(PROPOSTA DE REDAÇÃO)
REDAÇÃO
Prof. Fernando Andrade
Ignorância ostentação
(...)
“Aprendi que todo problema complexo e difícil pede uma solução igualmente complexa e difícil e isso só é possível por meio de esforço intelectual, observação, análise, reflexão e propostas de ação para mudança. Descobri que toda decisão não pensada é perigosa e pode criar novos problemas ao invés de resolver algum.
Mas, de repente, tudo mudou, e vivemos a era da “ignorância ostentação” (termo que ouvi em algum lugar que não me recordo). Louvam e aplaudem o desastre, porque é cômodo não saber, é cômodo o discurso de que os problemas não existem ou que suas soluções são fáceis, é mais fácil ignorar, é mais fácil ser ignorante, é mais fácil não aprender.”
(Disponível em . http://www.justificando.com/2019/05/07/ignorancia-ostentacao/ Terça-feira, 7 de maio de 2019, acessado em 04.12.2019)
“O problema que se põe é o seguinte: não estaria esse reprimido ou recalcado voltando à tona? Não estariam querendo manifestar-se essas determinações invisíveis? Não estamos assistindo a uma revanche do irracional? A uma onda de crítica à raciomania que se instaurou com a revolução científica moderna? Não corre essa crítica o risco de converter-se em uma verdadeira misologia (ódio ou hostilidade à Razão)? O ponto de estrangulamento dessa aversão se manifesta no jogo da Ciência e de seu Outro, vale dizer, do Saber e do inconscientemente sabido. Esse “Outro” é o Oculto da própria Ciência, aquilo que não está revelado ou que por ela foi sistematicamente proscrito, reprimido ou recalcado.
No fundo, trata-se da subjetividade, frequentemente identificada com o irracional e o passional. A esse respeito, dizia Espinoza: “Se os homens tivessem o poder de organizar as circunstâncias de sua vida ao sabor de suas intenções, ou se o acaso lhes fosse sempre favorável, não seriam presas da superstição”. Essas doutrinas nas quais os homens se convencem de que a natureza “com eles delira” são devidas à condição humana mesma, à fraqueza dos seres humanos que são movidos, não tanto pela Razão, mas por seus desejos e suas paixões, ficando angustiados entre a esperança e o medo em um mundo que não mais lhes oferece nenhuma garantia de um sentido previamente dado.”
Disponível em https://saocamilo-sp.br/assets/artigo/bioethikos/85/181-185.pdf , acessado em 10.10.2020.
A ignorância da sociedade do conhecimento
O estágio final da evolução intelectual moderna será uma macaqueação de nossas mais triviais ações por máquinas?
Robert Kurz
Conhecimento é poder -trata-se de um velho lema da filosofia burguesa moderna, que foi utilizado pelo movimento dos operários europeus do século 19. Antigamente conhecimento era visto como algo sagrado. Desde sempre homens se esforçaram para acumular e transmitir conhecimentos. Toda sociedade é definida, afinal de contas, pelo tipo de conhecimento de que dispõe. Isso vale tanto para o conhecimento natural quanto para o religioso ou para a reflexão teórico-social. Na modernidade o conhecimento é representado, por um lado, pelo saber oficial, marcado pelas ciências naturais, e, por outro, pela "inteligência livre-flutuante" (Karl Mannheim) da crítica social teórica. Desde o século 18 predominam essas formas de conhecimento.
Mais espantoso deve parecer que há alguns anos esteja se disseminando o discurso da "sociedade do conhecimento" que chega com o século 21; como se só agora tivessem descoberto o verdadeiro conhecimento e como se a sociedade até hoje não tivesse sido uma "sociedade do conhecimento". Pelo menos os paladinos da nova palavra-chave sugerem algo como um progresso intelectual, um novo significado, uma avaliação mais elevada e uma generalização do conhecimento na sociedade. Sobretudo se alega que a suposta aplicação econômica do conhecimento esteja assumindo uma forma completamente diferente.
Filosofia das mídias Bastante euforia é o que se apreende por exemplo do filósofo das mídias alemão Norbert Bolz: "Poder-se-ia falar de um big-bang do conhecimento. E a galáxia do conhecimento ocidental se expande na velocidade da luz. Aplica-se conhecimento sobre conhecimento e nisso se mostra a produtividade do trabalho intelectual. O verdadeiro feito intelectual do futuro está no design do conhecimento. E, quanto mais significativa for a maneira como a força produtiva se torne inteligência, mais deverão convergir ciência e cultura. O conhecimento é o último recurso do mundo ocidental". Palavras fortes. Mas o que se esconde por trás delas? Elucidativo é talvez o fato de que o conceito da "sociedade do conhecimento" esteja sendo usado mais ou menos como sinônimo do de "sociedade da informação". Vivemos numa sociedade do conhecimento porque somos soterrados por informações. Nunca antes houve tanta informação sendo transmitida por tantos meios ao mesmo tempo. Mas esse dilúvio de informações é de fato idêntico a conhecimento? Estamos informados sobre o caráter da informação? Conhecemos afinal que tipo de conhecimento é esse?
Na verdade, o conceito de informação não é, de modo nenhum, abarcado por uma compreensão bem elaborada do conhecimento. O significado de "informação" é tomado num sentido muito mais amplo e refere-se também a procedimentos mecânicos. O som de uma buzina, a mensagem automática da próxima estação do metrô, a campainha de um despertador, o panorama do noticiário na TV, o alto-falante do supermercado, as oscilações da Bolsa, a previsão do tempo... tudo isso são informações, e poderíamos continuar a lista infinitamente.
(Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1301200211.htm, acessado em 04.12.2019).
CIÊNCIA
Começo a ver no escuro
um novo tom
de escuro.
Começo a ver o visto
e me incluo
no muro.
Começo a distinguir
um sonilho, se tanto,
de ruga.
E a esmerilhar a graça
da vida, em sua
fuga.
ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Poesia completa ( Do livro: A vida passada a limpo)
Uma onda de questionamento em relação ao conhecimento e aos especialistas tem varrido o mundo em pleno século XXI. O autor do primeiro texto chama esse novo ímpeto social de “ignorância ostentação” e aponta uma mudança da sociedade em relação ao que era respeitado e considerado como um grande valor.
Redija uma dissertação em prosa, na qual você interprete e discuta a ideia apresentada no primeiro texto: o que esse fenômeno revela sobre nossa época? Você pode considerar os aspectos mencionados na coletânea e outros que julgue relevantes.