Há, a seguir, três propostas para a produção de seu texto escrito, com base na concepção de gêneros textuais. Escolha uma delas e 

desenvolva o seu texto, em prosa, observando atentamente as orientações que acompanham cada proposta. Você deverá se valer das ideias presentes na coletânea desta Prova de Redação (mas sem fazer cópia), bem como de seu conhecimento de mundo e dos fatos da atualidade. Observe que cada proposta se direciona para um gênero específico de texto (artigo de opinião, carta de leitor e diário pessoal).

• Sua Prova de Redação deverá ter no máximo 30 linhas.

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Thays Bertoncini da Silva e  Erica Marie Viterito Honda

De acordo com o dicionário australiano Macquarie, a expressão “cultura do cancelamento” foi eleita o termo do ano de 2019. [...] Mesmo não tendo um marco exato de origem, a cultura do cancelamento aparentemente teve início a partir da mobilização de vítimas de assédio e abuso sexual (Movimento #MeToo), que ganhou maior visibilidade em 2017 por força das denúncias realizadas em Hollywood.

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Ao analisarmos o movimento sob o prisma das modalidades de regulação da Internet proposta por Lawrence Lessig, composta por: direito, normas sociais, mercado e arquitetura (In: LEONARDI, Marcel. Fundamentos de Direito Digital. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.), podemos considerar a cultura do cancelamento como uma sanção imposta pelos próprios usuários no âmbito da Internet, diante da violação de normas sociais existentes. Assim como as demais modalidades de regulação, as normas sociais são eficientes, uma vez que inibem o comportamento reprovável por parte da comunidade que assim o entende.

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Ocorre que, especificamente com relação à cultura do cancelamento, e ao contrário do Direito em que há um devido processo legal para justificar uma punição ou não, o “tribunal da Internet” não costuma oportunizar sequer o exercício do contraditório. Na maioria das vezes, aliás, a cultura do cancelamento costuma ter efeitos imediatos. A onda de boicote tem início tão logo o erro ou comportamento, considerado reprovável, é notado e exposto. Tal imediatismo, porém, traz à tona certa intolerância e muita polarização, demonstrando, assim, que a sanção antecede a defesa.

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(SILVA, Thays Bertoncini da e HONDA, Erica Marie Viterito.  O “Tribunal da Internet” e os efeitos da cultura do cancelamento. 30 jul. 2020. Disponível em: https://migalhas.uol.com.br/depeso/331363/o--tribunal-da-internet-e-os-efeitos-da-cultura-do-cancelamento. Acesso em: 10 set. 2020. Adaptado).

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Flavia Coltri

Cultura do cancelamento é um termo bastante recente, conhecido e discutido principalmente entre os mais jovens nas redes sociais. A expressão é utilizada para denominar um comportamento que, em sua essência, busca por justiça social, mas acaba realizando uma 

espécie de linchamento virtual dos indivíduos que agem ou dão declarações politicamente incorretas. 

O professor e sociólogo Marco Antônio de Almeida, do Departamento de Educação, Informação e Comunicação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que esse comportamento deriva de causas bastante justas e bem-intencionadas, mas caminhou para a intolerância. “A cultura do cancelamento deriva do politicamente correto, que demanda uma maior percepção e sensibilidade nas questões relacionadas a classes sociais, gênero, etnias, entre outros. É uma causa muito justa, porém os defensores desse comportamento foram assumindo uma política de tolerância zero aos erros, que levam a pedidos de demissões e corte de financiamentos, cancelando o indivíduo da vida pública.”

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Almeida diz que, apesar das boas intenções por trás do cancelamento virtual, o comportamento prejudica o debate democrático. “A cultura do cancelamento é uma cultura equivocada, na medida em que ela não permite justamente o livre debate de ideias e a circulação de opiniões distintas, algo saudável para a democracia.”

(COLTRI, Flavia. Cultura do cancelamento promove intolerância ao buscar justiça. 10 ago. 2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/cultura-do-cancelamento-promove-intolerancia-ao-buscar-justica/. Acesso em: 10 set. 2020. Adaptado).

Luiza Pollo

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Acerca do cancelamento, há quem defenda que a prática é importante para estabelecer limites publicamente. 

A autora Shamira Ibrahim, em artigo publicado na Vice, “Em defesa da cultura do cancelamento”, afirma que “é inevitável que a redenção chegará para o cancelado, mas, antes disso, a melhor ferramenta continua sendo que a corte da opinião pública exija um pedido de 

desculpas e use as redes sociais para cobrar responsabilidade, criando um exemplo para as pessoas do entretenimento que realmente se importam com as comunidades que consomem seu conteúdo”, Em outras palavras, ela acredita que o “puxão de orelha” em público ajuda a prevenir futuros deslizes de outras celebridades. 

Essa prática já existia antes da Internet, [...] mas foi ampliada pelas novas formas de participação nas discussões sociais, avalia André Luiz Maranhão de Souza Leão, professor e pesquisador do programa de pós-graduação em Administração da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do grupo de pesquisa Círculo de Estudos de Fãs, Mídia e Entretenimento. Ele concorda com a opinião de Ibrahim e acrescenta que essa prática “gera uma situação de cuidado com certas opiniões que são emitidas, coisas que falamos, às vezes, por impulso e, no fundo, revelam certos princípios e valores que nem sempre vão ao encontro de certos grupos que precisam ser respeitados.” 

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(POLLO, Luiza. Todo mundo está de mal: o que a cultura do cancelamento diz sobre nós. 20 set. 2019. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2019/09/20/todo-mundo-ta-de-mal-o-que-a-cultura-do-cancelamento-diz-sobre-nos.htm. Acesso em: 10 set. 2020. Adaptado).

Paula Stange 

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Quando é válido cancelar?

Para Vitor Burgo, jurista e doutor em direito pela USP, e a psicóloga Adriana Müller, o cancelamento pode ter uma função pedagógica. Burgo cita o caso do rapper americano Chris Brown, acusado de agredir a ex-esposa, a cantora Rihanna. “Depois de sucessivos cancelamentos, ele deixou de ser um grande astro. Claro que não ficou pobre, mas saiu um pouco do cenário.”

 O mesmo pode ser aplicado ao cantor sertanejo Victor, da dupla sertaneja, Victor & Léo, condenado pela justiça após agredir a ex-mulher. “A justiça enquadrou o crime como vias de fato, com pena de 18 dias em regime aberto. Isso gerou uma sensação de impunidade na 

sociedade. A ferramenta, no caso, foi o cancelamento”, citou o especialista.

Segundo Burgo, o cancelamento acontece porque a justiça não é capaz de dar resposta adequada e suficiente a essas questões de magnitude global. “Diante de uma atitude racista, por exemplo, qual decisão judicial poderia recompor satisfatoriamente esse estrago? A resposta é “nenhuma”. Assim, no vácuo da justiça, sobra a vingança, que em tempos de Internet, consegue provocar abalos financeiros e de outras ordens sobre o ofensor.”

Müller também vê um aspecto positivo para o cancelamento nesses casos, em que a pessoa cometeu uma falha grave, inquestionável. “Em situações graves, como em casos de racismo, homofobia, misoginia, a gente não pode ser tolerante. Cabe uma postura firme. Essas pessoas têm que ser canceladas mesmo para que haja uma sociedade melhor, mais respeitosa, livre de tantos preconceitos.”

(STANGE, Paula. Cultura do cancelamento: precisamos mesmo cancelar as pessoas? A Gazeta. 06 mar. 2020. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/revista-ag/comportamento/cultura-do-cancelamento-precisamos-mesmo-cancelar-as-pessoas-0320. Acesso em: 20 out. 2020. Adaptado.)

Artigo de opinião é um gênero do discurso argumentativo em que o autor expressa a sua opinião sobre determinado tema, deixando bem marcada uma argumentação que sustente a defesa do ponto de vista apresentado.

 Imagine que você é articulista de um jornal de circulação nacional e foi convidado a escrever sobre o tribunal da Internet – prática contemporânea de “cancelar” pessoas ou empresas que não apresentam opiniões ou conduta politicamente corretas. Escreva, então, um 

artigo de opinião em que apresente o seu ponto de vista sobre o tema: Cultura do cancelamento: justiça social ou intolerância? Você deverá usar argumentos convincentes e persuasivos.

Carta de leitor é um gênero discursivo em que o autor do texto dirige-se a um interlocutor específico ou ao editor da mídia jornalística com o objetivo de defender um ponto de vista sobre um tema. Apresenta informações, fatos e argumentos que caracterizam um ponto de vista sobre determinada questão.  

Imagine que você é um(a) cidadão(ã) interessado(a) no debate sobre a cultura do cancelamento na sociedade contemporânea. Diante da polêmica discussão sobre o assunto na mídia brasileira, resolve se manifestar. Escreva, então, uma carta de leitor endereçada ao editor de um jornal de circulação nacional, apresentando seu ponto de vista sobre o tema: Cultura do cancelamento: justiça social ou intolerância? Utilize a coletânea e seus conhecimentos prévios sobre o assunto. Considere as marcas de interlocução peculiares ao gênero carta na construção do seu texto e apresente argumentos convincentes. 

Diário pessoal é um gênero do discurso autobiográfico, que apresenta um caráter subjetivo e, às vezes, confessional. Esse gênero materializa-se em um texto em que são registradas impressões, sentimentos, experiências, sensações relativas à vivência cotidiana do sujeito que se expressa. É escrito em primeira pessoa. 

A cultura do cancelamento tem chamado a atenção, principalmente nas redes sociais, por tratar-se de uma onda que incentiva pessoas a deixarem de apoiar determinadas personalidades ou empresas (públicas ou não, do meio artístico ou não), em razão de erro ou conduta reprovável. Imagine a seguinte situação: você é testemunha de um caso de cancelamento virtual de um indivíduo de sua rede social e vive o conflito de se posicionar frente ao fato. A partir desse conflito interno, escreva uma página de seu diário pessoal, em que aborde o tema: Cultura do cancelamento: justiça social ou intolerância? Considere a coletânea apresentada e contextualize a linguagem à situação discursiva do seu texto. Use a primeira pessoa.