Assinale o que for correto sobre o poema a seguir e sobre Augusto dos Anjos, seu autor. 

– As árvores, meu filho, não têm alma! 

E esta árvore me serve de empecilho... 

É preciso cortá-la, pois, meu filho, 

Para que eu tenha uma velhice calma! 

Meu pai, por que sua ira não se acalma?! 

Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?! 

Deus pôs almas nos cedros... no junquilho... 

Esta árvore, meu pai, possui minh’alma!... 

– Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa: 

“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!” 

E quando a árvore, olhando a pátria serra, 

Caiu aos golpes do machado bronco, 

O moço triste se abraçou com o tronco 

E nunca mais se levantou da terra! 

(ANJOS, A. dos. Eu e outras poesias. São Paulo: Martin Claret. 2002, p. 97) 

01) No poema, opondo-se ao recorrente pessimismo presente em sua poesia, Augusto dos Anjos aborda como tema a empatia. Nesse sentido, nota-se que a relação entre pai e filho não é abalada pela ação paterna de cortar a árvore, uma vez que, mesmo discordando da atitude que lhe causa dor, o filho compreende passivamente a necessidade do pai, respeitando a hierarquia familiar, valor fundamental para ambos. 

02) O poema evidencia a diferença de perspectivas entre pai e filho no que diz respeito ao modo como percebem o meio natural e interagem com ele. Divergindo do pai, o filho percebe a integração da vida na inter-relação entre os elementos humanos e naturais. Esse é o motivo pelo qual a morte da árvore lhe causa intensa dor, conforme representado metaforicamente nos versos finais do poema. 

04) Os efeitos sensoriais sonoros construídos no texto evidenciam a habilidade poética de Augusto dos Anjos. Além da sonoridade construída pela cadência rítmica dos versos e pelas rimas, merece destaque a relação simbólica estabelecida pelos sons /br/ e /tr/, nas palavras “bronco” e “tronco”, que remetem aos sons dos golpes do machado cortando a árvore. 

08) O poema é um soneto, forma tradicional estruturada por dois quartetos e dois tercetos; seus versos são quase todos regulares, a maioria dos quais é classificada como decassílabos. As rimas, com relação à disposição gráfica, seguem o esquema ABBA, nos quartetos, e CCD EDE, nos tercetos. 

16) O poema demonstra grande habilidade poética e postura inovadora que rompem com o padrão clássico tradicional, pois nem todos os versos possuem métrica regular. As rimas também não seguem um padrão. A busca pela liberdade formal é um traço característico da poesia de Augusto dos Anjos, motivo pelo qual ele é um precursor do Modernismo.