Questão
Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM
2019
Fase Única
Para-compreendermos118e6fe9f07
Para compreendermos hoje uma sátira escrita há duzentos anos é preciso lembrar a função que exercia, de tendência moralizadora muito próxima ao que é o jornalismo. Dos pequenos sonetos de maledicência ou debique¹ aos poemas longos, ajustados à norma do gênero; uns arredondando-se no riso, outros encrespados pela indignação; uns visando as pessoas na sua singularidade, outros querendo abranger princípios e ideias, − todos assumiam atitude crítica e manifestavam desejo de orientar e corrigir, como a imprensa moderna.

(Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos, Editora Itatiaia Ltda., Belo Horizonte, 6.ª Edição, 2000, pág. 147) 

¹debique: zombaria, troça

Tomando por base o exposto pelo crítico literário, assinale a única passagem abaixo com um excerto que não corresponda ao gênero satírico. 
A
Diabo: De que morreste?
Parvo: De quê?
Samicas de caganeira.
Diabo: De quê?
Parvo: De caga merdeira!
Má rabugem que te dê!

(Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno)
B
Albatroz!  Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço,
Albatroz!  Albatroz! dá-me estas asas.

(Castro Alves, “Navio Negreiro”)
C
Vós, néscios, que mamais da vis quadrilhas
Do baixo vulgo insossas gargalhadas,
Por versos maus, por trovas aleijadas,
De engenhais as vossas maravilhas (...).

(Bocage)
D
Senhor Antão de Sousa de Meneses,
Quem sobe a alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.

(Gregório de Matos)
E
Esperavas, acaso, um bom governo
Do nosso Fanfarrão? Tu não o viste
Em trajes de casquilho, nessa corte?
E pode, meu amigo, de um peralta
Formar-se, de repente, um homem sério?

(Tomás Antônio Gonzaga, Cartas Chilenas)