Poema I
28/09/1932
NADA FICA de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta, Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas – Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.
Poema II
2/3/1933
QUERO IGNORADO, e calmo Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca O ouro irrita a pele Aos que a fama bafeja Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade É sol, virá a noite.
Mas ao que nada ’spera Tudo que vem é grato.
(PESSOA, Fernando. Melhores poemas de Fernando Pessoa. 12ª ed. São Paulo: Global, 2004. p. 143-144.)
Acerca do poema II, assinale a alternativa correta.