(SOMATORIA)
Sobre o poema de Gregório de Matos, assinale o que for correto.
“Queixa-se o poeta em que o mundo vai errado, e querendo emendá-lo o tem por empresa dificultosa”
SONETO
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir, que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo o mar de enganos
Ser louco cos demais, que ser sisudo.
(MATOS, G. de. Antologia. Seleção e notas de Higino Barros. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 107).
Vocabulário:
ornada: colocada em ordem, adornada, enfeitada.
engenho: faculdade inventiva, talento, habilidade, sutileza.
insano: insensato, demente.
varão: homem adulto, homem respeitável.
sisudo: sério, grave, sensato, moderado.
01) O eu lírico condena a vaidade e a hipocrisia da aristocracia e da classe política baiana da época do Brasil Colônia por meio de uma crítica mordaz. Como reparação, sugere o pastoralismo, o locus amoenus e o inutilia truncat, orientações máximas do Barroco.
02) A temática remete para o desconcerto do mundo. O eu lírico expressa sua preocupação acerca da sociedade por meio de ironia e de crítica social de caráter satírico, expressando seu aborrecimento contra os “insanos”, desprovidos de conhecimento e de discernimento.
04) O poema apresenta o contraste entre o eu lírico e a sociedade. Andando por caminhos incomuns, entre os quais se pode considerar a própria poesia satírica, o eu aumenta, metaforicamente, seu próprio peso. As inversões sintáticas, como no verso “Carregado de mim ando no mundo”, confirmam o conflito instaurado no texto.
08) O eu lírico defende a ideia de que é preciso ser sisudo em um mundo onde predominam os loucos, e escolhe, por livre vontade, envolver-se no modo de pensar e agir mundano, como atestam os versos “O remédio será seguir o imundo / Caminho, onde dos mais vejo as pisadas”.
16) Escrito em linguagem culta, usando versos decassílabos (a medida nova), rimas interpoladas e figuras como metáforas e hipérbatos, além de encadeamento (como nos versos um e dois da segunda estrofe), o soneto reforça, na forma, a turbulência e o contraste entre o eu e a sociedade.