(SOMATÓRIA)
A respeito do livro de poemas Toda Poesia, de Paulo Leminski, assinale o que for correto.
01) No fazer poético leminskiano, chama a atenção o uso criativo dos trocadilhos, que jogam com as sonoridades semelhantes, efeitos de sentido diversos e com uma dose de humor. É o caso de expressões como “erra uma vez”, “proema” e muitos outros. Particularmente, o poema “o náufrago náugrafo” exemplifica tal criatividade poética:
a letra A a
funda no A
tlântico
e pacífico com
templo a luta
entre a rápida letra
e o oceano
lento
assim
fundo e me afundo
de todos os náufragos
náugrafo
o náufrago
mais
profundo
(LEMINSKI, 2013, p.194)
02) Em “ais ou menos”, poema que parodia a forma de oração, Leminski sintetiza o modo elogioso com que sua poesia, de uma maneira geral, trata a religiosidade, a relação com o transcendente. Segue um trecho do poema em questão: “Senhor,/ peço poderes sobre o sono,/ esse sol em que me ponho/ a sofrer meus ais ou menos,/ sombra, quem sabe, dentro de um sonho [...]” (LEMINSKI, 2013, p.211).
04) São muitos os poemas de Leminski em que a tradição literária brasileira surge como modo de refiguração de certos temas, mas que são postos – de forma paródica – em formas consagradas. São os casos de “profissão de febre”, título que remete ao famoso “Profissão de fé”, de Olavo Bilac; ou o caso de “rosa rilke raimundo correia”, em que o célebre poema “As pombas”, do parnasiano Raimundo Correia, cede a enumeração crescente para o eu-lírico da seguinte forma: “Uma pálpebra,/ mais uma, mais outras,/ enfim, dezenas/ de pálpebras sobre pálpebras/tentando fazer/ das minhas trevas/ alguma coisa a mais/ que lágrimas” (LEMINSKI, 2013, p.213).
08) Com influências diversas, Leminski é representante da contracultura brasileira, ao mesmo tempo em que dialoga com o pensamento zen oriental: “Samurai malandro”, nas palavras da crítica Leyla PerroneMoisés. Um exemplo disso é o haicai “Mallarmé Bashô”, em que Leminski coloca lado a lado um escritor de vanguarda e o criador do gênero japonês mais cultuado:
“um salto de sapo
jamais abolirá
o velho poço”
(LEMINSKI, 2013, p.306).
16) Normalmente com linguagem acessível, cotidiana, os poemas de Leminski como que escondem sua complexidade no humor, no clichê, naquilo que é habitual e, por isso mesmo, pouco percebido. Por outro lado, temos em “o ex-estranho” a sensação de estrangeiridade relatada em alguns poemas: a língua errada, a forma equivocada, a identidade indefinida e como isso se reflete no eu-lírico. “invernáculo(3)” exemplifica esta noção: “Esta língua não é minha,/ qualquer um percebe./ Quando o sentido caminha,/ a palavra permanece./ Quem sabe mal digo mentiras,/ vai ver que só minto verdades [...] eu, meio, eu dentro, eu, quase” (LEMINSKI, 2013, p.329).