Questão
Universidade Federal de Pelotas - UFPEL
2005
1ª Fase
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Pero Vaz de Caminha, referindo-se aos indígenas escreveu:

“E naquilo sempre mais me convenço que são como aves ou animais montesinhos, aos quais faz o ar melhor pena e melhor cabelo que aos mansos, porque os seus corpos são tão limpos, tão gordos e formosos, a não mais poder.” […]

“Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E, portanto, se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e eles a nossa, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa. E portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E aprazerá Deus que com pouco trabalho seja assim.” […]

“Eles não lavram nem criam. Não há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao convívio com o homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.”

CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996.

Com base no texto e em seus conhecimentos, é correto afirmar que
A
a Carta de Caminha – que mostra o indígena brasileiro alternadamente como selvagem e como inocente – evidencia a preocupação do Estado Português em manter a crença dos indígenas, interlocutores do escrivão, valorizando a ingenuidade original dos autóctones.
B
a Carta de Caminha expõe a atitude compreensiva dos portugueses diante dos índios, pois, no Brasil, ao contrário do que houve com a conquista espanhola, marcada pela violência, a Igreja catequizou os indígenas pacificamente, respeitando suas ideologias e mantendo suas crenças religiosas.
C
no Brasil, por respeito à cultura indígena e à sua característica de indolência, já constatada pelo emissor da Carta − a qual levou os índios a se recusarem a trabalhar −, foi utilizada a mão-deobra africana, que era dócil e se adaptava facilmente à escravidão.
D
ao contrário do tratamento dispensado a outros povos da América, como incas, maias e astecas, os índios, no Brasil, tiveram suas estruturas política e social pouco alteradas, conforme ficou evidente na Carta, e puderam preservar seus sistemas lingüísticos, aprendidos à época pelos jesuítas.
E
a Carta de Pero Vaz de Caminha – um documento literário basicamente descritivo – evidencia a preocupação do autor com a catequização dos índios, a qual se explica pela estreita ligação da Igreja com o Estado Português, uma vez que as duas instituições defendiam interesses expansionistas.
F
I.R.