Questão
Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
2011
Fase Única
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Pela ampla janela entra o barulho da manhã na cidade e sai o das máquinas de escrever da antessala.

ABELARDO I, ABELARDO II e o CLIENTE

ABELARDO I (Sentado em conversa com o Cliente. Aperta um botão, ouve-se um forte barulho de campainha.)

— Vamos ver...

ABELARDO II (Veste botas e um completo de domador de feras. Usa pastinha e enormes bigodes retorcidos. Monóculo. Um revólver à cinta.) — Pronto Seu Abelardo.

ABELARDO I — Traga o dossiê desse homem.

ABELARDO II — Pois não! O seu nome?

CLIENTE (Embaraçado, o chapéu na mão, uma gravata de corda no pescoço magro.) — Manoel Pitanga de Moraes.

ABELARDO II — Profissão?

CLIENTE — Eu era proprietário quando vim aqui pela primeira vez. Depois fui dois anos funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana. O empréstimo, o primeiro, creio que foi feito para o parto. Quando nasceu a menina...

ABELARDO II — Já sei. Está nos IMPONTUAIS. (Entrega o dossier reclamado e sai.)

ABELARDO I (Examina) — Veja! Isto não é comercial, seu Pitanga! O senhor fez o primeiro empréstimo em fins de 29.Liquidou em maio de 1931. Fez outro em junho de 31, estamos em 1933. Reformou sempre. Há dois meses suspendeu o serviço de juros... Não é comercial...

O CLIENTE — Exatamente. Procurei o senhor a segunda vez por causa da demora de pagamento na Estrada, com a Revolução de 30. A primeira foi para o parto. A criança já tinha dois anos. E a Revolução em 30... Foi um mau sucesso que complicou tudo...

ABELARDO I — O senhor sabe, o sistema da casa é reformar. Mas não podemos trabalhar com quem não paga juros... Vivemos disso. O senhor cometeu a maior falta contra a segurança do nosso negócio e o sistema da casa...

O CLIENTE — Há dois meses somente que não posso pagar juros.

ABELARDO I — Dois meses. O senhor acha que é pouco?

O CLIENTE — Por isso mesmo é que eu quero liquidar. Entrar num acordo. A fim de não ser penhorado. Que diabo! O senhor tem auxiliado tanta gente. É o amigo de todo mundo... Por que comigo não há de fazer um acordo?

ABELARDO I — Aqui não há acordo, meu amigo. Há pagamento!

ANDRADE, Oswald. O Rei da Vela. São Paulo: Globo, 2003. p. 39-40.

O fragmento destacado da obra “O Rei da Vela”
A
denuncia a competição psicológica entre os amigos Abelardo I e Abelardo II. 
B
traz como temática principal as relações comerciais no Brasil a partir da década de 30. 
C
revela as relações de força entre a aristocracia e a burguesia brasileiras no contexto da Revolução de 30. 
D
traduz as relações de poder entre os políticos, os burgueses e os aristocratas brasileiros na década de 30. 
E
denuncia a exploração inescrupulosa de burgueses agiotas que enriqueciam cada vez mais com a crise econômica deflagrada no país.