(SOMATÓRIA)
Em relação a Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, assinale o que for correto.
01) Em Quarto de Despejo, os escritos de Carolina Maria de Jesus funcionam como veículo de denúncia social especialmente em relação às condições sub-humanas vivenciadas pelos moradores da antiga favela do Canindé, em São Paulo. Manifestações de violência graves ocorrem na comunidade e a personagem lamenta, sobretudo, o fato de as crianças assistirem a tudo, aprendendo a proceder da mesma forma. Podemos verificar o que Carolina chama de “espetáculos da favela” em inúmeros registros ao longo do diário.
02) Observe um fragmento do diário de Carolina, referente ao dia 7 de janeiro de 1959: “[...] Hoje eu fiz arroz e feijão e fritei ovos. Que alegria! Ao escrever isto vão pensar que no Brasil não há o que comer. Nós temos. Só que os preços nos impossibilita de adquirir” (JESUS, 2014, p. 151). Essa anotação exemplifica uma opinião da personagem ressaltada de forma bastante recorrente na obra: a de que o problema do Brasil não é a escassez de alimentos, mas a distribuição desigual de renda, que culmina em uma divisão indevida de gêneros alimentícios entre a população.
04) A linguagem utilizada em Quarto de Despejos e aproxima da oralidade, traço que confere à obra uma maior aparência de realidade. Uma particularidade do estilo da escrita de Carolina são as frases curtas que atribuem ao texto uma fluidez natural e conferem um ritmo peculiar à leitura. Ademais, assuntos diversos são tratados em um mesmo registro, característica do gênero diário que também contribui com a aparência de um diálogo espontâneo com o leitor. É o que podemos notar no fragmento a seguir, de 6 de dezembro de 1958: “Deixei o leito as 4 da manhã. Liguei o radio para ouvir o amanhecer do tango. ... Eu fiquei horrorisada quando ouvi as crianças comentando que o filho do senhor Joaquim foi na escola embriagado. É que o menino está com 12 anos. Eu hoje estou muito triste” (JESUS, 2014, p. 142).
08) A escrita do gênero diário consiste em uma atividade dialógica, ou seja, o texto pressupõe um interlocutor, ainda que virtual. Alguns diários íntimos somente dialogam com esse leitor potencial e não transparecem a intenção de serem lidos de fato. No texto de Quarto de Despejo, todavia, é possível detectar um projeto de escrita, o esboço de um texto que pretende ser publicado e lido por leitores reais.
16) Rachel de Queiroz, em crônica para O Cruzeiro, em 3 de dezembro de 1960, argumenta sobre Quarto de Despejo: “Anotando dia a dia os fatos e os comentários que lhe são sugeridos por aquela vida que a gente só imagina, mas nenhum de nós conhece no seu brutal realismo, Carolina consegue suscitar as reações mais diversas em cada leitor”. A escrita de Carolina possibilita a sensibilização do leitor sobretudo pela realidade que transparece ao ser escrita por alguém que ficcionaliza a partir de situações vivenciadas de fato. O leitor acompanha a rotina sofrida da mulher marginalizada por ser negra, pobre, favelada e mãe solteira e se condói com as situações extremas enfrentadas por ela. Ao final da obra, contudo, o leitor se deleita com o registro do triunfo de Carolina, que obtém sucesso em suas publicações e consegue sair da favela, sua maior aspiração.