PROPOSTA DE REDAÇÃO
Prezado(a) Candidato(a)
Considerando o tema do amor no mundo contemporâneo, apresentamos os textos I,II, III e IV, que ilustram o fato. Assim, com base em suas leituras e experiências de vida, bem como a partir dos textos motivadores dispostos a seguir, escolha UMA das propostas a seguir apresentadas e componha seu texto.
Proposta 1: Para exemplificar o tipo de amor no mundo contemporâneo, no texto I, a autora afirma:
“Meu ex-parceiro vivia num mundo virtual que eu não conhecia. Era uma pessoa ao vivo e outra completamente diferente no Instagram”.
A partir desse comentário, escreva uma página de diário, na qual você relate um episódio que poderia ter levado a essa conclusão e faça uma reflexão sobre o amor nos dias de hoje. Você pode ser um homem ou mulher escrevendo sobre o exparceiro(a).
Proposta 2: Na coletânea, você encontrará 2 textos com opiniões diferentes e até contrárias sobre o amor, o texto de Regina Navarro Lins e o texto de Luís Felipe Pondé. No caso da autora, ela discorre sobre o fim do amor romântico. No caso de Pondé, ele se vale de uma reflexão filosófica para dizer que o amor, de alguma maneira, vale a pena. Suponha que você tenha lido o artigo de um dos dois, tenha discordado da ideia de um dos dois autores e tenha resolvido escrever uma carta para tentar convencer de que o autor escolhido deve reavaliar sua posição. Escolha seu interlocutor, e escreva uma carta contra-argumentativa.
Texto I
Não mostrar meu namorado nas redes sociais deixou a minha relação mais saudável
Rafaela Burian (@rafaelaburian) (Foto: Reprodução/Instagram)
Vivi durante um ano da minha vida em um relacionamento completamente tóxico movido pelos likes das redes sociais. Meu ex parceiro vivia num mundo virtual que eu não conhecia. Era uma pessoa ao vivo e outra completamente diferente no Instagram.
A princípio, as redes sociais foram criadas para integrar e aproximar pessoas. Mas no meu caso, só me afastou da pessoa que eu escolhi para estar ao meu lado. Eu expunha meu relacionamento todos os dias no meu perfil no Instagram: fazia stories, publicava fotos, escrevia comentários sempre que alguém nos elogiava. Até fã clube chegaram a criar para nós dois. E aquilo, de alguma forma, me confortava.
(Vogue, 10.06.2019)
Texto II
O fim do amor romântico
por Regina Navarro Lins
VEJA 30/10/2020
Não ache que a sua experiência pessoal é uma regra, muita gente tem mais sorte do que a senhora no relacionamento. Se a senhora nunca teve um amor de verdade, o azar é seu. Nunca foi amada, por isso fala mal do amor. É complexada porque nunca ninguém te quis. Que pessoa fria. É contra o amor.
Esses são alguns dos inúmeros ataques dirigidos a mim nas redes sociais quando critico o ideal do amor romântico. Imaginam que estou, na verdade, criticando o amor. E não se trata disso. A questão é que existe uma crença enganosa de que essa é a única forma possível de amar — um equívoco, na minha visão. O amor é uma construção social que, a cada período da história, se apresenta de uma maneira diferente. No caso do viés romântico, que fique claro: o problema não reside em mandar flores ou jantar à luz de velas, tudo muito bem-vindo. O que critico mesmo são as falsas expectativas alimentadas, baseadas na idealização da pessoa amada. Características de personalidade que ela não possui lhe são atribuídas. No fim, não se relaciona com a figura real, mas com aquela projetada de acordo com as nossas necessidades.
Qual é atualmente a propaganda mais difundida, poderosa e eficaz do mundo ocidental? Coca-Cola, Apple, Microsoft? Não. É justamente a do amor romântico. Ela chega até nós diariamente por meio de novelas, músicas, cinema, publicidade, com seu conjunto de crenças e valores que, mesmo inconscientemente, define como devemos sentir e agir em um relacionamento. Ocorre que estamos em meio a um processo de profunda mudança de mentalidade. A incessante busca da individualidade caracteriza a nossa época. A grande viagem do ser humano é para dentro de si mesmo. Cada um quer saber quais são suas possibilidades na vida e desenvolver seu potencial. E o amor romântico propõe o exato oposto disso. Ele prega que os dois se transformem em um só.
Texto III
Luiz Felipe Pondé
Meu irmão Kierkegaard
Folha de São Paulo, 13.06.2011
(...)
Somos um nada que ama.
A filosofia da existência é uma educação pela angústia. Uma vez que paramos de mentir sobre nosso vazio e encontramos nossa "verdade", ainda que dolorosa, nos abrimos para uma existência autêntica.
Deste "solo da existência" (o nada), tal como afirma o dinamarquês em seu livro "A Repetição", é possível brotar o verdadeiro amor, algo diferente da mera banalidade.
É conhecida sua teoria dos três estágios como modos de enfrentamento desta experiência do nada. O primeiro, o estético, é quando fugimos do nada buscando sensações de prazer. Fracassamos.
O segundo, o ético, quando fugimos nos alienando na certeza de uma vida "correta" (pura hipocrisia).
Fracassamos. O terceiro, o religioso, quando "saltamos na fé", sem garantias de salvação. Mas existe também o "abismo do amor".
Sua filosofia do amor é menos conhecida do que sua filosofia da angústia e do desespero, mas nem por isso é menos contundente.
Seu livro "As Obras do Amor, Algumas Considerações Cristãs em Forma de Discursos" (ed. Vozes), traduzido pelo querido colega Álvaro Valls, maior especialista no filósofo dinamarquês no Brasil, é um dos livros mais belos que conheço. A ideia que abre o livro é que o amor "só se conhece pelos frutos". Vê-se assim o caráter misterioso do amor, seguido de sua "visibilidade" apenas prática.
Angústia e amor são "virtudes práticas" que demandam coragem.
Kierkegaard desconfia profundamente das pessoas que são dadas à felicidade fácil porque, para ele, toda forma de autoconhecimento começa com um profundo entristecimento consigo mesmo.
Texto IV
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.