Questão
Universidade Santo Amaro - UNISA
2017
Fase Única
S-Pedro-Roma-na-tem1895acb7c18
S. Pedro de Roma não tem saído muito das arcas nestes últimos anos. É que, ao contrário do que geralmente acredita o vulgo ignaro, os reis são tal e qual os homens comuns, crescem, amadurecem, variam-se-lhes os gostos com a idade, quando por comprazimento público se não ocultam de propósito, outros por necessidade política se vão às vezes fingindo. Além disso, é da sabedoria das nações e da experiência dos particulares que a repetição traz a saciedade. A basílica de S. Pedro já não tem segredos para D. João V. Poderia armá-la e desarmá-la de olhos fechados, sozinho ou com ajuda, começando pelo norte ou pelo sul, pela colunata ou pela abside, peça por peça ou em partes conjuntas, mas o resultado final é sempre o mesmo, uma construção de madeira, um legos, um meccano, um lugar de fingimento onde nunca serão rezadas missas verdadeiras, embora Deus esteja em todo o lado.

(José Saramago. Memorial do convento, 1995.)

No texto, o primeiro motivo apresentado para justificar por que “S. Pedro de Roma não tem saído muito das arcas nestes últimos anos.” associa-se correta e coerentemente aos seguintes versos do poeta Camões:
A
Se nela está minha alma transformada, / Que mais deseja o corpo de alcançar? / Em si somente pode descansar, / Pois consigo tal alma está liada.
B
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança; / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades.
C
Gados que pasceis / Com contentamento, / Vosso mantimento / Não no entendereis; / Isso que comeis / Não são ervas, não: / São graças dos olhos / Do meu coração.
D
Os bons vi sempre passar / No Mundo graves tormentos; / E pera mais me espantar, / Os maus vi sempre nadar / Em mar de contentamentos.
E
Perdigão que o pensamento / Subiu a um alto lugar, / Perde a pena do voar, / Ganha a pena do tormento. / Não tem no ar nem no vento / Asas com que se sustenha: / Não há mal que lhe não venha.