[...] os uniformes são trajes que estão introjetados há muito tempo, e, ao que se percebe, seu objetivo é identificar e particularizar indivíduos participantes de determinados grupos sociais. [...]

Sobre a utilização dessa identidade vestuária escolar, Marcon afirma que “no Brasil os uniformes escolares passaram a ser utilizados entre 1800 e 1900 com o advento da Escola Normal, sendo que a primeira Escola Normal no Brasil surgiu em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XIX” (MARCON, 2010, p. 17). A função dessa escola era habilitar professores para realizar atividades no magistério de ensino primário. Essa habilitação também era oferecida em cursos públicos de nível secundário, o que hoje denominamos Ensino Médio.

As escolas tradicionais adotaram uniformes, de fato, somente a partir da década de 1920 e, as demais, na década de 1930.

Com a incitação do simbolismo como: cores, nome e símbolo da escola, os objetivos da criação dos uniformes escolares atingiram sua mensagem. Estudos reconheceram que, atrás de um uniforme, existe uma mensagem subliminar segundo a qual se reclama do aluno um porte exemplar, zelando assim pela imagem da instituição em que estuda e, inevitavelmente, representa, sem importar se o aluno está nas dependências da escola ou fora dela. [...]

O uniforme representa pertença a um determinado grupo social, cultural e intelectual. [...]

Se antigamente os uniformes escolares eram projetados como transformação de grupos sociais, com a crescente democratização do acesso à escola, majoritariamente pública, em muitos casos o fator de discriminação e de diferenciação social é acentuado. Um exemplo dessa acentuação são os guarda-pós brancos que indicavam escolas frequentadas por alunos de menor poder aquisitivo.

No final do século XX, muitas mudanças ocorreram no que diz respeito aos modelos dos uniformes, principalmente nas instituições privadas, trazendo mais conforto e praticidade. Sua simbologia também se altera, o que gera mudança de valores de outros tempos, apesar de ainda ser um agente identificador. Agora não mais um objeto de particularização do indivíduo, mas um vestuário prático e enquadrado na moda do dia a dia daqueles que dele se utilizam. [...]

O uniforme, mesmo sendo modificado, em sua essência ainda é parte de identificação de um grupo e, por vezes, diferenciação de status.

(Gilson Monteiro)

A simbologia das roupas varia de cultura para cultura. Para o homem moderno representa uma espécie de espelho de si mesmo. Quando o consumidor decide comprar uma roupa, ele não está apenas comprando alguns pedaços de panos bem costurados; ele está comprando sua própria alma para se refletir no outro. Está comprando também toda a representação imagética de grupo que a vestimenta representa.

Esse processo de reflexo de si mesmo nos objetos comprados não se refere apenas às peças de vestuário. Vender um produto, antes de mais nada, é trabalhar para que o possível comprador crie imagens interiores à simples menção do nome do produto. O consumidor, então, no processo de compra, estaria comprando uma imagem que ele faz de si próprio, refletida no que se poderia chamar de seu objeto de desejo.

No caso da roupa, essa simbologia é maior na sociedade moderna, embora as mudanças sejam rápidas e a representatividade de uma roupa, como moda, não dure mais que uma estação. No entanto, essas mudanças, de certa forma, alimentam-se de ideias anteriores. A moda fala de si mesma e se realimenta.

De uma forma geral, a roupa sempre representou algo de mitológico e uma marca da separação da sociedade em castas e classes. A roupa serve para distinguir a classe social à qual o indivíduo pertence. Carrega todo o significado do papel que o indivíduo representa dentro da sociedade. Modernamente não representa necessariamente uma classe social, mas uma forma de distinguir o grupo ao qual o indivíduo pertence.

À primeira vista, a representação dos papéis é simbolizada exatamente pelo modo de se vestir, embora não haja qualquer garantia de que o uso de uma roupa considerada da "moda" possa assegurar que a personalidade de quem a usa esteja de acordo com o papel que a pessoa representa ao usá-la. A roupa "elegante" está sempre associada às classes sociais mais abastadas, mais educadas e mais finas, ao passo que a roupa mais simples representa um cidadão da mesma forma: mais simples, menos educado, com menos dinheiro. [...]

Ao entrar em uma butique, em uma loja de roupas, o consumidor não busca apenas proteger o corpo. Não quer apenas um objeto útil. Quer a diferenciação que essa roupa pode dar e a mensagem que pode transmitir através dela. "O traje manifesta o pertencer a uma sociedade caracterizada: clero, exército, marinha, magistratura etc. Tirá-lo é, de certa forma, renegar essa relação" (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1991). [...]

Por outro lado, a roupa sempre representou um traço da individualidade. É uma forma de a pessoa demonstrar que é única, que pode se diferenciar das outras em função do que usa. Através dos tempos, o traje carregou essa representação de classe, de casta social: É como se a pessoa dissesse: eu pertenço a determinada classe, a determinada casta, ao ostentar uma roupa.

Mesmo dentro dessas castas, a roupa sempre teve um caráter de marcar uma distinção, ou seja, é capaz de marcar a criação de subgrupos dentro de um grupo, como é o caso dos uniformes.

Contexto e comando de produção: Os uniformes escolares estão presentes na rotina escolar há mais de um século. A maioria das escolas (públicas ou privadas) os adota. Você, como aluno de uma escola na qual o uniforme é obrigatório, resolve se posicionar a respeito dessa exigência a fim de criar um amplo debate na escola. Considerando os textos de apoio, elabore uma RESPOSTA ARGUMENTATIVA para a seguinte questão: O uniforme escolar é uma maneira de impor identidades ao estudante? O seu texto será publicado na seção Opinião do Estudante, disponível no site da escola. Caso opte por assinar, utilize apenas ESTUDANTE. Seu texto deve conter o mínimo de 10 e o máximo de 15 linhas.