O Projeto Genética do Sertão é um dos mais interessantes e humanistas na recente história da medicina brasileira. Atende a pacientes provenientes de Monte Santo-BA. Com cerca de 20% de seus habitantes rastreados, foram documentados até agora 18 distúrbios genéticos — com uma incidência muito superior à registrada na população em geral. Por exemplo, a fenilcetonúria que atinge uma pessoa em 18.000, em Monte Santo tem a sua incidência quase triplicada. A síndrome de Treacher-Collins no Brasil tem incidência de um afetado em 40.000. No sertão baiano, um entre 8.000.
Monte Santo, com 54.000 moradores, isolada no meio da caatinga, data do século 18, quando em 1775, um frei capuchinho convocou um pequeno número de fieis que o seguiam a construir capelas ao longo da subida do monte com 2,8 quilômetros de altura. Sete em cada 10 habitantes do município vivem espalhados por 46 pequenos povoados da zona rural. No século 19, Monte Santo foi quartel general dos soldados governistas que atacaram Canudos. Entre 1896 e 1897, cerca de 5.000 homens se fixaram na cidade. Não era incomum um único soldado engravidar mais de uma mulher. Com o fim da guerra de Canudos, os soldados foram embora, mas as mulheres continuaram em Monte Santo e seus descendentes acasalaram entre si.
Os cientistas do Projeto Genética do Sertão, fundamentados na Teoria Neodarwinista, associam a alta incidência de distúrbios genéticos, relativamente raros no mundo, a fenômenos com repercussões evolutivas que se expressam quando