A respeito das obras literárias abaixo, assinale o que for correto.

01) O Cortiço, de Aluísio Azevedo, romance representativo do Naturalismo no Brasil, possui uma gama extensa de personagens, os quais têm suas dimensões psicológicas inteiramente desveladas durante o romance. A crítica literária canônica estabelece que o grande personagem deste romance é o próprio cortiço, como se o espaço reinasse como mais importante, daí as muitas antropomorfizações das instalações apresentadas, como no conhecido trecho que encerra o primeiro capítulo: “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco” (AZEVEDO, 2012, p.29).

02) Sabe-se que a escola naturalista, enquanto aprofundamento do Realismo, tem como um dos seus postulados a negação crítica do movimento que o antecedeu, a saber: o Romantismo. Deste modo, um tópico como o ufanismo nacionalista – caro a certos românticos – não cabe no romance de Azevedo. Um trecho exemplar desta negação (o culto à natureza brasileira) se encontra na figura trágica da portuguesa Piedade, que, após ser abandonada por Jerônimo, amaldiçoa o “sol crapuloso” brasileiro nesses termos: “E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa terra cansada [...] Sim, lá os campos eram frios e melancólicos, de um verde aloirado e quieto, e não ardentes e esmeraldinos: e afogados em tanto sol e em tanto perfume como os deste inferno, onde em cada folha que se pisa há debaixo um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e em cada moscardo que adeja há um vírus de lascívia” (AZEVEDO, 2012, p.171).

04) Melhores Poemas, de Castro Alves, nosso maior poeta condoreiro, compila um amplo repertório de poemas, nos quais se verificam várias facetas do Poeta dos Escravos. Sempre com um cuidado técnico extremado, encontramos poemas soturnos e mesmo fúnebres, como é o caso de “Mocidade e morte”, em que a expectativa da morte ainda na juventude, tema caro ao Romantismo, é evidenciado. A seleção de poemas inclui também a faceta crítica e que demonstra o engajamento social do poeta, como é o caso de “Ahasverus e o gênio”.

08) “Navio Negreiro” e “Vozes d’África” são os dois poemas abolicionistas mais famosos de Castro Alves. O último é como que um lamento revoltoso do próprio continente africano, em que a comparação com os demais continentes resulta em murmúrio contra Deus: “Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada/ Em meio das areias esgarrada,/ Perdida marcho em vão!” (ALVES, 2003, p.102). Já em “Navio Negreiro” temos, em seis partes com métricas variadas, a aproximação, descrição e revolta de um eu-lírico diante das atrocidades de um Navio Negreiro. Célebre é a 4.ª parte do poema, em que a descrição dantesca é de um refinamento estilístico ímpar, pois a harmonia imitativa (os urros, as chicotadas etc.) é evidente: “Se o velho arqueja... se no chão resvala,/ Ouvem-se gritos... o chicote estala./ E voam mais e mais...” (ALVES, 2003, p.95).