(PROPOSTA DE REDAÇÃO)
Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo
Sob discurso antirracista, o racismo negro se manifesta por organizações supremacistas
Antonio Risério
Poeta, romancista e antropólogo, autor de "A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros", "Sobre o Todo o mundo sabe que existe racismo branco antipreto. Quanto ao racismo preto antibranco, quase ninguém quer saber. Porém, quem quer que observe a cena racial do mundo vê que o racismo negro é um fato.
A universidade e a mídia norte-americanas insistem no discurso da inexistência de qualquer tipo de "black racism". Casos desse racismo se sucedem, mas a ordem-unida ideológica manda fingir que nada aconteceu.
O dogma reza que, como pretos são oprimidos, não dispõem de poder econômico ou político para institucionalizar sua hostilidade antibranca. É uma tolice. Ninguém precisa ter poder para ser racista, e pretos já contam, sim, com instrumentos de poder para institucionalizar o seu racismo.
A história ensina: quem hoje figura na posição de oprimido pode ter sido opressor no passado e voltar a ser no futuro. Muçulmanos escravizaram e mataram multidões de pretos durante séculos de tráfico negreiro na África.
No entanto, a visão atualmente dominante, marcada por ignorância e fraudes históricas, quando não pode negar o racismo negro, argumenta que o racismo branco do passado desculpa o racismo preto do presente. Mas o racismo é inaceitável em qualquer circunstância. A universidade e a elite midiática, porém, negaceiam
Em "Coloring the News", William McGowan lembra uma série de ataques racistas de pretos contra brancos no metrô de Washington. Em um deles, um grupo de adolescentes negros gritava: "Vamos matar todos os brancos!". O Washington Post, contudo, não tratou o conflito como conduta racial criminosa e sim como "confronto de duas culturas".
McGowan sublinha que a recusa em reconhecer a realidade do racismo antibranco é particularmente evidente na cobertura midiática de crimes de pretos contra brancos.
De nada adianta a motivação racial ser ostensiva, como no caso de ataques a idosos brancos no Brooklyn, quando um membro da gangue preta declarou: "Fizemos um acordo entre nós de não roubar mulheres pretas. Só pegaríamos mulheres brancas. Foi um pacto que todos fizemos. Só gente branca".
(...)
O fato é que não dá para sustentar o clichê de que não existe racismo negro porque a "comunidade negra" não tem poder para exercê-lo institucionalmente. Mesmo que a tese fosse correta, o que está longe de ser o caso, existem já meios para o exercício do racismo negro.
Engana-se, mesmo com relação ao Brasil, quem não quer ver racismo, separatismo e mesmo projeto supremacista em movimentos negros. O retorno à loucura supremacista aparece, agora, como discurso de esquerda.
Se quiserem manter a complacência, podem falar disso como de realidades apenas embrionárias, mas a verdade é bem outra. Militantes pretos, como pastores evangélicos, querem o poder.
Não devemos fazer vistas grossas ao racismo negro, ao mesmo tempo que esquadrinhamos o racismo branco com microscópios implacáveis. O mesmo microscópio deve enquadrar todo e qualquer racismo, venha de onde vier.
Como em um texto do escritor negro LeRoi Jones: "Nossos irmãos estão se movimentando por toda parte, esmagando as frágeis faces brancas. Nós temos que fazer o nosso próprio mundo, cara, e não podemos fazê-lo a menos que o homem branco esteja morto".
Resta, então, a pergunta fundamental. O neorracismo identitário é exceção ou norma? Infelizmente, penso que é norma. Decorre de premissas fundamentais da própria perspectiva identitária, quando passamos da política da busca da igualdade para a política da afirmação da diferença.
Ao afirmar uma identidade, não podemos deixar de distinguir, dividir, separar. Não existe identitarismo que não traga em si algum grau e alguma espécie de fundamentalismo.
Nesse fundamentalismo, se o que conta é a afirmação de um essencialismo racial, reagindo ressentido a estigmatizações passadas, dificilmente os sinais supremacistas não serão invertidos. As implicações disso me parecem óbvias.
Elabore um texto dissertativo-argumentativo a partir do texto acima