no contexto de comunidades pequenas, a liberdade individual está sempre tolhida pelo olhar e o julgamento do vizinho. Já na cidade grande, ao contrário, o sujeito é anônimo na multidão, por isso está livre para ser ele mesmo, isto é, ser outro, aquilo que não se esperaria dele.

A mistura de classes sociais, culturas, línguas, etnias e religiões que se dá na cidade é o melhor antídoto que inventamos até hoje contra a intolerância e os fundamentalismos. Filha e irmã da imigração, a cidade quebra os laços estamentais e a mentalidade paroquial dos clãs, colocando as pessoas em relação imanente e horizontal: moeda, comércio, indivíduo, democracia. O mercado, porém, não coincide com a política. Enquanto o consumo é balizado pelo poder aquisitivo e tende à desigualdade, a política existe para garantir certa equalização na multiplicidade, regulando a expansão do consumo e da desigualdade, assim como uma praça deveria ser lugar que não fosse ocupado pela "casa" ou "nome" de ninguém.

Toda a graça da cidade, por isso, repousa no fato de que ela existe para dar espaço à individualidade, não ao individualismo. Lugar da coletividade, ela se funda sobre as noções de comum e de público.

Folha e S. Paulo 24/04/2015. Adaptado.

Uma grande cidade, onde se pode viajar horas a fio sem se chegar sequer ao início do fim, é algo realmente singular. Essa concentração colossal, esse amontoado de milhões de seres humanos num único ponto centuplicou a força desses milhões... Mas os sacrifícios que isso custou, só mais tarde se descobre. Depois de se vagar durante dias pelas calçadas das ruas principais, descobre-se que esses habitantes tiveram de sacrificar a melhor parte de sua humanidade para realizar todos os prodígios da civilização, com que fervilha sua cidade; que centenas de forças, neles adormecidas permaneceram inativas e foram reprimidas... O próprio tumulto das ruas tem algo de repugnante, algo que revolta a natureza humana. Essas centenas de milhares de pessoas de todas as classes e situações, que se empurram umas às outras, não são todos seres humanos presumidamente semelhantes?... E, no entanto, passam correndo uns pelos outros, como se não tivessem nada em comum; não ocorre a ninguém conceder ao outro um olhar sequer. Essa indiferença brutal, esse isolamento insensível de cada indivíduo é tanto mais repugnante e ofensivo quanto mais esses indivíduos se comprimirem em espaço exíguo.

F. Angels. Adaptado.


Nos dois textos aqui apresentados, manifestam-se visões até certo ponto antagônicas da vida nas grandes cidades e do sentido que essas concentrações urbanas adquiriram na história e na cultura. Avalie as opiniões neles contidas e redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a expor com clareza seu ponto de vista sobre o tema A vida nas cidades: opressão ou libertação?

Instruções:

– A redação deverá seguir as normas da língua escrita culta*.

– O texto deverá ter, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas escritas.

– Redações fora desses limites não serão corrigidas e receberão nota zero.

– A redação também terá nota zero, caso haja fuga total ao tema ou à estrutura definidos na proposta de redação.

– Dê um título a sua redação.

– A redação deverá ser redigida na folha de respostas, com letra legível e, obrigatoriamente, com caneta de tinta azul ou preta.