Questão
Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP
2017
Fase Única
PROPOSTA-REDACA804feb43052
Discursiva
(PROPOSTA DE REDAÇÃO)

A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA SOB SUSPEITA

Texto 1

O médico dinamarquês Peter Gotzsche não é um homem de meias palavras. Ele compara a indústria farmacêutica ao crime organizado e a considera uma ameaça à prática da medicina segura. “Ela [a indústria] sabe que determinada ação é errada, criminosa, mas continua fazendo-a de novo e de novo. É o que a máfia faz. Esses crimes envolvem práticas como forjar evidências, extorsões e fraudes.”, diz.

Professor na Universidade de Copenhague e um dos que ajudaram a fundar a Cochrane (rede de cientistas que investigam a efetividade de tratamentos), é autor do livro Medicamentos mortais e crime organizado – como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica, que tem causado alvoroço no meio médico.

Gotzsche reconhece os êxitos da indústria no desenvolvimento de drogas para tratar infecções, alguns tipos de câncer, doenças cardíacas, diabetes, mas expõe no livro dados que demonstram falhas na regulação de medicamentos e os riscos que muitos deles causam à saúde. 

Questionado se estaria sendo processado pelos dados que apresenta em seu trabalho, ele respondeu: “Não, porque isso é um fato, não é uma acusação. Eu documentei crimes cometidos pelas dez maiores farmacêuticas entre 2007 e 2012. Esses crimes estão crescendo, e isso não é surpresa. [...] Agências reguladoras têm feito um trabalho muito pobre por diferentes razões. Elas falam com a indústria farmacêutica, mas não falam com os pacientes. Para ter uma nova droga aprovada, só é preciso provar que ela é melhor que um placebo, mas os efeitos colaterais não são levados muito em conta.”.

Ele aconselha que os médicos não confiem nos estudos publicados pela indústria farmacêutica, pois muitas drogas são ineficazes e muito mais perigosas do que as pessoas imaginam. “É uma tragédia dupla: as pessoas estão morrendo por causa de medicamentos e muitas vezes nem precisariam deles. Por essa razão, médicos devem prescrever menos remédios do que fazem hoje.”

Dirigentes de associações de farmacêuticas no Brasil repudiam a relação que Peter Gotzsche faz entre o setor e o crime organizado. “Não se pode criminalizar uma indústria que efetivamente faz saúde em caixinha, que evita que as pessoas fiquem doentes”, diz Nelson Mussolini, presidenteexecutivo do Sindusfarma (Sindicato Paulista da Indústria de Produtos Farmacêuticos). Para ele, Gotzsche trata de questões ideológicas e ultrapassadas, pois é graças a remédios produzidos pelas farmacêuticas que ele e o autor estão vivos hoje. “Quando nasci, em 1958, a expetativa de vida para o brasileiro era de 53 anos; do europeu, de 60 anos. A indústria pode ter cometido erros no passado, mas não se pode criminalizá-la.” Ele diz que, nos últimos anos, houve grande evolução nas questões regulatórias e de marketing e que as práticas antiéticas foram banidas.

Cláudia Collucci, Folha de S.Paulo, 17 nov. 2016.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/11/1832841-industria-farmaceutica-age-como-o-crimeorganizado-diz-pesquisador.shtml>. Acesso em: jan. 2017. Adaptado.

Texto 2

Os remédios dividem-se em duas categorias: originais e genéricos. Os primeiros são desenvolvidos e comercializados por um laboratório farmacêutico, público ou privado, enquanto seus genéricos são produzidos por outros laboratórios, geralmente após o fim da patente exclusiva. Do ponto de vista de médicos e pacientes, não importa se os medicamentos são originais ou genéricos, eles devem ser eficientes, conter as doses do princípio químico ativo exatamente como divulgado na caixa, e ser livres de impurezas tóxicas.

Os genéricos adquiriram fama e distribuição ampla. Milhões de pessoas com baixo poder aquisitivo tiveram acesso a medicamentos pela primeira vez. No entanto, estudos e escândalos têm alertado a comunidade médica para o risco da disseminação descontrolada de medicamentos de qualidade questionável. Um estudo publicado na revista International Journal of Tuberculosis demonstrou que 9% dos remédios contra a tuberculose distribuídos em países em desenvolvimento não atingiram os mínimos níveis de eficiência. E, dependendo do país, os remédios falsificados ou abaixo do padrão atingiram mais de 16% (na África) e 10% (na Índia). No Brasil, os pesquisadores estimaram que 4% dos medicamentos para tuberculose sejam menos eficientes que o recomendado.

Riad Younes, CartaCapital, 13 abr. 2014.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/795/genericos-de-ma-fama-6329.html>. Acesso em: jan. 2017. Adaptado.

Texto 3

O século 20 testemunhou alguns dos experimentos médico-científicos mais brutais e antiéticos já realizados em toda a história, a maior parte deles voltada para o aperfeiçoamento das técnicas de guerra. Mas é impossível separar completamente essas pesquisas macabras das que foram conduzidas no âmbito do aprimoramento da saúde. E existem duas razões para isso.

A primeira é que os métodos empregados pela indústria farmacêutica, durante o mesmo período, não foram diferentes. [...] O segundo motivo é que muitas vezes os estudos civis e militares caminhavam de mãos dadas. Você consegue imaginar algo mais cruel e absurdo do que o teste de armas químicas, como gás mostarda, em voluntários humanos? Mas foi graças a isso que nasceu o que ainda hoje é uma das principais armas contra o câncer: a quimioterapia.

Salvador Nogueira, Superinteressante, 10 set. 2015.
Disponível em: <http://super.abril.com.br/saude/os-crimes-da-industria-farmaceutica/>. Acesso em: jan. 2017. Adaptado.

Considerando os textos apresentados, escreva uma dissertação argumentativa sobre o tema proposto.