Qual romance você está lendo?
Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem não lê literatura. Ler ou não ler romances é para mim um critério. Quer saber se tal político merece seu voto? Verifique se ele lê literatura. Quer escolher um psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão.
E, cuidado, o hábito de ler, em geral, pode ser melhor do que o de não ler, mas não me basta: o critério que vale para mim é ler especificamente literatura - ficção literária.
Você dirá que estou apenas exigindo dos outros que eles sejam parecidos comigo. E eu teria que concordar, salvo que acabo de aprender que minha confiança nos leitores de ficção literária é justificada.
Algo que eu acreditava intuitivamente foi confirmado em pesquisa que acaba de ser publicada pela revista “Science” (migre.me/gkK9J), “Reading Literary Fiction Improves Theory of Mind” (ler ficção literária melhora a teoria da mente), de David C. Kidd e Emanuele Castano.
Uma explicação. Na expressão “teoria da mente”, “teoria” significa “visão” (esse é o sentido originário da palavra). Em psicologia, a “teoria da mente” é nossa capacidade de enxergar os outros e de lhes atribuir de maneira correta crenças, ideias, intenções, afetos e sentimentos.
A teoria da mente emocional é a capacidade de reconhecer o que os outros sentem e, portanto, de experimentar empatia e compaixão por eles; a teoria da mente cognitiva é a capacidade de reconhecer o que os outros pensam e sabem e, portanto, de dialogar e de negociar soluções racionais. Obviamente, enxergar o que os outros sentem e pensam é uma condição para ter uma vida social ativa e interessante.
(Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 17/10/2013)
De acordo com Contardo Calligaris, a confiança que ele deposita nas pessoas que leem, especificamente, literatura – ficção literária se justifica porque