(SOMATÓRIA)
Com base no poema a seguir e na produção poética de Cecília Meirelles, assinale o que for correto.
Se não houvesse montanhas
Se não houvesse montanhas!
Se não houvesse paredes!
Se o sonho tecesse malhas
e os braços colhessem redes!
Se a noite e o dia passassem
como nuvens, sem cadeias,
e os instantes da memória
fossem vento nas areias!
Se não houvesse saudade,
solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
além de breve, perdida!
Eu tinha um cavalo de asas,
que morreu sem ter pascigo.
E em labirintos se movem
os fantasmas que persigo.
MEIRELLES, C. Os melhores poemas de Cecília Meirelles. Seleção de
Maria Fernanda. 14 ed. São Paulo: Global, 2002, p. 139.
VOCABULÁRIO
pascigo: do latim pascêre levar ao pasto, pastar.
01) O intimismo é construído no poema a partir de elementos do mundo exterior, como montanhas, paredes, malhas, redes, que propiciam o salto para a interioridade, em que se encontra a preocupação com a precariedade da vida.
02) O poema despreza as conquistas literárias de 22, especialmente a livre associação de ideias, e se fixa na vertente modernista da terceira geração, ao lado de obras de Clarice Lispector e de João Cabral de Melo Neto.
04) Elaborado com redondilhas maiores, que contribuem para a musicalidade, o poema apresenta símile (comparação) na segunda estrofe, corroborando a temática do desejo de liberdade do eu lírico: “Se a noite e o dia passassem/como nuvens, sem cadeias,”.
08) Com marcas evidentes da estética simbolista, como a perfeição formal, o poema busca o endeusamento do eu, como se nota no uso da hipérbole: “Se a vida inteira não fosse,”; do hipérbato: “Eu tinha um cavalo de asas,”; e da sinestesia: “os fantasmas que persigo.”.
16) O descontentamento com a falta de sentido da vida, expresso nos dois últimos versos da terceira estrofe (“Se a vida inteira não fosse,/além de breve, perdida!”), leva o eu lírico a admitir uma vida na qual seus sonhos pudessem se realizar.