Questão
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
1997
1ª Fase
PROPOSTA-REDACA1380ae94363c
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

REDAÇÃO

ORIENTAÇÃO GERAL

Há três temas sugeridos para redação. Você deve escolher um deles e desenvolvê-lo conforme o tipo de texto indicado, segundo as instruções que se encontram na orientação dada para cada tema. Assinale no alto da página de resposta o tema escolhido.

Coletânea de textos:

· Os textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, dados, opiniões e argumentos relacionados com o tema. Eles não representam a opinião da banca examinadora: são textos como aqueles a que você está exposto na sua vida diária de leitor de jornais, revistas ou livros, e que você deve saber ler e comentar. Consulte a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para o tema. Não a copie.

· Ao elaborar sua redação, você poderá utilizar-se também de outras informações que julgar relevantes para o desenvolvimento do tema escolhido.

ATENÇÃO: SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS AO TEMA QUE ESCOLHEU, SUA REDAÇÃO SERÁ ANULADA.

TEMA A

O presidente Fernando Henrique Cardoso, em recente entrevista à imprensa portuguesa, referiu-se ao povo brasileiro como “caipira”, a propósito da resistência à globalização dos mercados. Esta afirmação causou grande polêmica, seja pelas conotações do termo caipira, seja pela orientação político-econômica que sua atitude revela.

Levando em conta os textos abaixo, redija uma dissertação sobre o seguinte tema:

Brasil: um caipira em tempos de globalização?

1 . “Caipira: homem ou mulher que não mora em povoação, que não tem instrução ou trato social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público. (...) Habitante do interior, canhestro e tímido, desajeitado, mas sonso (...)”. (Luís da Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro)

2 . Este funesto parasita da terra é o CABOCLO*, especie de homem baldio, semi-nomade, inadaptavel á civilização, mas que vive á beira dela na penumbra das zonas fronteiriças (...). Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se.”** (Monteiro Lobato. Velha Praga in Urupês)

*caboclo : sinônimo de caipira

** mantivemos aqui a escrita de Lobato

3 . “O festival de ‘caipirice’ acaba dando uma volta completa sobre si mesmo quando reaparece a pergunta sobre o assunto. FHC dá a mesma resposta da véspera: “Eu disse uma coisa simpática, que o Brasil não é um país arrogante, não desdenha outros países, mas está preocupado com ele próprio”. 

(Clóvis Rossi, “FHC vive dia de brasileiro caipira na viagem a Lisboa”, Folha de São Paulo, 18/7/96)

4 . “Somos caipiras, sim, e com muito orgulho. O que nos deixa ofendidos não é a constatação presidencial, mas sim a mágoa revelada por nossos ‘pseudocosmopolitas’, que assim demonstram entender a condição de ‘caipira’ como algo pejorativo. (...) Somos caipiras, sim, com muito orgulho. E o ideal seria que agíssemos como os japoneses, que são internacionalistas em termos de tecnologia e economia, mas não abrem mão jamais de sua cultura ou de suas tradições. Eis aí um exemplo do bom caipira - um sujeito orgulhoso de suas origens, auto-suficiente em seus costumes e cuja auto-estima não se abala em função de opiniões alheias.” 

(João Mellão Neto, “Viva o Caipira!”, Folha de São Paulo, 26/7/96)

5 . “ ‘Eu também sou caipira’, remendou FHC na entrevista da Band, negando a intenção de ofender o brasileiro, a quem ele antes havia qualificado como incapaz de compreender a tendência moderna da globalização da economia, como fazem as pessoas inteligentes. (...) O que o nosso sociólogo parece esquecer é que o povo brasileiro, ao longo de sua história, sempre acompanhou e soube interpretar muito bem o que havia de realmente novo nas idéias vindas do mundo exterior. Isso, pelo menos, desde que um caipira chamado Tiradentes sonhava com a emancipação do Brasil, inspirado pela Declaração de Independência dos Estados Unidos (...).”

( Moacir Werneck de Castro, “Caipira, no bom sentido”, Jornal da Tarde, 23/7/96 )

6 . “Os tempos mudaram, e um país com fronteiras fechadas tem pouco acesso a capitais e a novidades tecnológicas. Com isso, o país perde competitividade e marca passo. ‘Sua indústria envelhece, fica incapaz de produzir coisas melhores e baratas, a inflação sobe e a capacidade de criar empregos cai’, diz Luís Roberto Martins, presidente da EDS, consultoria de São Paulo.” 

(Antenor Nascimento Neto, “A Roda Global”, Veja, 3 /4/ 1996)

7 . “A globalização é um fenômeno tão importante quanto a Revolução Industrial ou a reorganização capitalista da década de 30. É a integração econômica e tecnológica dos países. A globalização da economia não é um processo ideológico. É um movimento de transformação social e de produção que vai permitir melhoria da qualidade de vida do cidadão e domínio cada vez maior das potencialidades naturais.” 

(Paulo Paiva, in “A Roda Global”, de Antenor Nascimento Neto, Veja, 3 /4/96)

8 . “A globalização é tão velha como Matusalém. O Brasil é produto da expansão do capitalismo europeu do final do século XV. O que está havendo agora é uma aceleração. Isso pode ser destrutivo para o Brasil, se o país não administrar sua participação no processo. A globalização é boa para as classes mais favorecidas. As menos favorecidas ficam sujeitas a perder o emprego.” 

(Paulo Nogueira Batista Jr., in “A Roda Global”, de Antenor Nascimento Neto, Veja, 3/4/96)

9 . “Convenhamos que o que se esconde (às vezes nem se esconde) por trás da retórica de globalização é um velho e surrado conhecido nosso: o entreguismo, comportamento que tem raízes fundas na mentalidade das camadas dirigentes brasileiras.”

(Paulo Nogueira Batista Jr., “Globalização como biombo”, Folha de São Paulo, 8/8/96)

TEMA B

Imagine a seguinte situação: um dia você acorda com o habitual ruído do jornal atirado contra a parede. Levanta-se, abre a porta da rua e o apanha. Ao olhar à sua volta, vê que a placa da rua teve o nome mudado de Rua dos Colibris para Rua YN-15. Você entra em pânico - o que aconteceu? Num primeiro momento, tenta convencer-se de que a mudança da placa não deveria ter-lhe causado tal reação. Mais tarde, com uma série de outras descobertas que fará, acaba por compreender que sua reação tinha mesmo razão de ser.

Redija uma narrativa em 1a. pessoa, incluindo os elementos apresentados e justificando a razão de ser do pânico com base no que você descobriu.

TEMA C

Nos últimos tempos, vêm ocorrendo intensas discussões a propósito dos meios de combater a violência praticada por menores, nas grandes cidades. Um exemplo é a divergência de opiniões entre Nilton Cerqueira (Secretário Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro) e Benedito Domingos Mariano (Ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo), veiculada pela Revista IstoÉ, de 4/9/96.

Leia abaixo trechos dessa polêmica:

“O Estatuto do Adolescente, como está hoje, é uma lei de proteção aos infratores. Quem rouba os tênis das crianças que vão ao colégio? Quem assalta as crianças nos ônibus? São os menores infratores. A lei acaba deixando desprotegida a maioria, que são as vítimas. Os infratores ficam em liberdade por causa da impossibilidade de uma atuação serena e enérgica dos policiais. Com isso, aqueles elementos de alta periculosidade têm campo aberto para suas ações criminais. E acabam acontecendo tragédias como a da Candelária ou a das mães de Acari, que até hoje não acharam seus filhos. Temos que cortar essas possibilidades retirando esses menores das ruas. (...) Ao contrário do que ocorre hoje, os menores infratores deveriam estar presos, sujeitos ao Código Penal.” (General Nilton Cerqueira)

“No Brasil é muito comum que as questões sociais não resolvidas se transformem em questão de polícia. É o caso dos milhares de meninos e meninas de rua, marginalizados pela sociedade e pelo Estado. Usados muitas vezes pelos ‘pais’ de rua, por maus policiais e pelos narcotraficantes, alguns meninos e meninas de rua são utilizados para atos delituosos leves ou graves. E, quando isso acontece, a tese de penalizar o adolescente aos 14 ou 16 anos vem à tona. (...) Onde estão as políticas públicas em nível nacional, estadual e municipal que proporcionem a prevenção à marginalidade e à delinqüência? (...) Não à penalização aos 14 ou 16 anos. Combatam-se as causas estruturais que alimentam a violência (...). (Benedito Domingos Mariano)

Se você acha

· que não se deve punir penalmente os menores de 18 anos, escreva uma carta ao General Nilton Cerqueira, rebatendo os argumentos por ele apresentados, contrapondo-lhe outros que justifiquem a posição que você defende; ou

· que se deve punir penalmente os menores de 18 anos, escreva uma carta a Benedito Domingos Mariano, rebatendo os argumentos por ele apresentados, contrapondo-lhe outros que justifiquem a posição que você defende.

ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE APENAS AS INICIAIS DE SEU NOME.