Questão
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - EBMSP
2022
1ª Fase
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Discursiva
Proposta de redação

Texto I.

Mudanças profundas ocorreram em escala mundial nas últimas décadas do século 20, entre elas o avanço da tecnologia de informação, a globalização econômica e o fim da polarização ideológica entre capitalismo e comunismo nas relações internacionais. Diante desse cenário, o sociólogo francês Edgar Morin percebeu que a maior urgência no campo das ideias não é rever doutrinas e métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, propõe o conceito de complexidade.

O pensamento complexo tem como fundamento formulações surgidas no campo das ciências exatas e naturais, que evidenciaram a necessidade de superar as fronteiras entre as disciplinas. Para referido pensador, os saberes tradicionais foram submetidos a um processo reducionista que acarretou a perda das noções de multiplicidade e diversidade. 

 Acima de tudo, defende a introdução da incerteza e da falibilidade na rigidez cultural do Ocidente. As limitações causadas pela compartimentação do conhecimento são responsáveis por manter o espírito humano em sua préhistória. Além disso, a tendência de aplicar conceitos abstratos vindos das ciências exatas e naturais ao universo humano resulta em desconsideração por certos aspectos, como o ambiente, a história e a psicologia, entre outros. 

Para recuperar a complexidade da vida nas ciências e nas atividades humanas, Morin recomenda um pensamento crítico sobre o próprio pensar e seus métodos, o que implica sempre voltar ao começo. Trata-se de um procedimento em espiral, que amplia o conhecimento a cada retorno e, assim, se coaduna com o fato de o homem ser sempre incompleto – o aprendizado é para toda a vida. “A reforma do pensamento pressupõe a consciência de si e do mundo” diz Izabel Cristina, professora do Centro Universitário 9 de julho, São Paulo.

Do ponto de vista da complexidade, ordem e desordem convivem nos sistemas. A transformação extrapola o indivíduo, se estendendo ao ambiente circundante. Uma vez que tudo está interligado, a solidariedade é tida pelo sociólogo como peça fundamental para superar aquilo que denomina crise planetária – uma situação de impotência diante de incertezas que se acumulam. 

A diversidade de sujeitos e objetos em busca de conexões fazem da sala de aula um fenômeno complexo, ideal para iniciar o processo de mudança de mentalidades. A meta é a transdisciplinaridade. “Só convencido de que tudo se liga a tudo e de que é urgente aprender a aprender, o educador adquirirá uma nova postura diante da realidade, necessária para uma prática pedagógica libertadora”, observa Izabel Cristina. Ouvir os alunos, naturalmente sintonizados com o presente, é a melhor maneira de o professor investir na própria formação. 

As grandes metas da educação deveriam ser o desenvolvimento da compreensão e da condição humana.

FERRARI, Márcio. Edgar Morin, o arquiteto da complexidade. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1391/edgar-morin-o-arquiteto-da-complexidade>. Acesso em: nov. 2021. Adaptado.

Texto II.

Da UNESCO partiu a ideia, em 1999, de encomendar ao filósofo francês Edgar Morin a exposição das suas ideias sobre a educação do amanhã, com o objetivo, dentre outros, de aprofundar a visão transdisciplinar da educação, trabalho que teve como resultado a obra denominada Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.

Para o filósofo, há sete saberes fundamentais que a educação do futuro deveria tratar em toda sociedade e em toda cultura, sem exclusividade nem rejeição, segundo modelos e regras próprias a cada sociedade e a cada cultura. São os seguintes: as cegueiras do conhecimento (o erro e a ilusão), considerando como é impressionante que a educação que visa transmitir conhecimentos seja cega quanto ao que é o conhecimento humano; os princípios do conhecimento pertinente, destacando ser necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas as informações em um contexto e um conjunto, determinando que é preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo; o ensino da condição humana, pois o ser humano é, a um só tempo, físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico, tendo, assim, uma identidade complexa, mas comum a todos os outros humanos; o ensino da identidade terrena, mostrando que todos os seres humanos, confrontados de agora em diante aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum; o enfrentamento das incertezas, incluindo na educação o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísicas, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas; o ensino da compreensão, que pede a reforma das mentalidades, para que haja a compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos, quer estranhos, enfocando as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo e constituindo, ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação para a paz, e a ética do gênero humano, uma vez que todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.

Em outras palavras, a educação serve à sociedade de diversas maneiras e sua meta é formar pessoas mais sábias, possuidoras de mais conhecimentos, bem informadas, éticas, responsáveis, críticas e capazes de continuar aprendendo. É, também, o meio de divulgar o conhecimento e desenvolver talentos para introduzir as mudanças desejadas nas condutas, valores e estilos de vida e para suscitar o apoio público às mudanças contínuas e fundamentais. A educação é, em síntese, a melhor esperança e o meio mais eficaz que a humanidade tem para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Observa-se, assim, que não pode ficar restrita ao ensino das disciplinas e seus conteúdos, quase sempre “despejados” nos alunos de maneira estanque, isolados e afastados da realidade sociocultural e de outros conhecimentos.

JÚNIOR, Fernando Frederico de Almeida; ALMEIDA, Ana Maria Galvão de Barros. Os objetivos da educação em Morin e na Constituição Federal brasileira de 1988. Disponível em: <https:/www,/jus.com.br/artigos>. Acesso em: 28 out. 2021. Adaptado.

Texto II
 
Na escola da vida, aprender a aceitar e conviver com as incertezas é, tradicionalmente, assunto cortado do currículo.

É neste momento de crise e de exposição das fragilidades que nos vemos diante de uma das grandes verdades humanas, como destaca o sociólogo francês Edgar Morin: “A chegada do coronavírus nos lembra que a incerteza permanece um elemento inexpugnável da condição humana. Todo o seguro social em que você pode se inscrever nunca poderá garantir que você não ficará doente ou será feliz em sua casa”.

É preciso ensinar, nas escolas e universidades, a compreensão humana, porque é um mal do qual todos sofrem em graus diferentes. Temos que ensinar também as crianças e os jovens a enfrentar as incertezas. Porque a única certeza, em todo destino humano, desde o nascimento, é que a vida é feita de incertezas. 

A chave da vida coletiva, a compreensão humana, passa necessariamente por um processo de empatia. Porém colocar-se no lugar do outro, considerando que estamos privados do convívio social, isolados em nossas casas, se torna um desafio ainda maior do que em tempos “normais”. Debates e questões morais irão sempre nos dividir, como nos casos tradicionais das intensas discussões envolvendo política e religião.

É nesse ponto que o pensamento de Morin, criador da teoria da complexidade, tem conexão com o de outro intelectual. Para o estudioso da moralidade Jonathan Haidt, a empatia e a consciência de coletividade são essenciais para evitar ou minimizar as polarizações. Para além do que nos separa, “estamos presos juntos por aqui”, todos no mesmo barco, afirma Haidt. O diálogo bem feito e civilizado, a escuta paciente e a aceitação de visões diferentes sempre aconteceram, mostrando que é possível conviver com as diferenças morais. Não se trata de uma tarefa fácil, devido aos modos como nossa psicologia moral se desenvolveu, mas não é impossível. Construir esse hábito evitaria as tensões e violências entre adeptos de posicionamentos distintos.

“Assim como as plantas precisam de sol, água e bom solo para prosperar, as pessoas precisam de amor, trabalho e conexão com algo maior. Vale a pena se esforçar para obter as relações certas entre você e os outros, entre você e seu trabalho, e entre você e algo maior que você [...].” –– Jonathan Haidt.

O psicólogo social Jonathan Haidt vê, no presente, uma lição de esperança para o futuro: “A Covid-19 pode ser uma vacina da humanidade para uma visão coletiva do planeta.” LIÇÕES da pandemia: o despertar para as grandes verdades humanas. 

Disponível em:< https://www.fronteiras.com/artigos>. Acesso em: out. 2021. Adaptado.

A partir das ideias contidas nos textos motivadores e de suas reflexões quanto à necessidade de observação do mundo de modo mais abrangente, escreva, na norma-padrão da língua portuguesa, uma dissertação argumentativa discorrendo sobre o pensamento complexo proposto por Edgar Morin, que preconiza um trabalho educacional voltado para o discernimento dos fatos, livre das amarras do conhecimento reducionista e capaz de colocar o indivíduo na perspectiva dos outros, enfrentando as incertezas da vida como um aprendizado constante e em função de convívio pacífico com seus semelhantes e com o meio ambiente. Selecione argumentos e fatos em defesa de seu ponto de vista.