SOMATÓRIA
Assinale o que for correto sobre Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
01) “Óbito do autor”, o primeiro capítulo do livro, é carregado de binarismos: princípio/fim; nascimento/morte; autor defunto/defunto autor; o que mostra o caráter contraditório do narrador. Essas dicotomias também servem para criticar a maneira como, tradicionalmente, estruturavam-se as narrativas de memória.
02) O descaramento do narrador não tem limites, chega a comparar sua história à do Pentateuco. A diferença entre as duas narrativas está no fato de que, nas Memórias, a morte aparece no “introito” e, no livro bíblico, no “cabo”. Essa atitude do narrador revela o desrespeito do “defunto autor” para com o texto da Bíblia. A diferença entre as duas histórias está no modo como cada uma se inicia.
04) O narrador afirma que partiu para o undiscovered country, de Hamlet, “sem as dúvidas do moço príncipe” (ASSIS, 2012, p. 24), mostrando o lado teatral de sua morte, como se estivesse em um palco. Decorre dessa intenção a presença de alguns termos do gênero dramático que permeiam essa parte do capítulo: “espetáculo” e “tragédia”. Além disso, a idade de Brás Cubas também o coloca do lado oposto da vida de Hamlet. Este, jovem; aquele, velho e portanto teoricamente sem as dúvidas da juventude.
08) Quando Brás Cubas afirma no texto “Ao Leitor”: “[...] evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas memórias, trabalhadas cá do outro lado do mundo” (ASSIS, 2012, p. 21), e como vemos em outras passagens do capítulo, ele mostra todo seu lado humilde, revelando-se ao leitor alguém que a morte despiu das preocupações do mundo dos vivos e que não mais se importa com o sucesso. Essa atitude do defunto autor, inclusive, está repleta de respeito pelo leitor.
16) A dedicatória “Ao verme / que / primeiro roeu as frias carnes / do meu cadáver / dedico / como saudosa lembrança / estas / memórias póstumas” (ASSIS, 2012, p. 20) insere o romance na tradição dos romances naturalistas, propondo uma análise científica da decomposição do corpo do narrador. Por isso, a escrita do capítulo “O delírio”, que trata dos momentos finais de Brás Cubas, reforça a visão naturalista já indicada na dedicatória, cabendo ao “defunto autor” esmiuçar, do ponto de vista científico, a agonia da morte de um ser humano.