PROPOSTA DE REDAÇÃO
Proposta 1
Suponha que você seja a secretária de uma escola pública e tenha recebido uma carta de reclamação de uma mãe em relação ao tipo de educação dada ao filho, portador de síndrome de Down. Você ficou responsável por responder à carta, tentando convencê-la de que a inclusão, mesmo que precária, ainda garante uma vivência mais plena para seu filho. Faça uma carta-resposta e nela você deverá:
- Considerar os argumentos utilizados pela mãe e respondê-los.
- Assinalar os benefícios do sistema de inclusão.
Para redigir seu texto, leve em conta os excertos apresentados a seguir.
Texto 1 - Carta de reclamação
Campinas, 20 de março de 2020
Prezado Pedagogo,
Eu, Maria do Socorro Evangelista, mãe do aluno Evandro Aparecido Evangelista, aluno desta escola, frequentando a 4ª série do Ensino Fundamental, gostaria de registrar minha reclamação em relação ao tratamento dispensado ao meu filho, portador de Síndrome de Down. Na posição da cidadã e mãe faço meu protesto diante de uma situação em que meu filho sofre as consequências de um processo de inclusão forçado.
A cada dia, quando volta da escola, noto que os avanços cognitivos do Evandro são bastante limitados. Ao conversar com a professora dele, percebi que ela não teve treinamento necessário para lidar com uma criança com esse tipo de necessidade especial. Além disso, ela tem que lidar como outras 30 crianças na sala. Qual o tipo de atenção que ela dispensa em relação ao meu filho?
Essa falta de preparação dos docentes me deixa ainda mais preocupada com os discentes. Afinal, se os professores não estão preparados para lidar com um aluno como o meu filho, como poderão estar atentos à forma como os colegas o tratam? Fico angustiada só de imaginar algum tipo de bullying em relação a alguém que é diferente como o Evandro.
Não acredito que esse tipo de educação realmente seja melhor para ele. Gostaria que meu filho tivesse uma educação compatível com as necessidades dele.
Atenciosamente,
Maria do Socorro Evangelista
Texto 2
A educação inclusiva como resposta às necessidades especiais de todas as crianças
A Educação Inclusiva surgiu, e vem crescendo no mundo inteiro, com base no pressuposto de que TODA criança tem direito à educação de qualidade e de que, portanto, os sistemas educacionais têm que mudar para poder responder a essas necessidades. Na Educação Inclusiva defendemos que TODAS as crianças SÃO ESPECIAIS e, por isso mesmo, devem receber o que a escola tem de melhor – em outras palavras todas as escolas devem ser especiais. Como crianças especiais, TODAS têm direito de acesso à educação e de conviver com as crianças de seu próprio bairro, seus irmãos, seus colegas, seus pais ou familiares e TODAS merecem nossa atenção, cuidado e aperfeiçoamento.
A Educação Inclusiva, portanto, não diz respeito somente às crianças com deficiência – cuja grande maioria no Brasil ainda permanece fora das escolas, porque nós nem tentamos aceitá-las – mas diz respeito a todas as crianças que enfrentam barreiras: barreiras de acesso à escolarização ou de acesso ao currículo, que levam ao fracasso escolar e à exclusão social. Na verdade, são essas barreiras que são nossas grandes inimigas e devem ser foco de nossa atenção para que possamos identificá-las, entendê-las e combatê-las.
(...)
O movimento da educação inclusiva no mundo
Mundialmente a atenção que tem sido dada ao sistema educacional como um todo tem crescido significativamente após a publicação da Declaração Mundial de Educação para Todos e Diretrizes de Ação para o Encontro das Necessidades Básicas de Aprendizagem (Jomtien, Tailândia) em 1990, que declara que:
“todas as pessoas têm o direito fundamental à Educação e que a educação para todos representa um consenso mundial de uma visão muito mais abrangente de educação básica, assim como representa um renovado compromisso para assegurar que as necessidades básicas de aprendizagem de todas as crianças, jovens ou adultos serão encontradas, efetivamente, em todos os países.” (Haddad, Prefácio, 1990)
(...)
Na mesma linha de busca de respostas à diversidade humana existente nas escolas e procurando reforçar o compromisso com a Educação para Todos, a Declaração de Salamanca, Princípios, Política e Prática em Necessidades Educacionais Especiais, 2, publicada em 1994, defende “o princípio da Inclusão através do reconhecimento da necessidade de ir ao encontro da ‘escola para todos’ - que são instituições que incluem todas as pessoas, celebram as diferenças, apoiam a aprendizagem e respondem adequadamente às necessidades individuais. Assim, estas instituições constituem-se uma importante contribuição para a tarefa de adquirir Educação para Todos e para fazer escolas educacionalmente mais efetivas.” (Mayor,1994, p.iii-iv).
Apesar do intenso debate sobre a necessidade urgente de transformação do sistema regular de ensino em um ambiente mais inclusivo, justo e mais democrático, as resistências ainda são muitas e, consequentemente, o progresso em direção a escolas mais inclusivas ainda é limitado. Mas o que seriam essas “tais” escolas inclusivas?
Escolas Inclusivas são escolas que devem levar em conta TODAS as crianças e suas necessidades educacionais, pessoais, emocionais, familiares etc. Uma escola inclusiva deve ser humanística, no sentido de assumir a formação integral da criança e do jovem como sua finalidade primeira e última. Uma escola inclusiva não pode somente se referir a um grupo social em desvantagem e excluído (mais frequentemente conhecido como o grupo das crianças com deficiência), mas deve, ao invés disso, comprometer-se e lutar pelo direito de todos aqueles que vivem em situação de risco, como resultado de uma sociedade injusta e desigual que privilegia os que têm em detrimento daqueles que nada possuem.
(...)
O conceito de inclusão
Inclusão é um termo que tem sido usado predominantemente como sinônimo para integração de alunos com deficiência no ensino regular denotando, dessa forma, a perpetuação da vinculação desse conceito com a educação especial. Contudo, mesmo com muitas controvérsias quanto ao seu significado, já existem alguns pressupostos consensuais que estão subjacentes à sua definição.
(Fonte: Ferreira, Windyz. “Será que sou a favor ou contra uma escola de qualidade para todos???” In http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/revistainclusao1.pdf)
Proposta 2
Você é aluno do último ano do Ensino Médio. Seu professor de Português resolveu discutir em sala de aula a letra da música Éterea, do compositor Criolo. O tema relacionado à temática LGBTQIA+ provocou discussão, pois parte dos alunos disseram que se tratava de uma doutrinação ideológica. O professor, já esperando a polêmica, lançou um desafio: fazer uma resenha crítica da canção, em que se prove que o texto tem qualidades linguísticas e que poderia ser utilizado em sala de aula, independentemente da temática. Você deve, portanto, escrever uma resenha sobre a canção, na qual você:
a) resuma a ideia da canção de tal forma que uma pessoa que não tenha tido acesso a ela possa ter uma ideia do seu conteúdo e da forma.
b) considerando os pressupostos do uso de poesia em sala da aula (texto 2), defenda que ela pode ser usada com finalidade didática.
Texto 1 – base para a resenha
Etérea
Criolo
Uma bala
Quase hétero
Etérea, massa, complexo
De não se entender
Um canalha
Quase hétero
Ignorar amor por complexo
Medo de nele se ver
É necessário quebrar os padrões
É necessário abrir discussões
Alento pra alma, amar sem portões
Amores aceitos sem imposições
Singulares, plural
Se te dói em ouvir, em mim dói no carnal
Mas se tem um jeito esse meu jeito de amar
Quem lhe dá o direito de vir me calar?
Eu sou todo amor, medo e dor, se erradicar
Feito o sol que ilumina a umidade suspensa do ar
Homo, homo, homo
Homo, homo, homo
Homo, homo, homo
Homo sapiens, errou
Homo, homo, homo
Homo, homo, homo
Homo, homo, homo
Homo sapiens, errou
Texto 2
Livro do professor Alexandre Pilati defende o uso da poesia nas escolas
Em 'Poesia na sala de aula', Pilati discute aspectos teóricos e sugere uma série de atividades para os professores desenvolverem com os alunos
A poesia pouco comparece às salas de aula e, quando chega até lá, é na condição de coadjuvante para ilustrar a gramática ou a história. Todavia, o êxtase que ela proporciona não pode ser sonegado às novas gerações. Só a escola permite o acesso a certos autores. A poesia pode estar em Carlos Drummond de Andrade, mas também em uma letra de Renato Russo ou em um rap de Gog, acredita o professor e poeta Alexandre Pilati. No entanto, o objetivo final é ampliar o repertório de linguagem e de humanidade.
Por isso, ele escreveu o livro Poesia na sala de aula. Pilati discute aspectos teóricos e sugere uma série de atividades para os professores desenvolverem com os alunos em sala de aula. Ele atribui grande importância à leitura coletiva e defende a preparação para fruir plenamente da poesia. Nesta entrevista, ele debate os entraves e as possibilidades da poesia na escola: A poesia é comunicação humanizada.
Qual a proposta desse livro?
Esse livro surge de duas necessidades: a primeira é discutir a especificidade da poesia em sala de aula que o professor e o mediador de leitura precisam considerar. É preciso reconhecer que, nos melhores casos, a literatura é tratada apenas como atividade de leitura. Como se ler um poema fosse igual a ler uma coluna de jornal. A ideia é discutir algumas chaves que poderiam levar ao debate sobre o texto literário.
O que é essencial para captar a singularidade literária do texto?
Há uma questão muito importante. Essa discussão vem de uma tradição no Brasil que tem em Antonio Cândido uma referência fundamental, com dois textos: Estudo analítico do poema e Na sala de aula. Trata-se de ler a especificidade do texto, como algo relativamente autônomo da realidade, mas que pode conduzir a temas sociais. Todavia, a leitura do texto precede essa urgência de discutir temas. No caso do poema, a métrica, o ritmo, como se constrói a linguagem literária. A atenção a esses aspectos pode tornar o leitor mais refinado para perceber essas coisas.
Qual seria a primeira providência a tomar?
A primeira providência em relação à educação brasileira é colocar a poesia na sala de aula. Um sintoma muito forte é que ela está fora. Quando aparece, ela é desculpa para outra coisa. Serve para ilustrar a gramática ou as aulas de história. Então, seria preciso dar à literatura o protagonismo em sala de aula. Não pode abandonar o menino para ler Machado de Assis. Cada livro tem o seu tempo e exige uma preparação. É preciso fruir a literatura de maneira conjunta, não existe leitura de textos nas escolas. É importante que exista uma leitura orientada e acompanhada.
É possível afirmar que a poesia é uma língua e exige que se domine os seus códigos como quem aprende o inglês ou o grego?
É uma boa metáfora. Claro que é uma língua diferente. Mas é uma linguagem que está tratada de uma maneira especial, que provoca a pensar na forma como está organizada. Ocorre com todas as matérias. Ensinar a física tem sua especificidade. Ao sonegar a poesia, você nega ao aluno o conhecimento de determinadas ferramentas que têm a ver com a estética. Você aprende a gostar da música clássica, da música popular ou da pintura moderna ou clássica. É uma tarefa que exige uma preparação grande.
O que a leitura partilhada em sala de aula proporciona em contraponto à leitura solitária?
Se você manda o aluno ler em casa, furta-se da possibilidade do debate democrático. Aprende a lidar com a complexidade e multiplicidade dos sentidos.
Como envolver as novas gerações com a poesia? Não existe uma tendência a considerar a poesia algo chato?
Eu sou professor de literatura há muito tempo. Dei aula em vários níveis de ensino: do elementar ao superior. E posso dizer a partir da minha experiência que eles gostam muito de ler e de fazer poesia. É importante não apenas ler, mas também inventar, arranjar as palavras de modo diferente. Muitas vezes, eu dava aula sem um conjunto fechado de livros. Permitia que os alunos trouxessem textos com os quais tivessem afinidade. O texto não pode ser um estigma; é uma entrada para uma discussão.
Como romper com o preconceito das novas gerações com a poesia?
Acho que existe um preconceito contra uma certa institucionalização das coisas, que torna tudo um pouco velho. O importante é saber que poesia não é só Olavo Bilac, pode ser uma letra de rap. Na verdade, eles têm muito interesse. O que os alunos jovens não gostam é da maneira que a escola trata a poesia. Não pode entrar em sala de aula com a sensação de jogo perdido. Não pode parar nas coisas mais comuns, tem de testar a leitura, oferecer textos mais complexos. Geralmente, o jovem de periferia só lê coisas da periferia. Mas não faz mal nenhum ler Camões ou Machado de Assis.
Qual a postura do professor como mediador da poesia?
Penso que, em primeiro lugar, o contato com a poesia não deveria ficar restrito. A poesia está na letra de música, no pôr do sol, nos ipês de Brasília. Você pode transformar experiências estéticas em um poema. Tem o rock, o rap e a poesia impressos. Não vamos negar que, em determinado momento, é bom tocar o Renato Russo ou outro compositor mais recente. Mas o objetivo é colocar em contato com uma tradição riquíssima que nós temos no modernismo: Carlos Drummond, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes, Cecília Meirelles, Adélia Prado. Para chegar lá, posso passar por vários textos. Drummond, Adélia Prado. E o objetivo é chegar lá, é entrar em contato com textos a que não teriam acesso se não fosse pela escola. O mercado e o shopping não vão oferecer essa opção. Não vai ler um poema de Jorge de Lima ou um texto de Clarice Lispector se o professor não apresentar. Esse direito não pode ser sequestrado, é algo que aumenta o repertório de linguagem e a experiência humana dele.
O que o êxtase da poesia proporciona?
A meu ver, são várias as funções. A primeira coisa genial é que não fecha uma função para a arte. Quando algo te toca intimamente, você vê a realidade de uma maneira diferente. O êxtase pode ser também aprendizado de uso da língua. A arte é uma experiência imprevisível em um mundo controlado. Você pode ser provocado, pode chorar ou rir. O poema é uma comunicação humanizada. Ela ilumina a experiência mais banal. Por isso, é importante a leitura coletiva, ela potencializa a interpretação.