( PROPOSTA DE REDAÇÃO )
Nas últimas décadas, os reality shows firmaram-se como sucesso na mídia com base na simples fórmula: oferecer ao espectador a oportunidade de bisbilhotar a vida de seres humanos em disputas extremas visando algum tipo de premiação. Sobre esse assunto, leia a coletânea de textos a seguir.
Texto 1
Reality show é um tipo de programa em que certo número de pessoas fica confinado em um local pré-determinado, isolado. Essas pessoas, que até aquele momento não se conheciam, têm de passar um bom tempo convivendo. Durante a convivência, os participantes se envolvem em confraternizações, discussões, fofocas, namoros, paixões etc. Esses programas são chamados de reality show (ou show da realidade) porque nada do que acontece é fruto da imaginação de algum escritor. Nada obedece a um determinado roteiro ou é ensaiado. O relacionamento entre seres humanos é amplamente exposto (de preferência no melhor ângulo) para que o telespectador possa ter uma visão detalhada de tudo o que acontece naquele ambiente. Para muitos psicólogos, o público gosta de assistir aos realities porque se identifica com determinados personagens e passa a torcer por eles ou contra algum participante que demonstre arrogância ou egoísmo. De tanto ver os personagens, o público os considera como parte da família, pois passa a conhecê-los quase que intimamente. O espectador se comove quando alguém se apaixona por uma pessoa, mas também se interessa quando alguém fala mal de outro colega ou discute com um outro. E, por fim, também curte ver as virtudes, as fraquezas e os defeitos dos participantes.
LIMA, Ana. Os reality shows: intimidade revelada? Disponível em: <http: www.autores.com.br/2009111926080/artigos cientificos/ciencias-sociais/os-realityshows-intimidade-revelada.html>. Acesso em: 25 abr. 2013. (Adaptado).
Texto 2
A sociedade mergulhou numa disputa de baixarias. As competições escancaradas na TV aberta, sob a chancela de “entretenimento”, estimulam a humilhação pública e a indignidade humana. Comer pizza de vermes e minhocas vivas, deixar ratos e cobras passear pelo corpo de uma moça de biquíni, resistir a vômitos como prova de determinação e bravura – isso é exatamente o quê?
AQUINO, Ruth. O rodeio dos imbecis. Época. São Paulo, 1º nov. 2010. p. 130. (Adaptado).
Texto 3
Os processos de identificação parecem estar na base do sucesso das representações da vida real, ou seja, a possibilidade de encontrar eco para as próprias experiências pode ser um meio de sentir-se incluído no mundo dos humanos, de encontrar elementos que auxiliem na elaboração de vivências e de amenizar a solidão intrínseca à própria existência humana. A imitação da vida nos permite compartilhar a essência humana com os outros: o estritamente pessoal ganha o terreno social. Já não somos os únicos; é possível compreender as situações humanas à luz da esfera cultural. Não estamos completamente sós, pois os outros participam do drama que julgávamos exclusivamente nosso. A convivência une e configura um fenômeno social que propicia, por um lapso de tempo, certo sentimento de cumplicidade capaz de mover os espectadores em manifestações coletivas, que vão do êxtase à decepção, da alegria esfuziante à profunda tristeza, do riso aberto ao choro incontido. Mais do que um movimento catártico, há aqui a possibilidade de tornar público o privado, de socializar o individual, dando-lhe novo sentido.
MILLAN, Marília Pereira Bueno. Realitie shows - uma abordagem psicossocial. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php pid=S1414-98932006000200003&script=sci_arttext>. Acesso em: 22 abr. 2013. (Adaptado).
Texto 4
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), mas conseguimos chegar ao fundo do poço. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo. Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 10. Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se foi divertido, mas pareceu bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas. O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta Processo Seletivo UEG 2013-2 Prova de Redação 3/4 informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, os quais são apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um prêmio milionário.
VERISSIMO, Luis Fernando. A vergonha. Disponível em: <http://www.paroquiaguaratuba.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=332:bispos-brasileiros-afirmam-reality shows-bbb-sao-mal-nasociedade&catid=1:noticias&Itemid=2>. Acesso em: 16 maio 2013. (Adaptado).
Texto 5
Somos todos antropófagos simbólicos, somos canibais inconscientes. Embora nos realities quase todo mundo seja desconhecido, não tenha dúvida, todos os competidores são profissionais. É gente que sabe o discurso do escancaramento de cor. Sabe os gestos de cor. São androides do desejo público, programados para falar como segredos íntimos o que não passa de fetiche da massa. Eles não estão ali para dizer o que sentem. Eles nada sentem além da compulsão pela fama. Estão ali para servir. E para fazer de conta que sentem o que os olhos da turba, sobre cada um deles, pressentem. Não há "vida interior" a ser devassada nesse tipo de programa. Há somente o interior do organismo, as vísceras cruas e as palavras idem.
BUCCI, Eugênio. O "brother" esquartejador. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tvfolha/tv0302200202.htm>. Acesso em: 08 jan. 2013. (Adaptado).
Com base na leitura da coletânea, discuta a seguinte questão-tema:
Reality show: uma forma de diversão para espectadores e competidores ou de degradação de ambos?
CARTA ARGUMENTATIVA
A carta de leitor é um gênero textual, comumente argumentativo, que circula em jornais e revistas e tem como objetivo emitir um parecer de leitor sobre matérias e opiniões diversas publicadas nesses meios de comunicação.
Considerando a definição desse gênero textual, a leitura da coletânea e, ainda, suas experiências pessoais, escreva uma carta de leitor à revista Época, emitindo seu ponto de vista − contrário, favorável ou outro que transcenda esses posicionamentos − a respeito da opinião expressa no Texto 2 da coletânea.