Questão
Universidade Federal de Uberlândia - UFU
2021
Fase Única
PROPOSTA-REDACA258945bee461
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

ORIENTAÇÃO GERAL
Leia com atenção todas as instruções.

A) Você encontrará duas situações para fazer sua redação. Leia as situações propostas até o fim e escolha a proposta com a qual você tenha maior afinidade.

B) Após a escolha de um dos gêneros, assinale a opção no alto da Folha de Resposta e, ao redigir seu texto, obedeça às normas do gênero.

C) Se for o caso, dê um título para sua redação. Esse título deverá deixar claro o aspecto da situação escolhida que você pretende abordar.

D) Se a estrutura do gênero selecionado exigir assinatura, escreva no lugar da assinatura: JOSÉ ou JOSEFA.

E) Em hipótese alguma, escreva seu nome, pseudônimo, apelido, etc. na folha de prova.

F) Utilize trechos dos textos motivadores, parafraseando-os.

G) Não copie trechos dos textos motivadores ao fazer sua redação.

ATENÇÃO: se você não seguir as instruções da orientação geral e as relativas ao tema que escolheu, sua redação será penalizada.

SITUAÇÃO A

Texto 1

A Educação Domiciliar (ou homeschooling), prática das crianças e jovens serem educadas em casa, por suas famílias, e não em instituições formais (escolas), vem avançando na Câmara dos Deputados.[...]

A opção de educar as crianças sob a responsabilidade da família é defendida atualmente por quem afirma que é direito dos pais escolherem a Educação para seus filhos. Entre os defensores, estão aqueles que veem essa prática como protetora de supostas “ideologias” transmitidas em sala de aula e de possíveis violências escolares.

A legalidade dessa prática varia muito de país para país. Há países que permitem a prática sob regulação (como Austrália, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e França) e países que a proíbem (como Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Holanda e Uruguai). No entanto, é importante olhar para a questão sob o prisma da realidade brasileira.

Já no Brasil, em 2018,o Supremo Tribunal Federal declarou que a Educação Domiciliar não é permitida no Brasil. O entendimento da maioria foi que essa prática não é inconstitucional, mas prevaleceu o entendimento de que a Educação Domiciliar é proibida dado que não existe uma lei que regulamente a prática. Caso exista regulamentação, para ser considerada constitucional, a lei deverá prever também o acompanhamento dos rendimentos dos alunos educados em casa, por meio de avaliações pedagógicas, sob responsabilidade das secretarias de Educação.[...]

Trata-se de uma medida voltada para pouquíssimas famílias (0,04% dos estudantes brasileiros no ensino regular, segundo estimativa da Associação Nacional de Ensino Domiciliar). Os números vêm aumentando nos últimos anos e a regulamentação da matéria poderá criar estímulos adicionais para sua adoção. Ainda assim, significa um percentual modesto quando comparado aos milhões de alunos na Educação Básica que precisam urgentemente de melhorias na qualidade do ensino, principalmente com a pandemia –e que também serão afetados pela regulamentação da Educação Domiciliar, dado que muitos especialistas defendem que há riscos de legalizar a prática.[...]

Regulamentar a prática de Educação Domiciliar não afeta apenas os atuais adeptos da prática, mas também os milhões de estudantes que hoje não o fazem, especialmente os mais vulneráveis. O risco é regulamentar a Educação Domiciliar para um pequeno grupo e a prática abrir espaço para comportamentos de risco na família, como abandono escolar, violência doméstica e exposição às mais diversas situações de privação e estresse tóxico que hoje são diretamente enfrentadas pelas escolas. Esse elemento é ainda mais preocupante considerando o aparato do Estado para monitorar e regular os processos relacionados à Educação Domiciliar. O monitoramento das atividades escolares já é muitas vezes frágil quando as crianças e jovens fazem parte da vida escolar e tende a ser ainda mais complexo e arriscado em uma dinâmica de Educação Domiciliar.

A ideia do homeschooling parte do pressuposto de que a Educação escolar se limita ao ensino do que está no currículo, com avaliação periódica em momentos específicos da trajetória curricular. Ignora-se, assim, que a Educação escolar vai muito além disso, como sugere o Parecer 34/2000 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação(CEB/CNE), que deixa evidente a importância da socialização com outras crianças e jovens e a exposição ao diverso e ao contraditório como aspectos fundamentais de seu desenvolvimento. A escola é o melhor ambiente para que isso aconteça. Vale lembrar que a Constituição estabelece que a Educação não tem apenas função técnica e, portanto, deve ser tratada de forma mais sistêmica –incluindo elementos fundamentais como formação para a cidadania, compartilhamento de valores comuns e pluralismo de ideias.[...]

Disponível em: https://todospelaeducacao.org.br/noticias/homeschooling-um-debate-fora-de-tempo/ Acesso em: 07. jul. 2021. (Fragmento)

Texto 2

[..] A Declaração Universal dos Direitos Humanos destaca em seu artigo 26, 3, que os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de educação a ser ministrada aos filhos. Por outro lado, vivemos em um Estado democrático de Direito, instituído pela Constituição Federal e sustentado pela forma do direito —em especial a Carta Magna —; pelo seu conteúdo humano, principalmente no que tange à defesa da liberdade; pela separação e harmonia de Poderes e por um governo representativo, exercido com o povo e para o povo. [...]

Se analisarmos a questão sob o prisma antropológico, a família precede a sociedade e o Estado, que a protege também tendo em vista a continuidade do cuidado e da educação após a geração, sendo os pais os protagonistas naturais da tarefa, e, em geral, os mais empenhados no superior interesse da criança. Nesse sentido, é importante destacar que não se pode legislar para o todo, com base em exceções, que devem ser objeto de medidas apropriadas. Se em algum lugar identificou-se um abuso no que tange à modalidade, não se pode generalizar o fato, negando o direito.

Ressaltamos ainda que, para um real exercício da liberdade, em termos filosóficos e jurídicos, parte-se da premissa de que ninguém pode ser impedido de fazer o bem. Ora, assumir a educação dos filhos com esforço e responsabilidade, não parece, “prima facie”, um mal. Por outro lado, só se poderá saber se realmente a educação domiciliar é nociva se dermos a oportunidade para que se comprove.

Por fim, sociologicamente, o fato é evidente. O que importa é que, dentro do leque do pluralismo de concepções pedagógicas previsto nos artigos 206 e 209 de nossa Constituição, respeitemos efetivamente a liberdade, para poder nos beneficiarmos também, de toda a riqueza que lhe é inerente.

SILVA MARTINS, Angela Vidal Gandra da Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/05/ainda-sobre-homeschooling.shtml Acesso em: 14 maio 2021. (Fragmento)

Supondo-se que você integre a comissão de educadores de uma escola de sua cidade e considerando o texto acima, redija uma carta aberta a ser publicada no jornal de sua cidade, posicionando-se a respeito do direito de pais decidirem que seus filhos sejam educados no próprio lar.

SITUAÇÃO B

Texto 1

Foi exatamente em fins do século XVIII e inícios do século XIX que nasceu o interesse pelo folclore. Foram os estudiosos como os irmãos Grimm que ao pesquisar sobre a poesia tradicional alemã chegaram a descobrir que a cultura popular se opunha a cultura erudita cultivada pelas elites e pelas instituições oficiais.

Em 1846 nasceu como neologismo o termo folclore (folklore = folk e lore que em inglês significam respectivamente povo e saber). Unificados, os dois termos passaram a significar o saber tradicional de um povo, e a ser utilizado no que concerne as tradições, os costumes e as superstições populares.

Criado em 1965, através de um decreto federal, o Dia do Folclore é comemorado no Brasil nesta data de 22 de agosto. 

O folclore brasileiro é o conjunto de realizações que fazem parte da cultura popular brasileira. Dentro dessa definição, podem ser incluídos os contos, lendas, canções, ritmos, músicas, festas populares, jargões, literatura etc. Estudos na área do folclore brasileiro começaram timidamente no século XIX e consolidaram-se no século seguinte.

Extremamente rico, nosso folclore possui influências da cultura europeia, africana e indígena – um resultado da diversidade cultural aqui existente. Isso sem falar nos personagens folclóricos, como o Saci-Pererê, Curupira, Boitatá, Iara, entre outros.

O folclore brasileiro enquanto área de estudo só ganhou força no Brasil a partir do século XX, mas as raízes dessa pesquisa em nosso país remontam ao século XIX. Isso foi possível graças à influência do Romantismo, corrente artística e literária que teve grande importância no Brasil. Essa corrente esteve associada com movimentos nacionalistas e procurava ressaltar elementos da cultura nacional.

Essa ideia foi reforçada com o Modernismo, corrente artística e literária que esteve em evidência, no Brasil, no começo do século XX. O movimento modernista tinha ideais ufanistas e idealizava o interior do Brasil como local da verdadeira brasilidade.

O estudo do folclore passou a ser visto como uma forma de valorizar a cultura nacional. No século XIX, autores como Amadeu Amaral e Sílvio Romero tiveram importante papel na consolidação desse estudo. No começo do século XX, outros nomes, como os de Mário de Andrade e Arthur Ramos, ganharam notoriedade nesse campo do conhecimento.

A importância de Mário de Andrade no fortalecimento dos estudos sobre o folclore brasileiro foi reforçada na década de 1930, quando ele esteve à frente do Departamento de Cultura do Estado de São Paulo. Os estudos desenvolvidos começaram a aproximar o estudo do folclore com campos das ciências humanas e sociais.

Na década de 1940, a Unesco, entidade vinculada à ONU, recomendou o estudo e preservação do folclore nacional, e isso teve grande influência no Brasil, resultando na criação da Comissão Nacional de Folclore, em 1947. O crescimento do estudo do folclore levou à organização do I Congresso Brasileiro de Folclore, no Rio de Janeiro, em 1951.

Por meio desse congresso, foi debatido o que era folclore e o que deveria ser considerado como parte do folclore brasileiro. O documento emitido por esse congresso ficou conhecido como Carta do Folclore Brasileiro e norteou os debates e os estudos sobre folclore durante as décadas seguintes.

De acordo com esse documento, ficou estabelecido que o estudo do folclore era parte das ciências antropológicas e culturais. Além disso, definiu-se o folclore como “as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular” e que os elementos que formam o folclore (chamados de “fato folclórico”) possuíam algumas características, como aceitação coletiva e origem popular.

Em 1958, durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi criada a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (CDFB) por meio do Ministério da Educação e Cultura. O objetivo dessa campanha, obviamente, era garantir a preservação do acervo folclórico brasileiro. A década de 1960 contou com a Revista do Folclore Brasileiro como grande difusora dos estudos realizados na área.

O golpe militar de 1964 acabou sendo um banho de água fria no crescimento dos estudos sobre o folclore do Brasil. Institucionalmente, as ações e estudos realizados nessa área pela CDFB foram interrompidos pela ditadura e só foram retomados a partir de 1976.

A partir da década de 1990, os estudos sobre folclore ganharam novo fôlego no Brasil. Um grande marco foi o VIII Congresso Brasileiro de Folclore, que aconteceu em Salvador, em 1995. Baseando-se na Carta do Folclore Brasileiro, de 1951, esse congresso emitiu um novo documento com atualizações importantes.

Desde então ficou definido que “folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social.”

Outra determinação importante foram as garantias de preservação do patrimônio folclórico dadas pela Constituição de 1988, em seus artigos 215 e 216.

Utilizando como base a definição dada no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, de 1995, podemos afirmar que o folclore brasileiro é resultado das criações culturais de uma comunidade, sendo assim, podemos incluir dentro do folclore não somente os contos e histórias de personagens folclóricos, como também os ritmos musicais, as danças, as festas populares, as brincadeiras etc.

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/folclore-brasileiro.htm Acesso em: 07. jul. 2021.(Adaptado)

Texto 2

A série brasileira “Cidade Invisível”, que acaba de ter anunciada sua segunda temporada na Netflix, aborda com licença poética o folclore brasileiro. A trama chegou à lista de conteúdos mais assistidos da plataforma por pelo menos um dia em mais de 40 países incluindo o Brasil.

Criada por Carlos Saldanha, conhecido pelas franquias animadas “A Era do Gelo” e “Rio”, além de “O Touro Ferdinando”, indicado ao Oscar de Melhor Animação, a trama transporta os seres e criaturas míticos aos tempos atuais.[...]

Haná Vaisman, gerente de conteúdo de séries originais brasileiras da Netflix, conta que “Cidade Invisível” nasceu de um desejo de resgatar personagens do nosso folclore. Ela comemora a boa repercussão.

“São histórias que fazem parte da memória afetiva dos brasileiros, mas que ainda não haviam sido abordadas com uma visão contemporânea. Ao mesmo tempo em que estamos celebrando o retorno positivo, reconhecemos que temos um compromisso ainda maior em fazer com que mais pessoas se vejam representadas nessa segunda temporada”, afirma.[...]

Criada em 2003 após um incômodo com a expansão das celebrações do Halloween no Brasil, a Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci) tem como intuito valorizar o que há de melhor na cultura brasileira.

Com sede em São Luiz do Paraitinga (a 181 km de São Paulo), o projeto tem como proposta estudar e defender as brasilidades populares, dentre elas o folclore. Um dos fundadores, Mouzar Benedito, 74.

Além de Mouzar, há 1.100 entusiastas do folclore e da cultura nacional difundindo esses ensinamentos ao redor do país. São pessoas filiadas ao projeto. “Começamos a fazer muitas palestras em escolas. Fizemos filme sobre o tema e publicamos um monte de livros. Nossos principais lemas são a defesa e estudo da cultura brasileira”, reforça Mouzar que festeja que o Dia do Saci é comemorado em 31 de outubro, mesma data da festa norte-americana do Dia das Bruxas.

O fundador completa: “Fazer atividades, falar dos mitos e das lendas é propagar a nossa história. E sinto que temos resultado quando isso é feito logo na infância. São formas de ativismo da defesa da nossa cultura”, conclui.

VOLPATO, Leonardo Disponível em: https://f5.folha.uol.com.br/viva-bem/2021/03/de-saci-a-cuca-pais-e-professores-mantem-folclore-vivo-para-asnovas-geracoes.shtml Acesso em: 19 maio 2021. (Fragmento adaptado)

Utilizando os dois textos, redija um resumo, focando a importância do folclore e a valorização desse gênero de cultura de origem popular como forma de identidade de uma nação.