Poema do parnasiano brasileiro Julio César da Silva (1872-1936):
ARTE SUPREMA
Tal como Pigmalião, a minha ideia
Visto na pedra: talho-a, domo-a, bato-a
;E ante os meus olhos e a vaidade fátua
Surge, formosa e nua, Galateia.
Mais um retoque, uns golpes... e remato-a;
Digo-lhe: “Fala!”, ao ver em cada veia
Sangue rubro, que a cora e aformoseia..
.E a estátua não falou, porque era estátua.
Bem haja o verso, em cuja enorme escala
Falam todas as vozes do universo
,E ao qual também arte nenhuma iguala:
Quer mesquinho e sem cor, quer amplo e terso,
Em vão não é que eu digo ao verso: “Fala!
”E ele fala-me sempre, porque é verso.
(Júlio César da Silva. Arte de amar. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.)
O poema de Júlio César da Silva faz referência ao mito grego de Pigmalião, um escultor da ilha de Chipre que obteve da deusa Vênus a graça de transformar em uma mulher de verdade a belíssima estátua que havia esculpido. Esse aproveitamento do mito, todavia, tem um encaminhamento diferente no soneto. Aponte a alternativa que melhor descreve como o mito foi aproveitado no poema.