ROMANCE LVI OU DA ARREMATAÇÃO DOS BENS DO ALFERES
Arrematai o machinho
castanho rosilho! Custa
10 mil-réis: o que o algebrista
lhe pôs na avaliação.
Ai! Corta rios e espinhos,
e já nada mais o assusta:
só ele sabe o que leva
na sua imaginação.
Arrematai as esporas,
com seu jogo de fivelas!
Pesam 39 oitavas
e uma pequena fração.
E ireis pelo mundo afora
aprumado em qualquer sela,
propalando a sanha brava
dessa história de traição.
Arrematai as navalhas
e a tabaqueira de chifre!
Neste corredor de trevas,
nossos passos aonde irão?
Feliz aquele que leve
um ponteiro que o decifre!
Arrematai-o! – Não falha,
este relógio marcão.
Arrematai, juntamente,
esta bolsinha dos ferros:
por menos de três cruzados,
ficareis tendo a ilusão
de, por entre escuma e berro,
arrancar os duros dentes
a qualquer monstro execrando
ou peçonhento dragão. (...)
(MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. 9ª Imp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. p.190-191)
Representante da segunda geração do modernismo brasileiro, a poetisa Cecília Meireles resgatou a tradição luso-espanhola do romanceiro: texto lírico de caráter épico, baseado na oralidade medieval. Com base na leitura do trecho acima, não é correto afirmar: