Questão
Universidade de Rio Verde - UniRV
2020
Fase Única
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𝑻𝒓𝒊𝒑𝒂𝒍𝒊𝒖𝒎 𝒗𝒆𝒓𝒔𝒖𝒔 𝒑𝒐𝒊𝒆𝒔𝒊𝒔

Por que muitas vezes a ideia de trabalho é associada a castigo, fardo, provação? Do ponto de vista etimológico, a palavra “trabalho” (assim como em francês, espanhol e italiano) tem origem no vocábulo latino tripalium, que era um instrumento de tortura, ou seja, três paus entrecruzados para serem colocados no pescoço de alguém e nele produzir desconforto. A origem do Ocidente é o mundo greco-romano. Se pegarmos, por exemplo, o período do século II a.C. até o século V, teremos a formação da sociedade clássica greco-romana com as heranças que o mundo grego havia gerado. Essa sociedade cresceu em sua exuberância a partir do trabalho escravo. Em sociedades assim, montadas com base no sistema escravocrata, a própria ideia de trabalho remete à escravidão. Portanto, trabalho é coisa menor, indecente, imoral ou de gente que está sendo punida.

Tivemos, depois, o mundo medieval em que a relação foi senhor e servo. Substitui-se, num determinado momento, a ideia de trabalho pela de servidão. Não há mais o escravo, mas há o servo, que precisa trabalhar um pouco para ele e o restante para o senhor dele. Persiste o esquema de dependência, o mundo capitalista europeu substituiu o trabalho escravo na Europa pelo trabalho escravo fora da Europa. Continuamos, portanto, com a mentalidade escravocrata. O mundo ocidental no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo, foi todo construído sob a lógica da exploração do outro.

Nessas sociedades só nos faltava uma concepção religiosa na qual o trabalho aparecesse como castigo, e isso o judaísmo nos ofereceu. O mundo semita trouxe essa ideia à tona, porque a religiosidade semítica expressa no mundo hebraico vai trazer a ideia do trabalho como castigo. Afinal de contas, qual foi o grande crime de Adão e Eva? Eles desobedeceram à divindade. A mulher recebeu uma condenação: “Vais pagar com as dores do parto pelo teu erro”. E o homem recebeu outra condenação: “Vais trabalhar”. A primeira coisa que Adão e Eva percebem quando traem a divindade, segundo o relato religioso hebraico, é que estão nus. E isso não é um empecilho moral, porque aquela sociedade não tinha problema com aquele tipo de nudez. O problema de perceber-se nu é que você se dá conta de que tem corpo. E, ao perceber que tem um corpo, você tem de sustentar o corpo, alimentá-lo, cuidá-lo, abrigá-lo etc. Para tal, vai ter de trabalhar. Então, do ponto de vista da religiosidade originária no Ocidente, a ideia do trabalho continua como castigo.

Se isso está no campo da religião, no campo da Filosofia a noção mais forte em relação à definição de humano é dada por Aristóteles, que, no século V a.C., diz: “O homem é um animal racional”. Ou seja, o que define a humanidade de alguém – e, portanto, a sua dignidade – é a capacidade de dedicar-se ao pensamento e não às obras manuais. A tal ponto que, no mundo escravocrata da filosofia e da ciência gregas, não se faziam trabalhos manuais. Platão, um dos maiores pensadores da história, desprezava o trabalho manual. De tal modo que ele achava que, quando se estabelecessem os infernos, aqueles que deveriam ficar junto com os escravos lá eram os pintores, os escultores, todos aqueles que fossem da elite, mas que desenvolvessem alguma atividade com as mãos. O mundo da Antiguidade, que é a base da nossa sociedade ocidental, coloca o trabalho como um castigo do ponto de vista moral-religioso ou uma concepção de castigo a partir da vontade dos deuses na cultura grega.

(𝙲𝙾𝚁𝚃𝙴𝙻𝙻𝙰, 𝙼. 𝚂. 𝚀𝚞𝚊𝚕 𝚎 𝚊 𝚝𝚞𝚊 𝚘𝚋𝚛𝚊? 𝙿𝚎𝚝𝚛𝚘𝚙𝚘𝚕𝚒𝚜, 𝚁𝙹: 𝚅𝚘𝚣𝚎𝚜, 𝟸𝟶𝟷𝟻).

Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para a alternativa de acordo com o texto:

No trecho “você tem de sustentar o corpo, alimentá-lo”, o uso do pronome –LO indica que “o corpo” exerce a função de objeto indireto.
C
Certo.
E
Errado.