PROPOSTA DE REDAÇÃO
Você é um estudante que pertence ao grêmio estudantil de sua escola. Depois de uma aula de sociologia sobre eleições, você percebeu que havia necessidade de informação sobre Fake News em ano eleitoral. Após uma conversa com os colegas de grêmio e a direção da escola, assumiu a responsabilidade de fazer um cartaz de campanha informativa para que não fossem compartilhadas Fake News. O cartaz com as informações será afixado em lugares públicos na escola.

Campanha comunitária: trata-se de um texto médio que esclarece, conclama ou orienta a coletividade sobre a prática que deve ser desestimulada.
Nesse texto, você deverá, necessariamente:
a) explicar de maneira didática o perigo das Fake News;
b) informar como ocorre o processo de disseminação.
Para tanto, você deve levar em conta tanto o texto acima quanto os excertos abaixo.
1. Nas “democracias iliberais”, segundo o vernáculo do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, basta inundar as redes sociais e os grupos de WhatsApp com a versão dos fatos que se quer emplacar, para que ela se torne verdade — e abafe as outras narrativas, inclusive e sobretudo as reais.
Essa avalanche de desinformação, muitas vezes, é impulsionada com recursos de marketing que fazem sobressair determinados conteúdos. No Facebook e no Instagram, por exemplo, é possível pagar para que um conteúdo atinja mais pessoas, seja visto mais amiúde ou alcance certos públicos (segmentados por idade, gênero, localização e outros parâmetros). No Twitter e no Facebook, quanto mais engajamento (cliques e curtidas) tem um conteúdo, maior destaque ele recebe. No entanto, muitas vezes usam-se sistemas automatizados, os robôs ou bots, ou então pessoas contratadas, os trolls, para forjar maior engajamento em certos conteúdos e dar visibilidade a certo tema, simulando uma popularidade que ele não tem.
Outra maneira de criar a impressão de que “todo mundo está falando sobre determinado assunto” e, assim, ofuscar outros temas é contratar agências que fazem disparos em massa no WhatsApp. Dessa forma é possível enviar para milhares de pessoas em milhares de grupos de WhatsApp memes, textos, áudios ou vídeos que disseminam um ponto de vista.
Uma vez “impulsionada”, a narrativa é então propagada naturalmente pelas redes orgânicas, que são as pessoas de carne e osso que acreditam naquilo que está sendo veiculado. Os americanos chamam isso de firehosing, derivado de fire hose, mangueira de incêndio — trata-se da disseminação de uma informação, que pode ser mentirosa, em um fluxo constante, repetitivo, rápido e em larga escala. As pessoas são bombardeadas de todos os lados por uma notícia — sites de notícias, grupos de WhatsApp, Facebook, Instagram — e essa repetição lhes confere a sensação de familiaridade com determinada mensagem. A familiaridade, por sua vez, leva o sujeito a aceitar certos conteúdos como verdadeiros. Muitas vezes, esse será o primeiro contato que ele terá com determinada notícia — e essa primeira impressão é muito difícil de desfazer.
(Mello, Patrícia Campos. A máquina do ódio . Companhia das Letras. Edição do Kindle.)
2. “nada era verdadeiro. […] A propaganda de massa descobriu que o seu público estava sempre disposto a acreditar no pior, por mais absurdo que fosse, sem objetar contra o fato de ser enganado, uma vez que achava que toda afirmação, afinal de contas, não passava de mentira. […] Se recebessem no dia seguinte a prova irrefutável da sua inverdade, apelariam para o cinismo; em lugar de abandonarem os líderes que lhes haviam mentido, diriam que sempre souberam que a afirmação era falsa, e admirariam os líderes pela grande esperteza tática.”
(Hannah Arendt, Origens do totalitarismo: Antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. Trad. De Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)
3. 2 em cada 3 receberam fake news nas últimas eleições, aponta pesquisa
Levantamento mostra que internet via celular é a principal fonte de notícias para 32% das pessoas
LONDRES
Mais de dois terços das pessoas afirmam ter recebido fake news pelo WhatsApp durante a campanha eleitoral de 2018, revela pesquisa divulgada durante o Brazil UK Forum, conferência realizada nos dias 18 e 19 de maio na London School of Economics e na Universidade Oxford, no Reino Unido.
(...)

(Celulares usados em empresa para enviar mensagens de WhatsApp em massa – Reprodução)
“Os resultados estão em linha com pesquisas de outros países e mostram que as fake news se tornaram parte estrutural das campanhas eleitorais, antes elas não alcançavam tanta gente, com tamanha velocidade”, diz Mauricio Moura, fundador e CEO da Ideia Big Data.
O levantamento também demonstra a descrença das pessoas na mídia tradicional. De acordo com a pesquisa, a TV é a fonte mais confiável de notícias para 30%, seguida pela internet via celular, com 29%. Para apenas 8% dos entrevistados, o rádio é a fonte mais confiável, e 5% apontam os jornais impressos. Na opinião de 12% das pessoas, amigos e família são a origem mais confiável de informação, e 16% afirmam não confiar em nenhuma fonte de notícias.
O alvo de maior descrença são os jornais impressos: apenas 26% dos entrevistados concordam com a frase “eu confio nos jornais impressos”, 43% discordam e 31% não concordam, nem discordam. Já os telejornais são considerados confiáveis por 35% dos entrevistados, e não confiáveis por 40%, enquanto 25% nem concordam, nem discordam. Entre os entrevistados, 52% afirmam confiar em notícias enviadas pela família em mídias sociais e 43% crê em informações mandadas por amigos.
“A confiança das pessoas em notícias compartilhadas por amigos e familiares é o dobro da confiança em jornais; isso é muito preocupante, porque a maior parte das fake news são recebidas de amigos e família”, diz Moura. De acordo com a pesquisa, apenas 22% das pessoas checam a veracidade das notícias antes de compartilhar. A enorme maioria dos entrevistados na pesquisa, 92%, não sabe o que são agências e checagem de fatos ou notícias.
(Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/2-em-cada-3-receberam-fake-news-nas-ultimas-eleicoes-aponta-pesquisa.shtml, acessado em 05.10.2020. )