PROPOSTA DE REDAÇÃO
TEXTO 1
Rios voadores da Amazônia
Os rios voadores da Amazônia são de vital importância para a manutenção das atuais condições climáticas do Brasil e da América do Sul.
(Rodolfo Alves Pena)
Qualquer pessoa que se depara com a expressão “rios voadores” logo se espanta. Será algum tipo de história ou conto? Será algum tipo de trote ou brincadeira? Não. Os rios voadores existem e estão mais próximos do que se imagina. Nesse momento, existem muitos deles sobre as nossas cabeças, invisíveis, transportando quantidades de água equivalentes às vazões dos maiores rios do mundo. Mas o que são os rios voadores?
A expressão “rios voadores da Amazônia” foi criada para designar a enorme quantidade de água liberada pela Floresta Amazônica em forma de vapor d’água para a atmosfera, sendo transportada pelas correntes de ar. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), uma única árvore de 10 metros de altura emite uma média de 300 litros de água por dia, mais do que o dobro do total de água consumida por uma pessoa durante o dia para beber, cozer alimentos, tomar banho etc.
Como funciona?
A floresta funciona como uma “bomba d’água”, ou seja, ela capta água dos solos e emite para a atmosfera em forma de vapor, a partir de um processo denominado evapotranspiração. Parte desse volume de água transforma-se em chuvas que caem na própria floresta, outra parte é transportada pela atmosfera. Estima-se que a quantidade de água conduzida pelos rios voadores seja igual ou superior à vazão do Rio Amazonas – o maior do mundo –, que transporta mais de 200 mil metros cúbicos de água por segundo.
Primeiramente, os rios voadores direcionam-se para o oeste até chegarem à Cordilheira dos Andes. Lá, eles se deparam com esse verdadeiro paredão de mais de 4000 metros, o que faz com que parte dessa umidade precipite, ou seja, transforme-se em chuvas ou até mesmo em neve. Essa precipitação é a grande responsável pela formação de nascentes de grandes rios, dentre eles os rios que dão origem ao próprio Amazonas. Outra parte dessa umidade é “rebatida” de volta para o interior do continente, abastecendo as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, além de outras localidades, como a bacia do Rio da Prata.
Com isso, a partir desse entendimento, bem como de estudos empreendidos pelo projeto “Expedição Rios Voadores”, observa-se que a devastação da Floresta Amazônica poderá influenciar diretamente no clima de toda América do Sul e também de outras partes do mundo. Pois, sem floresta, não haverá rios voadores, a umidade cairá e as massas de ar ficarão mais aquecidas, contribuindo para o aumento intensivo das temperaturas.
(Texto disponível em <http://www.brasilescola.com/brasil/rios-voadores-amazonia.htm>. Acesso em 03/11/2015)
TEXTO 2
O Brasil descobre a água
(Lúcio Flávio Pinto)
O brasileiro descobriu a água pela pior lição: a da sua falta. Foi preciso que as duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, ficassem sob a ameaça de colapso no fornecimento para que a grave realidade se impusesse à população. [...] O paulistano passou a se interessar pela Amazônia não mais como um tema exótico e distante, mas como um elo da cadeia de suas dificuldades e temores.
[...]
De forma cada vez mais constante, o boletim do tempo nas emissoras de televisão incorpora informações sobre o fluxo de nuvens carregadas que saem da Amazônia na direção sul. Rios voadores passou a ser expressão do dia a dia dos moradores de São Paulo, literalmente despejados diante de uma circunstância única dentre as grandes cidades do mundo: o racionamento drástico de água. Essa conjuntura tem, como uma das suas principais causas, a rigorosa estiagem sobre as áreas dos reservatórios da capital paulista, provocando uma seca recorde.
[...]
Nesse ponto, os paulistanos passaram a se interessar por um fenômeno muito bem mostrado através do documentário Dança da Chuva, realizado pela Fapesp, a Fundação de Pesquisa de São Paulo. O filme explica um enigma: como é que uma área situada no Centro-Sul do continente, mesmo estando nessa faixa do planeta, não tem características semelhantes às dos grandes desertos, localizados na mesma posição.
Nesse quadrilátero, que tem São Paulo como o seu centro, destinado naturalmente a ser uma área desértica, se concentra 70% do PIB da América do Sul, com as regiões Sul e Sudeste do Brasil e a Argentina. É onde: 1) se produz mais energia; 2) estão as maiores indústrias e 3) concentra-se a principal agropecuária do país. A região é pulverizada de água abundante por nuvens trazidas pelos ventos da Amazônia. São os rios voadores, expressão que passou a figurar no cotidiano das áreas ameaçadas pela falta de água. São 17 bilhões de toneladas de aerossóis atmosféricos desviados na direção sul, um volume de água comparável ao do Rio Amazonas, o maior de todos, com seus 20 bilhões de toneladas despejados no Oceano Atlântico. Esse incrível deslocamento de massa de vapor em suspensão causa chuvas torrenciais e eventualmente tragédias, mas não tem conseguido estancar a progressiva estiagem em alguns pontos da região.
Seria o efeito do desmatamento na Amazônia. São as grandes árvores amazônicas que retêm o vapor vindo dos oceanos, que são a maior fonte de chuvas na Terra, além de lançar água ao ar pela evapotranspiração, funcionando como bombas de captação e lançamento através das suas copas e raízes. Sem as árvores, esse processo se desfaz.
A derrubada da floresta nativa da Amazônia já se aproxima de 800 mil quilômetros quadrados, o equivalente a três vezes a extensão de São Paulo. O tamanho dessa alteração teria que modificar os processos da natureza. Alguns fazem essa afirmativa de maneira categórica. Outros a suscitam ainda como hipótese, carente de uma plena confirmação científica. Outros negam a relação causal.
[...]
Ainda que o efeito da ação humana sobre a natureza não esteja cientificamente demonstrado em todas as suas etapas, ele se evidencia na própria região. É perceptível empiricamente a mudança de microclimas e até além deles nas áreas que perderam a sua vegetação original.
À parte essas complexidades, observadas há muito mais tempo do que podem sugerir os estudiosos de hoje, diferenciados dos mais antigos por sua parafernália tecnológica contra a percepção a olho nu (e inteligência ultra-aguçada), o conhecimento autoriza o pesquisador Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São Paulo, a dizer que a Amazônia é uma “usina de serviço ambiental”.
Não quer dizer que a região deva cobrar uma taxa por seus rios voadores, seguindo a cômoda prática dos governos estaduais de reduzir as questões à cobrança de tributos e derivados. Esse é um serviço prestado pela natureza. Mas há um ingrediente humano nessa história: é a destruição do bem mais nobre da região, e que a define como tal: a floresta.
Se é útil ao quadrilátero mais rico do continente que a água continue a seguir sua rota natural de norte para o sul, o pagamento pode ser feito pelo apoio às pesquisas capazes de esclarecer esse processo e por medidas que não só inibam o desmatamento como disseminem uma nova cultura em seu lugar: a de que é imprescindível a manutenção da floresta.
(Adaptado de PINTO, L. F. O Brasil descobre a água. Disponível em <http://amazoniareal.com.br/o-brasil-descobre-a-agua/>. Acesso em 03/11/2015)
GÊNERO TEXTUAL – RELATO
Após a leitura dos textos de apoio, imagine-se na seguinte situação: você está pleiteando uma vaga de estagiário em um jornal de sua cidade; a vaga é para auxiliar nas pesquisas de um jornalista que lhe solicita, como teste, que você apresente um relato para compor uma reportagem cujo tema é “os rios voadores da Amazônia”. Para a produção desse relato, você resolve entrevistar pessoas que tenham vivido problemas decorrentes ou do acúmulo ou da ausência da água nas cidades onde moram. Redija, portanto, um RELATO sobre a situação vivida por um dos entrevistados, na cidade onde ele mora, como consequência do acúmulo ou da ausência desses rios voadores da Amazônia. Seu texto deve conter o mínimo de 10 e o máximo de 15 linhas.