(SOMATÓRIA)
A respeito das obras literárias abaixo, assinale o que for correto.
01) Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é um dos romances mais importantes da literatura brasileira, pois, além da força do relato sociológico da seca, exibe uma técnica narrativa invulgar. Tal técnica se evidencia na figura do narrador, que, ademais de exibir sua onisciência no tratamento dos personagens, interfere na dinâmica dos diálogos entre Fabiano e família, explicando e comentando as poucas, lacunares e onomatopaicas falas dos sertanejos. Desse modo, até a consciência de Baleia, transformada em discurso direto, humaniza-se plenamente nas intervenções do narrador.
02) Quarto de Despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, relata uma extenuante rotina de uma vida de pobreza e de descaso social. Além do valor estético, os aspectos documental, socioeconômico e antropológico compõem um marco na história da literatura brasileira. Importante salientar que, por meio da escrita e da leitura, Carolina consegue progressivamente se libertar internamente das agruras diárias. Contudo, não deixa de ser curioso que ela faça acepção de algumas leituras de seu filho: “Ele [o filho José Carlos] passa o dia lendo Gibi e não presta atenção em nada. Vive pensando que é o homem invisível, Mandraque e outras porcarias” (JESUS, 2014, p.127).
04) Murilo Rubião é considerado um dos precursores do conto fantástico brasileiro. Obra Completa reúne 33 histórias insólitas, em que a indefinição do sentido de cada uma delas é resolvida especificamente nas epígrafes de cada conto. Tais epígrafes, retiradas da Bíblia e de Machado de Assis, trazem componentes que aludem ao que será tratado no conto, como no caso de “Os dragões” (RUBIÃO, 2016, p.46), em que a epígrafe é retirada de (Jó, XXX, 29): “Fui irmão de dragões e companheiro de avestruzes”. Desse modo, as ambiguidades se resolvem definitivamente quando o sentido dos contos é buscado nas epígrafes.
08) Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, é uma referência no experimentalismo teatral brasileiro. Considerada uma peça psicológica, divide-se em três atos, nos quais os estados/planos da Alucinação e Memória de Alaíde – além da visão externa no plano da realidade – dão um panorama amplo do trágico e conturbado destino da protagonista. As lacunas e incongruências de Alaíde precisam ser preenchidas pelo público/leitor da peça, que encontra no plano da realidade, e também em certas indagações ou correções de Clessi (mesmo que as falas desta sejam fruto da própria consciência da protagonista), momentos de alguma lucidez.