PROPOSTA DE REDAÇÃO

Texto I
Hoje impera por todo lugar uma algofobia, uma angústia generalizada diante da dor. Também a tolerância à dor diminui rapidamente. A algofobia tem por consequência uma anestesia permanente. Toda condição dolorosa é evitada.
(...)
A missão de felicidade da psicologia positiva e a promessa de um oásis de bem-estar medicamente produzível são irmanadas. A crise de opioides estadunidense tem [um] caráter paradigmático. Dela toma parte não apenas a cobiça material de uma empresa farmacológica. Antes há, em seu fundamento, uma suposição fatal para a existência humana. Só uma ideologia do bem-estar permanente pode levar a que medicamentos que eram originariamente usados na medicina sejam usados com grande pompa também nos saudáveis. Não por acaso o especialista em dor David B. Morris já notava, décadas atrás: “Os americanos de hoje pertencem, provavelmente, à primeira geração da Terra que veem uma existência livre de dor como um direito constitucional. Dores são um escândalo”.
A sociedade paliativa coincide com a sociedade do desempenho. A dor é vista como um sinal de fraqueza. (..)
A sociedade paliativa é, ademais, uma sociedade do curtir [Gefält-mir]. Ela degenera em uma mania de curtição [Gefälligkeitswahn]. Tudo é alisado até que provoque bem-estar. O like é o signo, sim, o analgésico do presente. Ele domina não apenas as mídias sociais, mas todas as esferas da cultura. Nada deve provocar dor. Não apenas a arte, mas também a própria vida tem de ser instagramável, ou seja, livre de ângulos e cantos, de conflitos e contradições que poderiam provocar dor. Esquece-se que a dor purifica. Falta, à cultura da curtição, a possibilidade da catarse. Assim, sufocamo-la com os resíduos [Schlacken] da positividade, que se acumulam sob a superfície da cultura de curtição.
https://www.nexojornal.com.br/estante/trechos/2021/05/14/%E2%80%98Sociedade-paliativa%E2%80%99-o-modo-contempor%C3%A2neo-de-lidar-com-a-dor
Texto II

Ilustración de @johansson.linnea
Texto III
Um bom exemplo desta cultura de negação da origem psíquica da dor, e, portanto, do seu tratamento por meio de uma psicoterapia que implique o sujeito, é um filme publicitário de uma marca de analgésico. Veiculado na televisão no ano de 2010, o mesmo objetiva transmitir a mensagem de que ao tomar o analgésico para dor de cabeça, esta é neutralizada, induzindo a pensar que com o remédio também é possível livrar-se dos problemas pessoais. Estes seriam conflitos com o chefe, uma multa, uma discussão com o namorado, entre outros, que são levados em direção ao céu por meio de balões com o símbolo do remédio e ao som de uma música calma e agradável. Desse modo, há uma busca de prazer momentâneo, em que a dor física é anestesiada e os problemas pessoais ligados a essa dor poderiam ser resolvidos rapidamente com um simples medicamento.
(Primeiros Passos • Rev. latinoam. psicopatol. fundam. 16 (2) • Jun 2013 • https://doi.org/10.1590/S1415-47142013000200009 )
PROPOSTA
O primeiro texto é parte de um ensaio de Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, no qual ele discorre sobre o que chama de sociedade paliativa. Ele descreve com exemplos a aversão que a sociedade contemporânea tem à dor. O segundo texto, uma charge, apresenta os novos imperativos que giram em torno da felicidade. Por fim, o texto três descreve uma propaganda que parece prometer a eliminação de qualquer dor através de analgésicos.
Considere a ideia de Byung-Chul Han.
Suas opiniões são realmente válidas para nossos dias?
O que motiva esse jeito de viver?
O que essa postura revela sobre nossa sociedade?
Quais são as consequências desse tipo de postura?
Como avaliar? Reflita sobre essas ideias e redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a deixar claro seu ponto de vista.