PROPOSTA DE REDAÇÃO
Texto 1
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os animais de estimação já somam mais de 74 milhões de indivíduos nos lares brasileiros. A mestranda em Antropologia Renata Cortez, pela Universidade de São Paulo (USP), estuda desde 2012 a relação entre pessoas e animais de estimação. “Escolhi pesquisar a humanização dos animais porque me chamou a atenção o quanto os pets ficaram mais visíveis socialmente, sobretudo no que se refere aos cuidados e ao carinho que as pessoas dedicam a eles. O que é muito evidente na pesquisa de campo é o afeto dos donos por seus animais. Quem deixa seu bichinho dentro de casa, dividindo o espaço e a alimentação com a família, humaniza o animal, considerando que ele possui moral, personalidade e inteligência. Os donos contam que os pets têm consciência, sabem expressar-se e têm gostos e preferências”, explica a antropóloga. Além dessa visão sobre o comportamento dos pets, os donos consideram muito a reciprocidade de afeto. A pesquisadora da USP afirma que “há uma relação de companheirismo que anda com a noção de afeto e moral. Os donos acreditam que seus bichinhos sabem pedir para comer e passear, por exemplo. O que escuto é que, com a convivência, a relação vai se estreitando e os laços ficam mais fortes. Antes de ter o animal, muitos achavam que o pet não pensava. Sempre escuto: ‘Agora que sei que o cachorro me entende e tem moralidade, vou tratá-lo de forma diferente’. Isso resulta na melhor comida, nos cuidados com a higiene e em maiores doses de humanização”. Renata Cortez ainda chama a atenção para outro aspecto da percepção dos proprietários sobre a nobreza moral de seus animais. “Muitas vezes, os donos dizem que o pet é mais humano que o ser humano. Ou seja, acreditam que os animais têm mais qualidades boas. Os animais não matam, não fazem nada de errado, não roubam, não atacam ninguém sem motivo, não cometem atrocidades”, conta. Sobre o tratamento superprotetor dado aos pets, o Professor Mauro Lantzman, médico-veterinário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), explica a dinâmica estabelecida na cabeça dos donos. “As pessoas não tratam os animais como pessoas, elas tratam como sabem tratar outro ser vivo. Se a referência dela é o ser humano, vai tratar assim”.
(Revista CRMVSP. “Dos quintais para os corações”. Informativo no 60, novembro de 2015. Adaptado.)
Texto 2
A humanização dos animais de estimação nem sempre é o caminho mais saudável para o animal ou para os seus donos. Enquanto muitos desses donos não enxergam desvantagens nessa relação, especialistas demonstram algumas preocupações. Bruno Leite, terapeuta de cães e especialista em psicologia canina e adestramento, explica que grandes gestos de amor e zelo são relativamente inofensivos. O problema é quando os donos atribuem certa inteligência humana aos bichos. “Os donos acabam castigando seu cão por ‘errar’, quando na verdade ele não faz a mínima ideia do que o humano considera certo e errado. Eles não entendem nossos princípios e normas, a nossa moral”. O especialista explica que o excesso de punição pode gerar cães cada vez mais destrutivos, agitados, compulsivos e ansiosos. “Primeiro, porque a ansiedade é um efeito colateral dos castigos; segundo, porque muitos donos entendem que amar é transformar o cão num mini-humano; quando amar parece estar mais ligado a entender e aceitar as diferenças”, diz Bruno. Um estudo da Universidade de Michigan-Flint analisou a reação de 174 adultos que perderam seu cão ou gato. Os resultados mostram que 85,7% dos donos apresentaram ao menos um sintoma de luto nos momentos iniciais. Após seis meses, a dor ainda era sentida por 35,1% dos adultos, e, mesmo depois de um ano, 22,4% das pessoas ainda sentiam os efeitos da partida. “A expansão da presença de animais de estimação os tem colocado cada vez mais como um integrante da família e o adoecimento ou a perda desses parceiros pode fazer sofrer caso a relação seja muito humanizada. É importante buscar equilíbrio na interação homem-animal doméstico para que não ocorram exageros”, explica a analista de comportamento Laércia Vasconcelos.
(Ailim Cabral. “Humanização dos pets é vista com ressalvas por especialistas”. https://www.uai.com.br, 29.09.2016. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
Humanização dos animais: há limites para a relação entre bichos de estimação e pessoas?