Questão
Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG
2019
Fase Única
SOMATORIA-obras433e44f06c5
Discursiva
(SOMATÓRIA)

A respeito das obras literárias abaixo, assinale o que for correto.

01) Sonetos e outros poemas, de Manuel du Bocage, comporta uma ampla variedade de formas poéticas praticadas pelo autor português, que vão desde a forma que o consagrou, o soneto, às odes, canções e elegias. Elmano Sadino, pseudônimo árcade do poeta, surge como eu-lírico que canta, em ambiência pastoril, seus amores por várias musas: Marília, Anarda, Gertrúria entre outras. Percebe-se, na leitura de tais poemas, que a dor amorosa vai se convertendo em dor existencial, tornando mais complexa e mórbida sua poesia, como se percebe neste trecho: “Aqueles campos, aprazíveis campos,/ Que além verdejam, de meu mal souberam/. A desgraçada, mas suave origem:/ Ali de uns olhos os meus ais nasceram;/ Ali de um meigo, encantador sorriso,/ Que arremeda o sereno paraíso,/ Brotaram mil infernos, que me afligem,/ Que as entranhas me abrasam,/ Que meus olhos de lágrimas arrasam” (BOCAGE, 1994, p.32).

02) Percebe-se, na poética de Bocage, elementos das formas árcades (mitologia greco-latina, pastoralismo etc.) aliados a um pessimismo, a uma especulação mórbida e trágica da existência humana. Um poema que ilustra a tensão existencial representada na poética de Bocage é o soneto abaixo, todo com versos decassílabos:

Já Bocage não sou!... À cova escura 
Meu estro vai parar desfeito em vento... 
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento 
Leve me torne sempre a terra dura:

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento; 
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria 
Brade em alto pregão à mocidade, 
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia, 
Rasga meus versos, crê na eternidade! 

(BOCAGE, 1994, p.25).

04) A vitória das figuras religiosas católicas sobre as entidades malignas indígenas, conflito que se desenvolve até os momentos finais, é o tema central do Auto de Anchieta. Em função do horror causado pela punição a tais entidades, nos momentos finais o Temor de Deus como que conclama o público (indígena) a abandonar os costumes pecaminosos e a buscar a conversão: “O inferno/ com o seu fogo sempiterno,/ Já te espera,/ se não segues a bandeira/ da cruz,/ sobre a qual morreu Jesus/ para que tua morte morra”.

08) Auto de São Lourenço, do Padre José de Anchieta, é obra teatral jesuítica composta tendo como finalidade principal a conversão dos índios. Estruturada em cinco atos, a obra demonstra como, para atingir a finalidade buscada, Anchieta se apropria da cultura indígena (nomes, costumes, ambiente etc.) para desconstruí-la desde dentro. Prova disso é que as entidades demoníacas possuem nomes indígenas (Guaixará, Aimberê e Saravaia), resultando em uma natural aversão da parte do público.