(PROPOSTA DE REDAÇÃ0)
Texto I
'O Idiota', de Dostoievski, explora a inadequação existencial da bondade pura
Romance que ganha nova edição no Brasil questiona como conciliar o perdão a um malfeitor e a justiça que deve ser imposta a ele
(Flávio Ricardo Vassoler*, Especial para o Estado – 04 de julho de 2020)
Chega à quinta edição o romance O Idiota (1869), do russo Dostoievski (1821-1881), que, para fugir de seus muitos credores – à época, a Rússia levava os inadimplentes ao cárcere –, escreveu a obra no exterior (em Florença). A predileção de Dostoievski por O Idiota se vinculava à criação do protagonista, o príncipe Míchkin, um homem em cujo caráter e em cujas ações o autor procurou projetar a mais rematada bondade.
Quando pensamos em tipos predominantemente maus e cínicos, a literatura (e a história humana) nos apresenta(m) um rol interminável de personagens: do elitista Brás Cubas (Memórias Póstumas de Brás Cubas), de Machado de Assis, ao inescrupuloso Paulo Honório (Vidas Secas), passando pelo niilista e pedófilo Nikolai Stavróguin (Os Demônios), do próprio Dostoievski. Mesmo quando pensamos em tipos inicialmente ingênuos e idealistas, a literatura (e a vida) se encarrega(m) de submeter o otimismo à decrepitude das ilusões perdidas, como acaba acontecendo com o jovem Cândido (Cândido ou o Otimismo), de Voltaire, e com o aspirante a escritor Lucien de Rubempré (Ilusões Perdidas), de Honoré de Balzac. Entretanto, quando pensamos em tipos sumamente bons, a galeria de personagens se torna bem mais escassa.
Mesmo com o ar rarefeito do cume da bondade, Dostoievski se propôs o desafio de imaginar uma personagem essencialmente fraterna, que, em seu caráter e em suas ações, realizasse uma síntese entre o oferecimento da outra face, pregado por Cristo, e o nobre idealismo de Dom Quixote, o cavaleiro imortalizado por Cervantes.
É assim que a alcunha de idiota para Míchkin relaciona-se não apenas aos ataques de epilepsia – doença que também acometia Dostoievski –, mas ao fato de haver uma inadequação existencial entre uma personagem que procura agir com bondade e retidão e os demais personagens espertalhões, incrédulos e malévolos, com os quais o príncipe entra em contato. A idiotia de Míchkin, então, dá o tom não para uma limitação do protagonista, mas para a vida lamentável de seus convivas, para os quais a mão estendida para a amizade e o amor só pode parecer o ludibrio sob o qual se escondem e se esgueiram rasteiras furtivas.
Desde os primeiros momentos do romance, o príncipe Míchkin depara com sua personagem mais antípoda, o materialista voraz e niilista Rogójin. Na mesma cabine de um trem que retorna da Europa para a Rússia – ainda que o território russo esteja, em parte, na Europa, a história política e intelectual do país é transpassada pela vontade, pelo ressentimento e pelo revanchismo de (não) fazer parte inequívoca da civilização ocidental –, Míchkin e Rogójin acabam falando sobre Nastácia Filíppovna, uma das mulheres mais impetuosas e belas da obra de Dostoiévski.
Disponível em: <alias.estadao.com.br>. Acesso em 04/07/2020.
O momento atual, de muita discussão sobre a relação entre as pessoas, tem trazido à tona o debate sobre a preocupação com os outros. Diante disso, é possível afirmar que se vive em um mundo em que a bondade ilimitada perdeu sua função? A bondade desinteressada é realmente algo fora de moda e deslocada do mundo em que vivemos? A preocupação consigo mesmo sempre prevalecerá sobre a bondade despreocupada? A partir dessas perguntas e das reflexões que elas causam, escreva sua dissertação com apresentação de um posicionamento sobre as questões apresentadas.
Instruções:
• A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma culta da língua portuguesa.
• Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível, e não ultrapasse o limite de 30 linhas.
Dê, se achar necessário, um título à sua redação.