A respeito da obra Toda Poesia, de Paulo Leminski, assinale o que for correto.

01) Quarenta clics em Curitiba apresenta poemas de Paulo Leminski que podem ser quase confundidos com fotografias devido às imagens do cotidiano que evocam. Todavia, sendo o trivial uma das temáticas mais recorrentes da poesia leminskiana, é possível encontrar também em outros livros do poeta curitibano textos que parecem captar a ação de um instante, como fazem as fotografias. Um exemplo é o poema a seguir, que compõe a sessão polonaises, do livro caprichos & relaxos: “aqui/ nesta pedra/ alguém sentou/ olhando o mar/ o mar/ não parou/ pra ser olhado/ foi mar/ pra tudo quanto é lado” (LEMINSKI, 2013, p. 68).

02) Consciente de sua responsabilidade enquanto produtor de realizações artísticas, Leminski não somente escrevia poesia, mas também entendia como fundamental a reflexão sobre o fazer poético. Os textos do curitibano estão repletos de reflexões sobre a escrita poética, como é possível perceber no poema a seguir: “Um bom poema/ leva anos/ cinco jogando bola,/ mais cinco estudando sânscrito,/ seis carregando pedra,/ nove namorando a vizinha,/ sete levando porrada,/ quatro andando sozinho,/ três mudando de cidade,/ dez trocando de assunto,/ uma eternidade, eu e você,/ caminhando junto” (LEMINSKI, 2013, p. 245).

04) Diversos poemas de Leminski apresentam, em poucas linhas, reflexões profundas sobre a vida. A escrita concisa e abundante de significação é marcante na escrita do poeta, que exercia essa peculiaridade com precisão. Conforme aponta Leyla Perrone-Moisés em Leminski, o samurai malandro: “A forma breve, por ele cultivada, oferece grandes riscos. O breve pode ser apenas pouco, o menos obtido por subtração. O grande poema breve é concentração sem perda, o máximo no mínimo. Leminski conhecia essa arte e colhia o poema com o golpe certeiro da espada zen”.

08) “[...] retrato de lado/ retrato de frente/ de mim me faça/ ficar diferente” (LEMINSKI, 2013, p. 238). Publicado pela primeira vez em 1987, esse poema pode se referir aos dias atuais, em que abundam selfies e vidas falsamente perfeitas em redes sociais. A intenção parece ser capturar o ângulo perfeito, em que as pessoas se pareçam menos com o que são e mais com o que pretendem ser. Essa relação possível de um poema escrito há mais de 30 anos com os tempos atuais é uma peculiaridade que pode ser detectada em um texto clássico, que é passível de ressignificação ao longo dos anos.

16) Herdeiro da doutrina da arte pela arte, Leminski acreditava que as realizações artísticas não deveriam apresentar utilidade prática além de sua própria existência, pois somente assim se garantiria uma arte pura. Essa crença pode ser detectada, por exemplo, no poema razão de ser: “Escrevo./ E ponto./ Escrevo porque preciso,/ preciso porque estou tonto./ Ninguém tem nada com isso./ Escrevo porque amanhece,/ e as estrelas lá no céu/ lembram letras no papel,/quando o poema me anoitece./ A aranha tece teias./ O peixe beija e morde o que vê./ Eu escrevo apenas./ Tem que ter por quê?” (LEMINSKI, 2013, p. 218)