ROTINA NÃO É MONOTONIA
Muita gente se queixa da rotina do trabalho. Vale lembrar que rotina não é sinônimo de monotonia. O que faz com que haja um enfado em relação ao cotidiano profissional é a monotonia, não a rotina.
A rotina pode ser, inclusive, altamente libertadora. É ela que permite a organização de uma atividade e, portanto, a utilização inteligente do tempo. A rotina garante maior eficiência e segurança naquilo que se faz.
Por exemplo, quando entro num avião, espero que o mecânico tenha seguido a rotina, que o piloto e o copiloto façam o mesmo, bem como o encarregado de abastecer a aeronave. A rotina consiste numa série de procedimentos-padrão com os quais o processo se completa. E esse nível de repetibilidade é o que torna a rotina mais adequada. Uma orquestra sinfônica será tão melhor quanto mais acurada tiver sido a leitura da partitura da peça ali colocada
O trabalho rotineiro é um trabalho organizado, estruturado. O que, de fato, faz com que haja um enfado, um tédio, é a monotonia. O perigo é quando a rotina deixa de ser algo que me prepara melhor para aquilo que estou fazendo e passa a ser algo no qual eu não presto mais atenção. Isto é, quando a repetibilidade se torna automatismo. Há uma diferença entre a rotina, na qual eu faço uma atividade notando a sequência correta e a completo, e a monotonia, em que a faço sem perceber. Nessa hora, a motivação falece. Seja qual for a profissão
Um músico que tem uma rotina de viagens, de shows, ao fazer isso de modo automático, quando está no palco e a cabeça está em outra frequência, em que ele não vê a hora daquilo acabar, é então que começa o desgaste.
A monotonia é a morte da motivação!
Isto vale tanto nas relações afetivas como nas de trabalho. Não é por acaso que as pessoas que gerenciam outras no ambiente de trabalho procuram fazer com que a rotina tenha um padrão de sequência, de completude, mas tentam alterar a situação quando veem o risco de virar monotonia. Algumas empresas, como lembrei antes, têm o hábito de fazer um rodízio nas várias funções, em determinados momentos, de modo que o funcionário ganhe um distanciamento em relação àquilo que fazia e possa retornar à atividade sem ficar automatizado no processo.
O automatismo é distrativo. Isso serve até para ver televisão. Quando o escritor mineiro Fernando Sabino dizia, de maneira genial, que “a televisão é o chiclete dos olhos”, era para descrever o estado em que você assiste a algo e não retém nada do conteúdo exibido.
Na leitura, quando lemos de forma automática, chegamos ao pé da página do livro sem lembrar do que estava nas linhas superiores. Já a leitura rotineira é aquela em que você pega o material e vai lendo em sequência, procurando fruir. Quando você se distrai, é sinal de que ela se tornou automática. […]
Nesse sentido, o que as pessoas mais reclamam no dia a dia é de um trabalho automatizado mentalmente e não pela máquina. A finalidade da tecnologia e da robotização é exatamente liberar a gente desse trabalho monótono. A rotina é absolutamente necessária. (CORTELLA, M.S. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização. São Paulo: Planeta, 2016).
Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as alternativas de acordo com o texto:
Cortella defende que a tecnologia e os robôs foram criados com a intenção de dar ao homem maior motivação no trabalho