Padre Antônio Vieira, escritor barroco famoso pelos sermões de caráter moralizante, também redigiu cartas que traçam um panorama de nossa terra, pois, como jesuíta, realizou trabalho missionário. Leia o trecho de uma dessas cartas.
Missão aos Nheengaíbas
Demais destas missões, se fez outra à ilha dos Nheengaíbas, de menos tempo e aparato, mas de muito maior i mportância e felicidade. Na grande boca do rio Amazonas está atravessada uma ilha de maior comprimento e largueza que todo o reino de Portugal, e habitada de muitas nações de índios, que por serem de línguas diferentes e dificultosas são chamados geralmente Nheengaíbas. Ao princípio receberam estas nações aos nossos conquistadores em boa amizade; mas, depois que a larga experiência lhes foi mostrando que o nome de falsa paz, com que entravam, se convertia em decla-rado cativeiro, tomaram as armas em defesa da liberdade, e começaram a fazer guerra contra os portugueses em toda a parte.
É a ilha toda composta de um confuso e intrincado labirinto de rios e bosques espessos, onde não é possível cercar, nem achar, nem seguir nem ainda ver o inimigo, estando ele ao mesmo tempo debaixo da trincheira das árvores, apontando e empregando as suas flechas. A primeira coisa que fizeram os Nheengaíbas, tanto que se resolveram à guerra com os portugueses, foi desfazer as povoações em que viviam, dividindo as casas pela terra dentro a grandes distâncias, para que em qualquer perigo pudesse uma avisar às outras, e nunca ser acometidos juntos.
(Apud João Mendes. Padre Antônio Vieira, 1972. Adaptado.)
Pela descrição feita por Padre Vieira, é correto afirmar que