(SOMATÓRIA)
A respeito do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, assinale o que for correto.
01) Um dos tópicos mais analisados em Vidas Secas é a questão da linguagem e seus desdobramentos na identidade humana. A título de exemplo, no capítulo “Inverno”, temos uma tentativa de diálogo: “Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro [...] Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto” (RAMOS, 2018, p.31). É bem verdade, esta “deficiência” de que trata o narrador só afeta a dinâmica familiar, não impedindo que o trato social ocorra.
02) O primeiro capítulo, “Mudança”, e o último, “Fuga”, como que abrem e fecham um ciclo interminável nos quais praticamente as mesmas expectativas positivas são relatadas pelo narrador. Nos momentos finais do capítulo inicial, diz o narrador: “Uma ressurreição. As cores da saúde voltariam à cara triste de sinhá Vitória” (RAMOS, 2018, p.39). Já nas derradeiras páginas do romance temos: “Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era” (RAMOS, 2018, p.244). Sob esse aspecto, infere-se que o que move essa família retirante é o desejo utópico, a redenção que lhes aguardaria no futuro.
04) O Menino Mais Velho, na comparação com os demais membros da família, é o mais especulativo, o que possui uma maior inclinação para o pensamento abstrato. Sinais disso são encontrados no capítulo com seu nome, em que a palavra “inferno” é o grande tópico reflexivo do menino. Do mesmo modo, ao invés de contar nos dedos o número de estrelas, como o faz Fabiano, o menino se pergunta: “Como era possível haver estrelas na terra?” (RAMOS, 2018, p.118).
08) Como forma de amenização do sofrimento ocasionado pela seca, a religiosidade surge de modo consolador e esperançoso para Fabiano e família. No capítulo “Festa”, embora a família tenha grandes dificuldades para chegar à cidade e de convívio social, a Festa de Natal simboliza a fé dos retirantes, verificada em outros momentos do romance: “Não poderia assistir à novena calçado em alpercatas, a camisa de algodão aberta, mostrando o peito cabeludo. Seria desrespeito” (RAMOS, 2018, p.147).
16) No início do romance, Fabiano, após fustigar um dos filhos com a bainha da faca de ponta, insiste para que o menino se levante e prossiga a viagem: “-Anda excomungado. O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo” (RAMOS, 2018, p.28). Embora isso ocorra nas primeiras páginas, e em que pese o fato de Fabiano ser moralmente nobre, o desejo infanticida por motivações financeiras surge em outros momentos do romance, tamanho é o desespero do protagonista.