Pode-se esperar de um texto bem escrito que ele seja claro, preciso, ordenado, conciso, harmônico. O escritor lança mão de uma série de recursos (lingüísticos ou textuais) para conseguir obter cada uma dessas qualidades. O trecho abaixo, de Frei Betto (parte de um capítulo do livro cujo co-autor é Leonardo Boff, Mística e espiritualidade), reúne muitas dessas qualidades, mas é, sobretudo, um texto preocupado em explicar, esclarecer. Observe a utilização de alguns recursos que tornam mais explicativo o texto: transcreva duas passagens em que isso ocorre e, de acordo com o modo como contribuem para tornar mais explicativo o texto, dê nomes - ainda que aproximados - a esses recursos.
A crise da racionalidade e a emergência do espiritual
Nos últimos anos tem havido uma emergência da mística no âmbito internacional. No Brasil, além do êxito dos livros de Paulo Coelho, nas últimas bienais (Rio de Janeiro e São Paulo) os livros mais procurados e vendidos, junto com os infantis, foram os esotéricos, aí incluídos os de espiritualidade.
A espiritualidade é uma experiência mística, mistérica, que adquire uma conotação normativa na nossa vida. A mística é experiência fundante no ser humano desde que ele existe na face da terra, mas há diferentes espiritualidades e diferentes modos de vivenciá-las. Na tradição cristã, são bem acentuadas as diferentes espiritualidades: beneditina, dominicana, jesuítica, franciscana.
Quais as razões dessa emergência da mística e da espiritualidade, hoje?
A primeira é a crise da racionalidade moderna, ou seja, da nossa maneira de entender o mundo, muito tributária da filosofia de Descartes e da física de Newton. A realidade não é mais perceptível de um modo global. Não podemos mais falar em tratados, em suma teológica ou mesmo em enciclopédia. Toda nossa percepção do real é fragmentada e fragmentária. A resposta à pergunta “o que é a verdade?” nenhum de nós, individualmente, é capaz de dar, e talvez o silêncio de Jesus tenha sido porque a Verdade não poderia ser definida em palavras.
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